quarta-feira, 2 de novembro de 2011

VENTOS RECENTES






Recentemente estive num seminário da Universidade Federal de Rondônia para escutar sobre livros e leitores. Saí de lá como o vento em movimento para parir beleza. Não é isso o que dizem dos poetas, que eles desandam a dar a luz ao belo? Que poetas? Que beleza? Pois lá ouvi, não me lembra de quem, uma frase simples, porém, como toda coisa simples, carregada de um humor poderoso contra aquilo que tem sido abortado em nome da beleza, mas que está, incuravelmente, marcado pelo estupro da mediocridade: “Gostaria que o sertanejo universitário se formasse logo e viajasse de férias para longe daqui”. Acrescento eu, quem sabe, para alívio nosso, nunca mais voltar...



Pois a sentença é bem esta. Volto ao recentemente, pois que também adquiri um aparelho de som, desses singelos que o orçamento de um escritor que nunca vende livros, permite. Então sentei-me, fone nos ouvidos, a escutar Bach, Logos e outras belezas. Minha alma assustou-se: “Há quanto tempo não separava um instante para me sentar ante a beleza”?... Minhas músicas! A questão recente é pensar porque nos rendemos a toda sorte de asneiras e lidamos com elas como se fossem normais? É normal à nossa alma se alimentar de comida de porcos? Pergunta as escrituras. Permita-me um passo a mais no que é recente. Fui ao templo de manhã, abri as escrituras com a intenção de ficar um tempo com ela, sozinho, telefone desligado, sem sons externos... E minha pobre alma assustou-se de novo e cochichou para si mesma: “Pensei que tivesse esquecido disso... Sua espiritualidade! É claro, eu já tinha feito isso antes, porém, os deveres necessários, insistentes e irritantes, desgastaram o que tinha de melhor: a beleza, coisa parecida com a infeliz mulher samaritana que vai ao poço tirar água sem se dar conta de que um rio podia fluir dentro dela.



Isso são ventos recentes, porém, perenes. Sei que o medíocre, tendência crônica de todos nós, tem o seu lugar, talvez sua maior glória seja tão somente realçar o belo. Quando aquele se acha inquilino, este é banido. O recente às vezes, se ressente. Então, ponho-me pasmo. Se o sertanejo universitário é isso, o que e ele será quando pós-graduar? O que me pasma é essa dorida percepção de que essa corja de mediocridades está batendo à porta dos templos. Vez por outra adentram nossas liturgias, vêm com nomes outros, distribuem lágrimas e determinações e mediocralizam o que poderia ser pleno, lançando o pretenso adorador numa bacia oca de subornos espirituais. É assim, pois a vulgaridade é a mesma. O medíocre emburrece seu hospedeiro, seja ele universitário ou religioso.



Então, finalizo esse farfalhar do vento... É preciso que se beba algum antídoto contra esse arquétipo. Fui a um seminário escutar belezas, comprei um som para deitar meus ouvidos à música, sentei-me sozinho, vencido pelas escrituras... Tomo por fim, emprestada, a palavra de um antigo livro: “Só o que é belo merece viver”.




Eliel Eugênio de Morais


Pastor