sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O PICO DO MUNDO


Considerando a dor e a alegria

Dor e alegria vivem simultaneamente no ser humano. São moradores da alma, são parentes, quase gêmeos, porque, surpreendentemente, nascem todos os dias da mesma fonte, estão ligados à presença de uma coisa ou à ausência dela. Alegria nasce da presença de Deus e de pessoas, e a dor, da ausência, principalmente, de Deus. É verdade que muitas dessas dores se reportam ao corpo e outras são abstratas. Difícil é ponderar qual dessas partituras é mais difícil. Qual é mais doloroso, a falta de comida ou a fome da alma? Qual é mais custoso, a dor de uma fratura óssea ou a dor das quebraduras do espírito? Qual é mais complexo, a solidão de pessoas ou a falta de significado diante de Deus? E assim vai... Essas parábolas não têm fim. Se, para a maioria é difícil demais lidar com as dores físicas, que complexo então seria lidar com as abstratas! O humano é assim, e o mais revelador de tudo é que cada uma dessas coisas estão relacionadas a outra pessoa e a Deus. E a cura delas também. Como pudemos cerrar os olhos para algo tão elementar e, ao mesmo tempo, tão essencial? Como não pudemos enxergar que as curas que mais almejamos se resolveriam com beijos e adoração?
Ao escrever esta crônica, estou pensando em Clara e no encontro que teve com Francisco de Assis. Talvez muitas pessoas estejam como ele. Francisco foi ao pico do mundo, olhou em todas as direções e estava só. Que importa se a solidão vazou a alma de um homem há oito séculos? Que me importa agora se a presença de Clara foi o bálsamo que devolveu ao mundo uma personalidade tão intrigante com a de Francisco de Assis? Importa que ele estava só, ferido, como um animal, abatido. Importa que oito séculos se passaram e a grandeza da alma de Clara em suas palavras ainda cura. Era nisso que pensava quando iniciei este texto. Há pessoas que estão como Francisco e Deus as ama, como Clara amou o amigo solitário no pico do mundo.
Tento ser grande ao encerrar esta breve fala. Clara foi grande ao não expor as fraquezas e tentações de Francisco. Também isso me é um grande paradoxo. Como poderia eu ser grande como Clara foi? E a única coisa que muitos se lembram é fazê-la santa, algo tão distante da exuberante imperfeição dela. Explico-me. É que aquele bálsamo precioso, o que não tem mesmo preço, está posto diante de nós. Ele nasce todos os dias, é humano e é divino. É humano em almas singulares, imperfeitas e amantes, como Clara. Mas é também divino, por isso, salutar, na pessoa de Jesus Cristo, caçador das almas cansadas e abatidas, ele, o Senhor que procurou o caminho mais humano para lidar com nossas dores, sejam elas físicas ou abstratas. Ele tem um ungüento peculiar e íntimo chamado presença. Isso é alegria!

Paz e a gente se encontra pelos picos da alma humana...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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