segunda-feira, 27 de junho de 2011

A Casa da Ponte - Pobre de Mim!...


Se a poesia tivesse forma,
Seria a de pedras sobrepostas numa rua vazia...
Se tivesse mãos,
Seria as de escravos cansados sobrepondo pedras. Se tivesse pernas,
Seria as minhas subindo ladeiras de pedras antigas...
Se tivesse sangue – E quem disse que não tem?
Seria um Rio Vermelho correndo ao pé da serra...
E se tivesse nome?
Aí, seria, porventura, o de Cora ou o meu?
É que o dela sairia às escondidas de um porão secular
Para se debruçar na janela do casarão...
O meu,
Seria só o de uma alma saudosa do que não teve,
Amando o que não viu,
Sentindo o que já partiu...
Se a poesia tivesse morada, seria na casa da ponte...
E se ela fugisse?
Seria pelas ladeiras,
Deitaria a correr pelos becos...
E se quisesse se esconder?
Seria pelos segredos mil,
Dos mil e um casarões,
Becos e berros...
Por dádiva, de mim não se escondeu, nem fugiu,
Revelou-se,
Feriu-me...
Não pude fugir dela, nem quis,
Me rendi somente...
À cada pedra, ela me achou,
Na forma,
Nas mãos que nelas se feriram...
E o ferido, por fim, fui eu,
Na janela do seu casarão,
Na boca molhada do porão,
No transitar da paixão que dançou com as lendas
Na alma de uma velha...
Que pena de mim!
Saltei o baldrame de sua casa,
Toquei sua cama,
Acariciei o fogão onde fez seus doces...
Que pena de mim,
Pois que machucou-me a saudade do que não foi meu...
Ah, se a poesia tivesse um lugar – E deve ter-
Pois lá a vi,
Correu pela ladeira,
Bailou no umbral,
Flertou com minha alma,
Divertiu-se de mim...
E deu-me somente migalhas do que Cora foi...
Pobre de mim!


Eliel Eugênio de Morais
Pastor