sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

RETIRO SAUDÁVEL E CRESCENTE - 2010



CONTEÚDO


Um Evento Inesquecível...


Um Lugar Incomparável...


Uma Presença Imensurável...


Uma unção Inegociável!





Foi tudo isso e um pouco mais. O Espírito Santo fez das palavras e da música uma colcha de retalhos, pedaços que curaram nossas almas e nos deixaram assustados com sua beleza e amor. Muita coisa ainda virá. E o que virá dele que não possamos amar e desejar?
Saudável e Crescente, sempre!

PRODAF - 2010


A Missão Renascer viajará em Março de 2010. Será de 05 a 15 em Goiânia - GO. O propósito é a divulgação do Ministério Anastásis.

O projeto do Anastásis está indo de vento em popa... Entre em contato conosco e conheça mais deste ministério precioso.

O Anastásis visa adolescentes e mulheres em situação de risco. Trabalhamos com casa feminina de recuperação e hospital dia para adolescentes.

Conheça, participe, ore!

A MISSÃO RENASCER ESTARÁ EM GOIÂNIA ENTRE 05 E 15 DE MARÇO DE 2010

Pr Eliel E. Morais - Presidente da Missão

Pra Tainá Marques - Diretora da base em Cerejeiras

Missionária Mara Célia - Diretora do Anastásis

Pr Luis Fernando - Diretor da base em Pimenteiras

O PICO DO MUNDO


Considerando a dor e a alegria

Dor e alegria vivem simultaneamente no ser humano. São moradores da alma, são parentes, quase gêmeos, porque, surpreendentemente, nascem todos os dias da mesma fonte, estão ligados à presença de uma coisa ou à ausência dela. Alegria nasce da presença de Deus e de pessoas, e a dor, da ausência, principalmente, de Deus. É verdade que muitas dessas dores se reportam ao corpo e outras são abstratas. Difícil é ponderar qual dessas partituras é mais difícil. Qual é mais doloroso, a falta de comida ou a fome da alma? Qual é mais custoso, a dor de uma fratura óssea ou a dor das quebraduras do espírito? Qual é mais complexo, a solidão de pessoas ou a falta de significado diante de Deus? E assim vai... Essas parábolas não têm fim. Se, para a maioria é difícil demais lidar com as dores físicas, que complexo então seria lidar com as abstratas! O humano é assim, e o mais revelador de tudo é que cada uma dessas coisas estão relacionadas a outra pessoa e a Deus. E a cura delas também. Como pudemos cerrar os olhos para algo tão elementar e, ao mesmo tempo, tão essencial? Como não pudemos enxergar que as curas que mais almejamos se resolveriam com beijos e adoração?
Ao escrever esta crônica, estou pensando em Clara e no encontro que teve com Francisco de Assis. Talvez muitas pessoas estejam como ele. Francisco foi ao pico do mundo, olhou em todas as direções e estava só. Que importa se a solidão vazou a alma de um homem há oito séculos? Que me importa agora se a presença de Clara foi o bálsamo que devolveu ao mundo uma personalidade tão intrigante com a de Francisco de Assis? Importa que ele estava só, ferido, como um animal, abatido. Importa que oito séculos se passaram e a grandeza da alma de Clara em suas palavras ainda cura. Era nisso que pensava quando iniciei este texto. Há pessoas que estão como Francisco e Deus as ama, como Clara amou o amigo solitário no pico do mundo.
Tento ser grande ao encerrar esta breve fala. Clara foi grande ao não expor as fraquezas e tentações de Francisco. Também isso me é um grande paradoxo. Como poderia eu ser grande como Clara foi? E a única coisa que muitos se lembram é fazê-la santa, algo tão distante da exuberante imperfeição dela. Explico-me. É que aquele bálsamo precioso, o que não tem mesmo preço, está posto diante de nós. Ele nasce todos os dias, é humano e é divino. É humano em almas singulares, imperfeitas e amantes, como Clara. Mas é também divino, por isso, salutar, na pessoa de Jesus Cristo, caçador das almas cansadas e abatidas, ele, o Senhor que procurou o caminho mais humano para lidar com nossas dores, sejam elas físicas ou abstratas. Ele tem um ungüento peculiar e íntimo chamado presença. Isso é alegria!

Paz e a gente se encontra pelos picos da alma humana...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

SOBRE UMA MÚSICA DE PROCISSÃO




O texto se refere a uma música feita para as procissões ao templo e deveria ser cantada na subida dos degraus da entrada. Há quanto tempo foi isso? Aproximadamente vinte e cinco séculos. Quanto tempo? Sorte nossa que a beleza e a verdade não se esvaem com a nossa cronologia. Sua medida de tempo não é a mesma da nossa vida fugaz.
E o compositor, que já se perdeu na ávida cronologia, disse que elevou seus olhos para as montanhas e perguntou: “de onde me virá o socorro”? Eu olho para mim mesmo, tantos séculos após e indo embora na mesma avidez do tempo, e me pergunto: socorrer-me de que? E a resposta se parece com um predador dançando no meu bolso vazio. Compreendo que essa resposta aponta em três direções. A primeira são os outros. Estou envolvido com outras pessoas. E elas também perguntam de onde lhes virá o socorro. É a fascinante, incontestável e machucadora teia dos relacionamentos. São eles que irão nos derrubar ou nos levantar. A segunda direção é dolorosa, mas pode ser também libertadora. Refiro-me à palavra pecado. Que palavra! É que ela é uma enfermidade daquilo que é legitimo, e muitos de nós estamos presos nessa doença pensando que ela é legitima. O problema é que ela, trapaceira que é, tem, independente de seus múltiplos sabores, um salário infalível: a morte da alma. Peado é aquilo que adoeceu uma coisa que era legitima. Veja isso. A cobiça é a doença do ter, o ciúme a putrefação do amor, a prostituição, seja ela física ou abstrata, é a fratura da integridade, o adultério é a corrosão da fidelidade, e tantas outras coisas... Não importa o que diga a sociedade ou as filosofias e ismos pós modernos, a enfermidade do legitimo não é mera escolha, é doença de alma e conduz à morte das coisas plenas: alegria, amor, adoração, convivência humana. A última direção que aponta a pergunta é para mim mesmo. Eu sou incuravelmente imperfeito e incompleto. E são esses pedaços de imperfeição que fazem da pessoa humana alguém tão impar e carente do socorro. E de onde ele virá? Quem me ajudará nas relações penosas, quem me poderá fazer sábio e puro diante da consistente e insistente arapuca do pecado? Quem me poderá conduzir diante dos reais pedaços imperfeitos de mim mesmo?
Aí vem o cântico da procissão nos degraus do templo. O meu socorro vem do senhor! Será possível um Deus que se interessa por essas coisas tão humanas? Pois o cântico ainda acrescenta: não deixará vacilar o teu pé, não serás molestado com o sol do dia e nem com a fadiga de alma na solidão da noite. É uma procura. Custosa, eu sei. Mas venturosa. Navega por onde é mais custoso ao ser humano: alma e corpo. Porém, se quer o que é legitimo, se quer uma alma saudável e um corpo livre, de onde virá o auxilio?
Pense nisso e busque na palavra o caminho que é mais venturoso. O texto é o salmo 121.

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

SOBRE DOR E ESPERANÇA





O texto remonta a um antigo profeta do velho testamento, conhecido como o profeta do choro. E porque esse codinome? Porque chorou por seu povo, comparou seus olhos como uma cachoeira, disse que na calada da noite não encontrou o sono, que seu corpo doía e sua alma não mais podia achar descanso...
Isso acontecia porque viu a aflição e ela, por mais temporal que fosse, o fez andar por trevas medonhas. E sua carne envelheceu. Aí o profeta lança mão de três figuras para descrever sua dor. A primeira delas é um muro. Viu-se cercado por um muro que não podia atravessar e isso agravou as correntes que lhe prendiam. A segunda imagem é a de um urso de emboscada. O profeta foi sua vítima e seus ossos quebrados foram deixados na solidão. A terceira parábola foi a do arco e da flecha. E aí também, sua alma foi alvo. A flecha penetrou-lhe o coração e ele se viu farto de amargura e veneno... Tanta coisa, e o velho homem ainda se refere ao pranto por si mesmo e por sua família.
Porém, uma coisa acontece no último degrau de sua dor. É que ele olha o passado e diz que, certamente, se lembra das razões de tudo isso. Entretanto, ele vê outra coisa e a ela se apega: o futuro! “Quero trazer à memória aquilo que me dá esperança”. Que encruzilhada, que escolha extraordinária. De um lado, o passado e seus motivos, e ele podia ficar ali remoendo suas figuras de dor, fazendo jus a seu codinome. Por outro lado, uma fresta de luz e a decisão de buscar na memória uma razão para ter esperança.
E qual foi essa razão? Pura e simplesmente a palavra misericórdia. A situação do profeta, de sua família e nação, era mesmo deplorável. Por isso se reconhece as misericórdias, no plural mesmo, como a causa de não sermos consumidos. E, por causa dessa palavra, o texto muda e suas figuras também. Fala de manhãs iluminadas, de cálices cheios. porém, ainda assim, lança mão de uma pergunta cortante: de que lamentam as pessoas? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados... Mas desça o rosto ao pó, prostre-se diante de Deus... Talvez ainda haja esperança. O profeta a encontrou florescendo no conceito da misericórdia, que é, simplesmente, não ser tratado como realmente merecia. Sei que aí se esconde um dos maiores e belos mistérios do imensurável amor de Deus.
É claro que a história e as figuras deste velho homem são uma paráfrase de nós mesmos. Aquele tempo são nossos dias e aquela geração são nossas pessoas. Então, o conselho não podia ser diferente do mesmo de lá: ”quero trazer à memória aquilo que me dá esperança”. E o que é? Também não é diferente. Não se deixe iludir. A mesma coisa que curou a alma do profeta, cura a nossa hoje.
Paz e a gente se encontra pelas misericórdias do Senhor que se renovam toda manhã.
Eliel Eugênio de Morais
Pastor

SOBRE UMA COISA QUE ME CANSA




Ainda não sou velho. Aliás, essa possibilidade me assusta. Porém, estou cansado. O que me cansa não são as horas de trabalho ou as longas semanas de estudo. O trabalho é bom e seu cansaço tem remédio. O estudo é uma doce condenação, uma preciosa fome dessa minha insistente alma incompleta. O meu cansaço vem do som e, para esse, ainda não encontrei paliativos.
Está em todos os cerimoniais, todas as reuniões de família, todos os encontros, sejam eles nos templos ou fora deles, sejam em reuniões religiosas, solenes, informais ou profanas. Ele sempre está lá. O barulho reina absoluto, é governante tirano. Parece-me que as pessoas não podem mais conversar, estar umas com as outras sem serem levadas pelo barulho excessivo. E o que mais fere é a qualidade dessa bulha. É uma apologia à bebedeira, à vulgarização do sexo, da grosseria e, me perdoem a parca palavra, à idiotice. É uma enxurrada de superficialidade e um insulto às nossas almas. Almas? É que no meio da zoeira que me cansa as vejo. Elas estão lá, cada vez mais como descritas há vinte séculos por Jesus de Nazaré: cansadas, aflitas, perdidas, como ovelhas que não tem pastor. Mas, quem vê? A zoeira não nos permite escutar o silêncio do outro. E os ouvidos se esquecem que não existe relação plena que não brote do silêncio e do tempo. Permitam-me uma vez mais. É no tempo e no silêncio que se escreve histórias, e é por isso que nunca se viu tanta gente junta e tantas almas solitárias. E elas teriam histórias para contar, porém, a bulha não se permite a isso. A alma necessita, mas a bulha dá o som, o movimento e, com elas, a relação artificial, aquela que jamais sobreviverá ao tempo. Então, cansada e aflita, a alma vai se alimentar de outra bulha. E mais outra. Depois outra... Até quando?
É isso que me cansa. Repito: isso ocorre dentro e fora dos templos. Acontece em nome das rodadas e dos louvores. Mas é necessário parar. Eu sei que há um encanto despercebido no que é duradouro. Pensemos numa história: um homem velho, profeta de grandes arroubos e feitos extraordinários. Um dia se achou cansado e temeroso. E o que fez? O que fazem as almas cansadas e temerosas? Escondeu-se numa caverna. Achava-se só e próximo da morte. As ameaças contra ele eram reais. Ele era como as pessoas de hoje. Mil e uma cavernas as pessoas criam para se esconder. Esses buracos têm diversos nomes: depressão, vícios, prostituições e zoeiras. Voltando ao velho profeta e seu esconderijo: Deus ordena que saia. Quero que o leitor preste atenção neste fato simples: três coisas grandes aconteceram. A primeira foi um vento miraculoso que rachou as montanhas e despedaçou as rochas. Que barulho espetacular, e Deus não estava nele! A segunda coisa foi um terremoto... E Deus não estava nele. A terceira foi o fogo... E Deus tão pouco estava nele. Simples assim. Deus conhecia a alma atribulada e o medo daquele velho homem. Só depois de todo o barulho aconteceu o silêncio e uma voz calma e suave. Aí estava Deus!
O que é mister esclarecer é o seguinte: em qual silêncio habitava Deus? É preciso entender que o silêncio era necessário ao profeta. O excesso de sons o confundia. Deus é senhor dos sons, dos terremotos, vendavais e fogos... Porém, a alma humana necessita para si mesma de silêncio e tempo. Foi por isso que Deus esperou tudo passar para encontrar o velho homem quando já não existia nenhuma bulha. Não se engane. Deus não é como a maioria de nós que se deixa levar pelos fogos, vendavais e terremotos. Ele conhece o silêncio intimo de cada um. É por isso que depois de toda a zoeira ele vem pela calada da noite com a mesma pergunta de vinte séculos atrás... “Esta noite pedirão a tua alma, e toda essa zoeira, para quem será”? Deus sempre se referirá ao silêncio de sua alma.

Então, a gente se fala pelos silêncios que nossa alma procura!


Eliel Eugênio de Morais
Pastor

SOBRE UM LIVRO DOLORIDO





Acabo de ler um livro que me deixou dolorido por alguns dias. Sua última frase foi: “O ser humano me assombra”. O autor talvez não saiba, mas esse dito vem de muito tempo. O Rei Davi falou dele: “De um modo assombrosamente maravilhoso fui formado”. Li outro livro, menos dolorido e nem por isso menos reflexivo, em que o autor, longe de ser poeta, disse que somos feitura de Deus. A palavra feitura é poiema, da qual vem o vocábulo poema. O que esse segundo autor quis dizer é que Deus é um escritor e nós somos seus escritos.
Então, falo eu. Escrever é ter sons na alma. A gente escreve sobre aquela falta íntima. O escritor vive da procura. Então, é necessário perguntar: quais sons Deus plantou em nós? Quais os sons da sua alma? O que ele escreveu? A dor humana é a falta dessa escritura? Escrever é diferente de falar. Escrever exige textura, concisão, inclui personagens, trama e movimento. Então, Deus está certo. Somos composição de uma textura única, personagens, tramas e dramas, movimentos...
Isso é um modo de se explicar a alma. Os sons são os gritos lá de dentro, as coisas invisíveis, talvez, marcas incontestáveis da escritura de Deus. Sempre iremos dar na mesma porta: gritamos de amor (ah, que belo e maravilhoso grito!), gritamos de tristezas, de solidão e alegria. Mas tem uma diferença. Os mais plenos, terão gritos ou sussurros de adoração e significado, mesmo os mais humanos deles. Já os mais vazios, uivarão por suas vidas medianas e lamentarão o charco da falta de significado. O escritor do Novo testamento diz que a alma tem cheiro. Aí tem que vir a pergunta outra vez: tem cheiro de quê? Os escritores sagrados falam de um cheiro precioso vindo de verbos como quebrantar-se e render-se e de um odor indesejável nascido de termos como a avareza, idolatria e, talvez, o pior deles: orgulho. Presença de uma coisa e falta de outra.
O escritor do livro dolorido está certo. O ser humano é assombroso. E eu digo que nossas almas têm cheiro e somos mesmo uma composição mais abstrata que concreta. O que assombra é que somos capazes de aromas e histórias preciosas e, instantes depois, entregarmos nossas almas a um charco de lodo e fedor com histórias sangrentas. Isso provoca outras duas perguntas: qual é seu cheiro e qual sua história?
Voltemos à escritura sagrada, que é a maior conselheira das almas errantes e daquelas que já não são tão errantes assim. Deus pegou um mundo sem forma e vazio e deu a ele forma e significado. Isso é beleza. Está no gênesis. Isso é uma figura do Espírito Santo na sua relação com a alma humana. Dizem que só entende um escritor quem o conhece e que não tem pressa de conhecê-lo. É outra figura do tempo de Deus conosco. Ele não será conhecido na pressa e nem em nossas intermináveis reuniões. Dizem também que o trabalho (que doce ocupação!) do poeta á harmonizar palavras. Não é isso o que o espírito Santo faz em nosso interior?Ele harmoniza o que está em desarmonia. É por isso que a dor de organizar esses gritos internos se torna nada diante da beleza final de sua obra.
Por fim, eu digo outra vez, uma página pode ser escrita no sofrimento, outras vezes ela vem da escuridão e muitas delas vêm da solidão. Porém, conhecendo o autor da vida e pensando na figura do cheiro e dos sons da alma, tomo a certeza da escritura sagrada. O fim da cirurgia do Espírito Santo sempre será harmonia e beleza. É isso que ele procura. É por isso que nos escreveu.

Então, a gente se fala pelos escritos que nossa alma procura!


Eliel Eugênio de Morais
Pastor

SOBRE PRESENÇA E TROCAS




Fique vivo
Há tempos ouvi uma palavra sobre troca. Ela me encantou, porém não me assustou. Achei que ninguém faria aquilo. Os anos passaram e aquela palavra se tornou, além de encantadora, assustadora. Naqueles dias ela propunha uma pergunta: o que daremos em troca do tempo de tocar, andar despretensiosamente com quem se ama? O que dar em troca de beijos e abraços? Isso foi numa palestra para educadores. A fala foi concluída com aquela velha frase: “formar uma geração que saiba ter opiniões e não apenas apertar botões”. Essa palestra pressupunha uma coisa inegável do ser humano: sua complexidade de idéias e sentimentos.
Pois eu estava vendo Televisão e entrou na tela um comercial da Vivo (fique vivo). Foi quando a ideologia daquela antiga palestra renasceu. Uma criança pergunta ao pai se é verdade que ele vai embora. Sim, é uma verdade cruel. Porém, ela não precisa se preocupar, ele tem um aparelho. Ah, esse aparelho irá substituir a presença dele! E cita os momentos: na alegria de uma aula de balé, no prazer de um sorvete, na solidão da noite quando o medo assalta a alma da menina... O pai não estará lá, mas tem o aparelho da vivo. E ele liga...
Penso duas coisas. Uma é elementar e a outra é reflexiva. A elementar irá perguntar: não existe ninguém de sensibilidade nessa empresa para perceber a sordidez da ideologia deste comercial? A reflexiva irá lançar mão de uma leitura mais acurada. Vamos dar a mão à palmatória. Não estamos fazendo a mesma coisa com outros nomes? Filhos, maridos, Deus? O que estamos substituindo e com o que? Não será este comercial apenas uma versão celularizada dos nossos valores? É que temos o dom de olhar as pessoas como se fossem aparelhos e não seres com idéias e sentimentos. Ah, e quanto ao comercial? Pois bem, ele tem uma coisa de valor: o momento. É o momento da alegria na dança do balé, o momento prazeroso do sorvete despretensioso e o momento da solidão e medo da noite... Em todos eles a menina está só, substituída a presença por um aparelho. O que daremos em troca da presença nesses momentos? Não se engane, maridos, esposas, filhos e pais, são daquelas coisas que não se resolvem apertando botões. Até porque nunca vi um celular respirar, ter calor para acalentar, aconselhar... Nenhum dói quando erra ou vibra quando acerta. Não existe um corpo sequer que, na dor ou no prazer, se contente com a fria presença de um aparelho, seja ele qual for.
Fique vivo – Não morra na ideologia do comercial. Termino voltando à idéia da antiga palavra. Deus é assim. Pessoas são assim. Quão parco mundo, desprovido de alegria, de dor e amor, é que nos faz pensar que aparelhos e coisas podem substituir beijos e abraços. Só falta criar um que nos ligue diretamente ao céu, para suprir nossa famélica vida de Deus.

Então, a gente se fala pelos discernimentos que nossa alma procura!