terça-feira, 18 de outubro de 2011

DOCE COMO VOCÊ



Manga é doce,
O cacau também,
Tamarindo é azedo,
E o limão,
Nem se fala...
Caju é meio a meio,
Jambo só às vezes...

Meu pai diz que
Gosta de mangaba,
Falou que é
Bem docinha,
E gostosa...
Mas, nenhuma fruta,
Seja a mais doce do mundo,
Não é mais doce que
VOCÊ!


Débora Rafael de Morais

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Quimera Mulher




Uma mulher,

Certamente quimera,
Porém,

É jovem e bela, cabelos tomados de repente pelo vento,
Longos,
Fugazes como sua pretensão.

O que faz ali?

Um tipo impensado de sedução...

E solidão!

É doído e solitário seu andar por entre as rochas,

Devagar,

Não tem outra missão que a de seduzir

Meu pensamento,

Ventar sua solitude para meu encantamento...

Está só ao pé da muralha,

Parce paredes de um convento,

Muros de séculos idos, aproximados nessa mulher,

Nao é freira,

É mulher de paixões, íntima do meu paradoxo, ela...

Do lado de fora do muro, anda,

Exibe-se,

Suplica, como a partilhar ausências...

Sabe que só meus olhos a fitam, posta ali para um só olhar,

E eu queria flertar...

Veste uma blusa escura, meio verde e meio azul,

Ela, indecifrável...

A saia, porém, é branca,

Tingida só de poeira das pedras e do muro,

Do campo...

É bela,

Caçadora,

Expõe-se, avassaladora,

Mortal a mim, pois sou o único que a vê – Presa única!

É inexistente,

Existe somente na imagem que fiz,

Criador, presa da criatura, sucumbido na beleza e dor de lá...

Dito fica,

Sua solidão seduziu minha imaginação,

E, seduzido, sofri...

Ah, o sofrimento!...

Latente nos movimentos dela,

Envolventes na beleza dela,

Peçonha adocicada nos cabelos dela,

A machucar e embelezar a solidão dela...

Ela!

Ela sofre?

Isso tudo, devagar,

Como ela se move na solitude que a define.

Espera alguém?

Ama alguém?

É como o sol caindo para trás do muro numa tarde sem cor,

Nuvem e vento – vagarosos – para enfeitar os cabelos dela...

Sua pele é clara, porém marcada pelo sol incolor,

Leva uma cesta,

Talvez para derramar pétalas de lírios,

Marcar um caminho...

Ela sabe que só minha quimera a vê...

Se assim é, por quê sua solidão me traz contusões?

Freira não é, princesa também não,

Camponesa talvez...

É bela, vagando do lado de fora da muralha,

Não me vê,

Sabe-se vista,

Por entre as rochas

Destila solidão e beleza,

É ela...

Devagar – Não se pode esquecer!



Eliel Eugênio de Morais

Pastor



terça-feira, 4 de outubro de 2011

A História de um Cinto



A história vem de um livro datado de mais de cinco séculos antes de Cristo. É o livro do profeta Jeremias no Velho Testamento, conhecido pelos abundantes recursos de linguagem da poesia e da prosa hebraica do mundo antigo. Neste episódio, o profeta conta a história de um cinto.
Antes, porém, é preciso entender a simbologia do conto em questão: aliança e serviço. Algo semelhante com o que Jesus diria, séculos depois, sobre o “servo útil e fiel” em contraste com o “inútil” que quebrou o compromisso. É preciso também dilatar a palavra “aliança” e “compromisso”, que pode significar, simplesmente, se ater às palavras proferidas num acordo ou proceder de acordo com o combinado.
É nesse contexto que Deus fala ao profeta sobre a cidade de Jerusalém e lhe diz para sair e comprar um cinto novo, depois deveria levá-lo à beira do Rio Eufrates e escondê-lo nas fendas de uma rocha. Depois de muitos dias, a história não especifica quantos, Jeremias é instruído a voltar e retirar de lá o cinto. Porém ele estava roto e inútil e ele conta isso para Deus. Quanta figura e quanta moral há nesse conto!
A figura é vertical e este é um dos motivos do choro de Jeremias diante da sua Jerusalém. O tempo passou, muitos dias, e o cinto tornou-se podre e sem utilidade. Há que se compreender duas coisas. A primeira, é que o profeta toma o cinto e se apresenta com ele na cidade. Quem viu? Quem se ateve a compreender? A segunda é a explicação desse procedimento dada pelo próprio Deus. Ele disse que assim como o cinto está ligado aos lombos do homem, assim ele se liga a toda a casa do seu povo e com a cidade de Jerusalém. Quis o Senhor que eles fossem seu povo, que tivessem um nome, um louvor e uma glória... Porém, os dias foram tantos que fizeram à aliança daquelas pessoas o que o barro do Eufrates fez com o tecido do cinto: compromisso quebrado e vidas inúteis.
A parábola é viva hoje. Os dias são tantos e as lutas parecem tão tenebrosas que se travestem em argila. É necessário parar e refletir no que está apodrecendo o compromisso e a utilidade de nossa vida e, principalmente, de nossa espiritualidade. Posso citar alguns carunchos irrefutáveis: pecados, surdez, insensibilidade (destes Jerusalém foi acusada). Acrescento alguns apodrecimentos particulares do nosso tempo: fissuras de alma por causa do dinheiro e falta das fissuras necessárias ao amor, tempo de má qualidade, depressão e tantos outros... Os dias vêm, um após o outro, disfarçados de areia, e levam para nunca mais o que poderia ter sido pleno.
O profeta termina essa história com um clamor: “Escutai, e inclinai os vossos ouvidos, não vos ensoberbeçais, pois o Senhor falou”. É outra coisa bem parecida com a mencionada palavra de Jesus Cristo, “servo inútil e infiel”, que não se ateve ao compromisso de suas palavras. Afinal, espiritualidade ou religiosidade, só é mesmo útil se tem o procedimento vivo de mudança de alma. Acrescento só mais uma coisa: a história do cinto de Jeremias é uma figura para nos fazer temer e refletir, compromisso quebrado produz vida inútil.
Paz para você e a gente se encontra pelas figuras das Escrituras sagradas...


Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste - RO