sábado, 31 de julho de 2010

Sbre um ou mil dias...

Ganhei uma lembrança de um amigo pastor. Ela veio em forma de música. Ah, quanto tempo eu não a ouvia! E foi no escutar coisas antigas que pude reencontrar outras coisas que deveriam nunca ter sido deixadas de lado. É o caminho da canção dos filhos de Coré no Velho testamento. Desejo falar desse caminho em três pedaços.
O primeiro é o amor e a saudade, coisas de quase todo mundo, e que de lá, vêm numa alma que anela e de uma carne que clama. Que verdade letal é essa, a de admitir que a alma estivera vazia pela ausência da casa Deus e que seu corpo clamava pela ferida que essa solidão lhe causara. Direto assim, sem barganhas ou fissuras. A alma distante da casa suspira por sua falta de significado, e a carne, por sua vez, adoece longe de Deus, consumida na sua própria fugacidade.
O segundo pedaço no traçado dessa lembrança volta-se às duas figuras do texto. Figuras são coisas que os poetas encontram para falar de almas. A primeira delas é o pardal. Ele encontra casa junto dos altares de Deus, ele que, em outros lugares das escrituras, aparece como uma ave solitária no telhado de uma noite fria. Foi o modo como os filhos de Coré encontraram para descrever muitas pessoas. A figura é a da solidão, da inutilidade e do beco sem saída, só que no texto de lá, e na música de cá, esse pardal encontra um ninho junto dos átrios. Então, surge a segunda figura. É que existem outros tipos de pessoas, plenas, leves, como a andorinha, que também aparece em outros escritos, só que como linguagem de leveza e alegria. E ela também achou nos altares do templo um lugar para si e para seus filhotes. Que visão sublime nos dá essas duas figuras acerca da casa de Deus, lugar dos seus altares, refúgio para o aflito e expressão sublime dos leves e plenos, aconchego para um e segurança para o outro. É por isso que o texto começa com a expressão da saudade, porque estava distante, e do vazio, porque estava separado.
Então, fica só mais um pedaço. E ele vem da expressão de uma coisa infinita. Um dia nos átrios do Senhor vale mais que mil dias em qualquer outro lugar. Esse dizer de mil dias quer trazer a idéia de infinitude, visto que a coisa temporal é identidade nossa. É infinito para o tempo e o é também para a alma. Veja só, o escritor quer dizer que um dia do modo de Deus, sob o seu governo, vale mais que mil dias, mais que o infinito dos dias, a meu próprio modo. É que a experiência captura o tempo. Isso significa também uma coisa bem temporal: fazer essa troca da ideologia do meu governo para o governo de Deus, é batalha íntima para a vida inteira. E, para terminar, é isso o que faz a diferença entre o sabor de um ou de mil dias.
Assim, a música veio do passado e o tempo dela é tão presente... As coisas belas são assim, se parecem com as eternas. Quão amáveis são, Senhor, os teus tabernáculos!


Paz para você e a gente se fala pela gratidão das belas músicas e da palavra das escrituras...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 28 de julho de 2010

quarta-feira, 28 de julho de 2010

CONFERÊNCIA MISSIONÁRIA




5a Conferência Anual Renascer
3a Conferência Local
Igreja de Deus no Brasil



03 a 05 de Setembro - 2010
Colorado do Oeste - RO
MISSÕES, ADORAÇÃO E PARTILHA


A MISSÃO DA IGREJA

FOCO ESPECIAL: ÁFRICA E NORDESTE

Participe!












sobre Elvis e Lia - E um pouco de profecia


Nunca antes falei dessa mulher. Lia é seu nome. É mais fácil falar de Raquel, que era bela, amada, leve como uma gazela nas campinas da antiga Harã. Lia, não. Era a mais velha, vesga, deixada de lado, feita esposa de uma marido que queria mais a sua irmã do que a ela. Esse é panorama de uma pessoa, figura de tantas outras, mesmo que muitos milênios já tenham ido embora.
Mas, Lia tinha algo que a bela Raquel não tinha. Lembro que no livro do gênesis o grande patriarca chorou ao conhecer Raquel e que se irou por causa de Lia. Ainda assim, por alguma razão, Deus deu-lhe os filhos que Raquel não tinha. É preciso recosturar o texto para encontrar sua eficácia e segredos. Lia sofria de um amor defeituoso, sofria com seus olhos atravessados, sofria com a preferência do marido pela beleza da outra... Sofria... Porém, aí está o mistério: de seu ventre nasceram Judá e Levi, tribo dos sacerdotes que ministravam nos templos e a tribo dos Reis, os descendentes de Jesus Cristo.
Falei de Lia para lançar um pouco de luz sobre uma palavra afogueada: profecia. Profetizar verdadeiramente é dizer algo do futuro, próximo ou distante, uma coisa que acontecerá ou que já foi, sendo que esse dito vem da boca de Deus. O profeta do Velho testamento viu um vale de ossos secos e ouviu uma pergunta: “Podem viver esses ossos”? E a ordem: “Profetiza sobre eles”. Lia era um osso seco nesse vale. Sozinha, triste e desprezada, mas, de alguma forma efervescente e fatal, a profecia pairou sobre ela.
Quero digladiar com meu pensamento. A profecia, palavra letal de Deus, é investigadora e flamejante, desnuda a santidade, labuta com o amor, arranca os chafurdados no sono da superficialidade e do legalismo. Um cantor popular, talvez o maior deles, disse numa de suas músicas que gostava de estar na terra do algodão e que seus velhos tempos não seriam esquecidos. Ele mesmo canta: “Na terra onde nasci, em uma manhã gelada, olhe longe... Glória, aleluia, vencendo vem Jesus... Aquiete-se querida, não chore, você sabe que seu pai vai morrer... Minhas tristezas, Senhor, logo acabarão”... Ele sofria. São palavras de Elvis Presley. Dizem que ele, como a Lia de Harã, cantava essas músicas nos momentos de dor e que foram elas que o levaram de volta para casa. Até hoje não sei o que quiseram dizer com a expressão “de volta para casa”. Penso que pode ter sido só música, nada mais, ou, quem sabe, a força de uma palavra profética flamejante no meio do charco de podridão no qual vivia. Podia Elvis viver? Eis a pergunta ao profeta, afinal, não era ele um osso seco no vale? Uma coisa só a mais, é que ele também disse, como um osso no vale do deserto: “Sublime graça, fui achado, estava cego, mas agora vejo. Não diga onde posso ir sem ser para o Senhor”.
Por fim, Elvis e Lia, foram a mesma coisa. Ela, eu sei que a profecia adentrou sua intimidade, a arrancou de si mesma e, por isso, foi mãe de sacerdotes e reis. Ele, sei apenas da dor que deixou em palavras como as citadas aqui, não temos a história das escrituras a nos contar nada mais. Assim, se foram palavras verdadeiramente proféticas, nunca saberemos, só Deus terá para si esse segredo.

Paz para você e a gente se encontra pelas profecias dos filhos de Deus...


Eliel Eugênio de Morais
Pastor

Colorado do Oeste, 28 de julho de 2010.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

UMA DERROTA DE REQUENGAR CUSCO



Dizem que futebol é coisa para se gostar, não para filosofar. Eu vi o sonho na imaginação de muita gente. Andei pela cidade antes do fatídico encontro com os holandeses e andei depois. Quanta diferença! Nada poderia unir e fazer vibrar um povo daquela maneira, e depois, logo depois, silenciá-lo. Eu, que senti a paixão de perder, visto que paixão é contusão da alma, me pus a pensar no futebol, em coisas que sempre soube, mas que somente agora parei para dissecar. Então separei três pedaços e partilho o sabor deles assim.
O primeiro pedaço é a perda. Foi mesmo uma derrota de requengar cusco. Minha pequena derramou-se num choro comovido no instante mesmo do gol alaranjado da Holanda. Depois, à noite, quando andávamos pela rua, ela disse que foi a primeira vez que havia chorado por causa do futebol, e perguntou: “Isso vai se repetir”? Então, não é que o futebol tem algo sério a nos dizer com isso? Aprender a sentir as derrotas, até porque todos, sem exceção alguma, irão experimentá-la, porém, como dizia o locutor, “é só um jogo de futebol”. Mas tem a transliteração. A vida tem perdas mais sérias e reais. Pessoas se vão, fortunas se perdem, amores são partidos... E a alma é vítima de tudo isso. Lidar com a perda é mais pedagógico que usufruir a alegria de vencer. Ninguém vence sempre. Esse é o primeiro pedaço.
O segundo é irônico e é cruel. Pus-me a ver argentinos e brasileiros num duelo de quem faz maior a dor do outro. Lembrei-me da infância e dos fogões a lenha, tinha aqueles cães sarnentos no borraio do fogão, deitados na cinza e mordendo a ferida um do outro. Que figura cruel do ser humano. Muitos estão assim, fora do campo de futebol, como o argentino e o brasileiro, camuflando a própria dor, na esperança de que a dor do outro seja maior, e que isso, de alguma forma, amenize seus próprios flagelos. Que miséria, que tristeza! E pensar que isso se repete dia após dia, por meses, anos... Eu disse que esse pedaço era cruel, mas é real, porque tem gente comendo a dor alheia como se isso fosse paliativo para a sua.
Chegamos então ao terceiro pedaço. Talvez o futebol não seja mesmo coisa para filosofar, porém, é apaixonante e, onde tem paixão, a alma está envolvida. Penso no seguinte: vi as pessoas na rua em um sentimento ímpar de brasilidade, como nenhuma outra coisa podia produzir. Se isso é bom ou mal, não é a questão. A questão é pensar que coisas mais sérias não provocam o mesmo envolvimento e interesse. Perder a copa não altera nada no país, mas a perda de valores, dinheiro, escola e religiosidade, sim. Veja só, eu sei de pessoas que vestiram amarelo e choraram a dor da derrota porque são brasileiros, porém, descarregam os esgotos de suas casas nos igarapés da cidade e não sentem nada por isso, aliás, ainda falam de “patriotismo”. Há líderes políticos que surrupiam os cofres públicos, desviam dinheiro da saúde, há pessoas que dirigem na contra mão, furtam, subornam, fofocam, são irresponsáveis com a educação e com a religião, mas vestem a camisa amarela e choram a dor de uma partida de futebol. Quanta miséria, quanto engano e hipocrisia. Futebol é só uma paixão, não cidadania. Fico pensando se é verdade que isso não é mesmo uma coisa para se filosofar. Se pelo menos entendessem que se interessar pelo país está um pouco além das quatro linhas.
Ah... Só para terminar, é que eu fiquei mesmo perdido como cusco em procissão, depois do jogo. Que dor ingrata, que descompensação, mas foi só uma paixão cigana, nada mais. Nada contra o futebol, tudo contra a cegueira.

Paz para você e a gente se encontra pelos campos de camisa amarela...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 05 de Julho de 2010.