sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SOBRE DOR E ESPERANÇA





O texto remonta a um antigo profeta do velho testamento, conhecido como o profeta do choro. E porque esse codinome? Porque chorou por seu povo, comparou seus olhos como uma cachoeira, disse que na calada da noite não encontrou o sono, que seu corpo doía e sua alma não mais podia achar descanso...
Isso acontecia porque viu a aflição e ela, por mais temporal que fosse, o fez andar por trevas medonhas. E sua carne envelheceu. Aí o profeta lança mão de três figuras para descrever sua dor. A primeira delas é um muro. Viu-se cercado por um muro que não podia atravessar e isso agravou as correntes que lhe prendiam. A segunda imagem é a de um urso de emboscada. O profeta foi sua vítima e seus ossos quebrados foram deixados na solidão. A terceira parábola foi a do arco e da flecha. E aí também, sua alma foi alvo. A flecha penetrou-lhe o coração e ele se viu farto de amargura e veneno... Tanta coisa, e o velho homem ainda se refere ao pranto por si mesmo e por sua família.
Porém, uma coisa acontece no último degrau de sua dor. É que ele olha o passado e diz que, certamente, se lembra das razões de tudo isso. Entretanto, ele vê outra coisa e a ela se apega: o futuro! “Quero trazer à memória aquilo que me dá esperança”. Que encruzilhada, que escolha extraordinária. De um lado, o passado e seus motivos, e ele podia ficar ali remoendo suas figuras de dor, fazendo jus a seu codinome. Por outro lado, uma fresta de luz e a decisão de buscar na memória uma razão para ter esperança.
E qual foi essa razão? Pura e simplesmente a palavra misericórdia. A situação do profeta, de sua família e nação, era mesmo deplorável. Por isso se reconhece as misericórdias, no plural mesmo, como a causa de não sermos consumidos. E, por causa dessa palavra, o texto muda e suas figuras também. Fala de manhãs iluminadas, de cálices cheios. porém, ainda assim, lança mão de uma pergunta cortante: de que lamentam as pessoas? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados... Mas desça o rosto ao pó, prostre-se diante de Deus... Talvez ainda haja esperança. O profeta a encontrou florescendo no conceito da misericórdia, que é, simplesmente, não ser tratado como realmente merecia. Sei que aí se esconde um dos maiores e belos mistérios do imensurável amor de Deus.
É claro que a história e as figuras deste velho homem são uma paráfrase de nós mesmos. Aquele tempo são nossos dias e aquela geração são nossas pessoas. Então, o conselho não podia ser diferente do mesmo de lá: ”quero trazer à memória aquilo que me dá esperança”. E o que é? Também não é diferente. Não se deixe iludir. A mesma coisa que curou a alma do profeta, cura a nossa hoje.
Paz e a gente se encontra pelas misericórdias do Senhor que se renovam toda manhã.
Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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