quinta-feira, 20 de maio de 2010

O LUGAR DO FIM DO MUNDO




Foi ontem, ontem mesmo, tarde de uma quarta feira de muito sol, tempo em que o outono já apresenta o memorável cheiro das floradas das mangueiras e a cor das rosas das paineiras espalhadas pelo campo e pelos quintais da cidade. Mas é também tempo de cansaço. E eu saí para espairecer.
Parecia que ia mesmo a um lugar do fim do mundo. Estrada esburacada, marcas da inundação das chuvas... E beleza, muita beleza! Vivo nessa terra há muitos anos e nunca havia me aventurado por aquelas bandas, nunca pensei que o fim do mundo pudesse ser um lugar assim. O propósito da viagem? Ah, simplesmente alcançar o reclame do poeta quando disse que queria uma tarde inteira para vadiar, ou ainda compreender a teologia de Jesus Cristo quando disse “olhai os lírios do campo”. Ou quem sabe, não seria ainda, apenas o que disse um velho pastor: “orar com os olhos abertos, sempre”...
Pois foi nessa caminhada,quando já estávamos nos campos e os bichos corriam e as garças e gaviões (nunca vi tantos em um só lugar) voavam na beira da estrada, que uma surpresa aconteceu. Começou aos poucos, salpicado pelo cerrado de transição, aqui e acolá, até que foram tomando conta de todos os espaços. Um imenso tapete de cor púrpura que margeava a estrada e avançava campo afora. Foi um susto de flores intensamente roxas e meio azuis, talvez lilases ou rosas arroxeadas... Ou uma cor assim. Centenas, milhares delas, um presente de encanto e paixão para uma tarde que queria apenas vadiar.
Enquanto o carro cruzava por aquele espanto de beleza, eu pensava numa canção que fez um pastor que ora de olhos abertos. Sua música diz de poemas a olhos nus, do sol me ensinando a viver os dias que ainda tenho e de ser grato por ser assim, criado para adorar. Já passei por espantos antes. Foi assim com os girassóis, quando também era tempo de cansaço e irritação. Foi assim com as cachoeiras do Mato Grosso, com as décadas que o tempo se esqueceu de contar no cerrado de Goiás, ou com as cajazeiras do Santa Cruz, e tantas outras... O susto é um dom. Porém, acima de tudo, foi assim quando minha alma adorou e encontrou nele sua plenitude de não ser mais vazia. Fiquei assim, assombrado com a beleza primeva da rendição. Jesus Cristo está certo, o poeta e o velho pastor também. Eu, antes de certo ou errado, sou caminhante e grato. Foi ontem, e eu ainda embevecido pela expressão de hoje: “olhai as flores púrpura do campo”.
Por fim, aquele lugar que parece mesmo ser o fim do mundo, bem que pode ser um começo. Reencontrar a alegria da comunhão com Deus, a paz de fazer coisas simples, sabendo que o fruto deles na minha humanidade, não tem preço. Um pedaço mais de plenitude.

Paz para você e que a gente se encontre pelas flores do fim do mundo!

Eliel Eugênio de Morais
Pastor