segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O QUE DIZEM DELE?


Um pensamento sobre a mentira, a traição e a plenitude da verdade

Dizem que era o mais culto entre os doze, pelo menos o mais ladino deles. Há os que garantem que foi o primeiro a perceber que seu mestre falava de um reino espiritual e não de um levante para devolver, ao oprimido povo judeu, o governo. Existem escritos que contam sua sagacidade, que arriscou três anos de sua vida na esperança de tomar de Roma o poder e dá-lo aos seus. Ele tinha os seus projetos pessoais nesse governo. Dizem muitas coisas dele e algumas são verazes, outras, fruto da imaginação de escritores e roteiristas. Digo eu, sem os livros e os filmes, tomando somente as escrituras como testemunha. É mesmo possível que Judas amasse seu mestre, que, de fato, não acreditasse que a coisa toda acabasse na crucificação. Permito-me suspeitar que ele somente quis recuperar os anos perdidos andando com e por um reino intra e não político.
Tudo é possível. Porém, a escritura, testemunha fiel deste texto, registra três episódios graves e que devem nos trazer à reflexão. O primeiro versa sobre a intelectualidade do traidor. Ele pensa na traição logo após o caso da pecadora que ungiu os pés do mestre. A mentira formou ali um engodo e trapaceou com sua mente. Ele falou do desperdício e dos pobres, mas pensava outra coisa. Aí vem o segundo momento. Foi na santa ceia. O texto registra que satanás tomou-lhe o coração para que fizesse os seus intentos. Que drama cruel, que realidade atroz... Volto a pensar no que dizem dele, que o traidor amava o traído, que sofreu ao violentar o amor de seu mestre... Repito: é possível, mas é necessário que se entenda uma crueldade maior: ele o fez porque seus sentimentos estavam tomados pelo ódio incansável das trevas. Começou lá, no roubo das moedas que ele guardava, cresceu na ocultação de pecados minúsculos e dilatou paulatinamente na mentira. Ele mentiu quanto aos motivos da condenação que fez ao desperdício do bálsamo valioso da pecadora, ocultou suas decepções quanto ao reino e culminou tudo no beijo, prenda máxima do amor, revelação extrema da desilusão quanto aos seus projetos pessoais com um reino que seu mestre jamais lutaria por ele. Foi essa sucessão de coisas não confessadas, como uma escada ladeira abaixo, degrau por degrau, coisa por coisa, de moedas a mentiras, até o inferno de ser tomado por um sentimento escuro e infernal. E lá, no fim da escada, o vazio completo de um inferno absoluto. Por fim, o terceiro momento. Ele vem da descrição mais ofensiva e dorida da escritura. Judas era a figura completa do pecador: roubou, mentiu, escondeu e traiu. Para onde iria alguém com tamanho fardo? Eis aí uma alma cativa como muitas hoje. Pois, ele foi ao lugar certo, e lá estavam as pessoas erradas. Foi ao templo e lá, regurgitou toda sua dor e confusão: “Traí sangue inocente”. O que me fere e assusta é a resposta registrada na escritura: “O que temos nós contigo?” Então, o pecador completo vai e dá o premio à trapaça que o cativou. Primeiro, atira as moedas no altar, elas que foram, talvez, o primeiro degrau de sua decadência, são agora o ultimo patamar antes do inferno. Devolve assim o que ganhou com a venda do seu amo. Depois, sai e, no desespero de uma consciência conturbada, enganada e exaurida pela cobiça, se entrega ao seu algoz como o último uivo pela dilaceração do seu ultimo pecado. Assim, vai entregar às trevas seu derradeiro bem: o corpo enforcado numa árvore e suas entranhas espalhadas no solo pedregoso e seco da palestina nos dias do começo da era cristã.
Ainda se diz muitas coisas dele, verdades e mentiras. Digo eu, para concluir o texto, não o pensamento. As piores armadilhas começam com mentiras obscuras e roubos singelos, parecidos com os degraus de uma escada que só desce, até que tudo se consuma no inferno. Vejam só, os sacerdotes negaram a Judas a misericórdia, mas recolheram as moedas e disseram que era dinheiro santo porque foi preço de sangue. Então, com ele, compraram um campo para sepultamento de estrangeiros. Que vergonha! É possível à mentira andar sossegada perto da verdade, mas nunca de mãos dadas com ela. O traído foi à cruz e, como ele mesmo disse, levou sobre si as dores e os pecados de muitos. De todos os que querem e sabem disso. A verdade assim cumpriu-se, plena e exuberante, na carne e no espírito do crucificado. A escritura é mesmo testemunha e não apenas contadora de histórias.

Paz e a gente se encontra pelos testemunhos da palavra escrita...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

SOBRE ARGILA E CONSCIÊNCIA


Ele é um dos grandes do Velho Testamento. Porém, é conhecido como o profeta que chora. Uma coisa preciosa nos seus escritos é a capacidade de sugar grandes verdades através da observação de coisas simples. Fez isso em vários trechos do seu longo livro. O choro? Já dizem as frases nos cadernos adolescentes desde não sei que tempo: “Tem coisas que só se vêem com o coração”. Por isso o profeta chora sobre as verdades que comunica.
No texto em questão, Deus o chama à reflexão. Bem já dizia o velho filósofo: “Vida sem reflexão não é vida nenhuma”. Deus o convida a um passeio e ele segue até a casa do oleiro. É necessário capturar o seguinte: Deus disse que lá, no processo da reflexão, lhe daria ouvir as suas palavras. E elas vieram através do trabalho natural de um oleiro. Outra coisa necessária é que percebamos a abrangência das parábolas que Deus põe, dia a dia, diante de nós.
O profeta vê o oleiro trabalhar a argila, e o vaso que está sendo feito quebra-se em suas mãos. A palavra “quebrar” pode ser dissecada em seus sentidos primários e consumada assim: aquilo que se tornou moralmente corrompido ou mesmo fisicamente danificado. Aí está o segredo da parábola e, porventura, da lágrima do profeta. A voz de Deus veio na figura dos dedos que moldavam a argila, do vaso que se despedaça e da intenção do oleiro em tomar de novo a argila e recomeçar o processo, visando agora um novo vaso. O entendimento precisa ser claro. Aí está se falando das vertentes do ser humano. A história da argila refere-se a uma moral corrompida. O que é uma moral corrompida senão aquilo que foi passando de saudável a doente, lentamente, até parecer normal? As coisas pecaminosas das quais fala o profeta, destrutivas que são, agem assim, como uma argila que se quebra lentamente, repetindo-se até se fazer aceitável. Não é assim com o adultério? O suborno? A prostituição? Não é isso o que ocorre com a mentira e a cobiça? Tudo não é aparentemente normal? Aí dorme o algoz oculto que, quando menos se espera, quebra o pote na olaria... O mesmo que um coração assaltado e lançado numa prisão de treva e solidão. Não se engane, a paga disso tudo é a morte da alma, e essa morte começa muito antes do que muitos imaginam. Quantos mortos de alma cruzam por nossas casas, igrejas, e escolas todos os dias? São os que não mais podem amar livremente, rir, adorar e perceber as coisas leves do espírito... É o começo do nada diante do tudo que já começou a se perder, corpo e alma, danificados de uma vez só.
A pergunta de Deus ao profeta é um poderoso ressoar aos nossos ouvidos: “Não poderei eu fazer de vocês o que fez o oleiro com a argila”? Deus o levou lá para lhe perguntar isso. É a sublime atitude de Deus em tomar a argila estragada e dela fazer um pote novo. É a experiência dos dedos de Deus tocando na história de antes e continuando a tocar na que vem sendo escrita depois. Fazer um novo pote é uma via dinâmica. Não importa onde a argila esteja, se num processo de secura ou se já um vasilhame trincado... Deus convida a ambos para o passeio da reflexão, quem sabe de mãos dadas com o profeta que percebia suas intenções nas parábolas das coisas mais simples.

Paz para você e a gente se encontra nas olarias existentes por aí...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

SOBRE DOENÇA E GRAÇA



Tenho um amigo que está doente. Doença grave e dolorosa. Esse amigo é ainda jovem e, desde que o conheci na nossa frutífera adolescência, tem sido fiel e apaixonado pelo reino, por missões e seus missionários. Conto isso para lançar um pouco de luz, acender um farol, por menor que seja, na imensidão obscura da graça de Deus. Ela é, ao mesmo tempo, a dádiva imensurável, cristalina, das mil e uma dádivas, mas também, o poço tenebroso das mais de cem confusões das nossas míseras consciências.
Jamais pude me defrontar com uma idéia tão generosa e tão perigosa quanto a graça, pois é ela quem descortina o imerecimento. Toda a plenitude de beleza, santificação e dons são dados aos mais imerecidos corações... E muitos são curados, renascidos, transportados do medíocre charco de pecados para a sublime porta da nova criatura. Isso é indescritível, indiscutível e belo. O perigo está do outro lado, o de se pensar que os menos chafurdados são mais merecedores. Fica o seguinte: se ninguém pôde merecê-la quando estava preso no charco do lodo, ninguém também a merece por ser um filho fiel, que sempre amou a casa e as palavras do pai.
Quem é merecedor do que? Sei que Deus não nos trata nessa ideologia. Se não, o meu amigo não estaria doente e, caso adoecesse, seria curado. Por outro lado, onde estaria o futuro de todos nós, pecadores por excelência? Aí está o paradoxo. Se a alma miserável não merecia o esplendor cristalino do amor, mas o ganhou porque a Deus aprouve dar, a cura também é tratada nessa perspectiva. Ninguém é mais merecedor dela do que o amigo em questão, mas essa não é a via de Deus. Esse conceito, que é o mais poderoso instrumento de alcance e restauração das escrituras, parece-nos, por vezes, surpreendente e doloroso. É uma estrada de duas mãos. Por um lado vai a generosidade em dar o que não foi pedido e, por outro lado, não dar o que, aos nossos olhos, seria merecido. Não sei onde estaríamos, nem para onde iríamos, se Deus nos desse tudo o que merecêssemos. Pensar assim enquanto a doença destrói e dói, parece cruel, mas é fato que Deus não nos trata pela lei do merecimento, até mesmo por uma questão de preservação das nossas parcas almas.
O doente dessa crônica está tranqüilo. A razão é uma só: fé. Sabe da graça e ama independentemente de qualquer coisa. A cura? Se aprouver a Deus, ele o amará por isso. Se não lhe aprouver, não será menos amado. Todas as coisas – todas mesmo – concorrem para o bem daqueles que são adoradores. É, talvez, o conceito mais poderoso para a cura da contusão de muitas almas e para a maturação dos muitos imaturos. Por isso, possivelmente, o conceito menos compreendido pelos que clamam pelo nome de Deus. Mas é a única esperança para quem se acha perdido e a única segurança para os que sofrem e não se acham merecedores, e não o são, mas que já andam pelo outro lado da porteira.

Paz para você e a gente se encontra pelos conceitos da graça...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sobre Pedaços e Metades

Lucas, em seu evangelho, apresenta-nos uma seqüência de três parábolas, todas se referindo à moral e à consciência. Nas três, o texto pressupõe a idéia de que alguém está se perdendo e que alguém está procurando. É a generosa teologia da graça, aquela que se esclarece no amor e no imerecimento.
Há dois tipos de pessoas que se aproximam para ouvir: publicanos e pecadores, que são os tipos mais execráveis de gente, incluindo aí, explicitamente, as prostitutas. Esses são os que chegam para escutar. E por que o fazem? Porque são escórias da religião e nada possuem que os possa transportar a um nível de merecimento. São execráveis e nada merecem. Há, porém, outro grupo de ouvintes: Os fariseus e os escribas. Esses são os religiosos corretos, o legalista e o teólogo. São esses que criticam a Jesus por gastar seu tempo com os imerecidos e aprofundam seus ciúmes e despeitos referindo-se à intimidade com que Cristo os trata, pois que os recebe e come com eles. Esses fariseus e escribas, justamente por suas posturas, representam a religiosidade desprovida de paixão e intimidade, voltada somente para si e seus próprios interesses.
A trilogia de Jesus neste capítulo é formidável. A primeira parábola apresenta a figura da ovelha. É que uma, no meio de cem, se perde. Que alívio, um por cento de mim tem a tendência de ir para o deserto, dar a cara aos espinhos, ficar à mercê do lobo. Depois vem a história da dracma... E é uma que se perde em dez. É um pouco mais complexo. Significa que um pedaço maior de mim é assim, com essa vocação para a escuridão e os cantos escondidos da casa. Por fim, a história dos dois filhos. Que tragédia, que cruel, que esperança!... Agora é metade de mim que se ilude com a terra longínqua e com a vida dissoluta. E tudo começa e se repete. Sou a ovelha que vai para o deserto, sou o pedaço maior que, como a dracma, ama a treva e o sumiço. Por isso, surpreendo-me como a outra metade, essa que deseja ir, tomar os bens que recebeu do pai e desperdiçá-los dissolutamente – A mais vil compreensão de liberdade. Por isso, serei faminto e miserável, buscando socorro na terra distante. E o que tem lá? O que se pode achar longe da casa do pai? Para a miséria, um trabalho com porcos e, para a fome, comida de porcos...
Assim termina a trilogia, surpreendente figura de mim. Deus me avista de longe, mas o sentimento que o move é íntimo. Aí está o exuberante conceito da graça: o filho que volta é tratado como não merecia. A questão sempre será assim, pessoal e íntima, a palavra de Deus é sempre na vertical. Então considero uma última coisa, surpreendente e dolorosa. Sou também a metade que ficou, na figura do filho que fez tudo certo, mas que como o fariseu e o escriba, não amou o pai e nem sofreu com a partida do irmão, não se alegrou com o regresso do perdido, mas se deixou consumir pelo ciúme e egoísmo, como a prostituta que faz tudo certo, porém é desprovida do amor. Surpreendo-me às vezes como esses escribas e fariseus, embustido em outra aparência.
E se assim é, suplico para ser a dracma que se perdeu, a ovelha só e ferida, o filho visto de longe, mas chamado na intimidade... Só assim, a porta da moral e da consciência, misericórdia, estará sempre aberta.

Paz para você e a gente se fala pelas parábolas da vida!...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sobre doçura e pabulagem


Um dia o Espírito Santo me disse algo sobre doçura e embuste. Eu estava enojado da ciranda política de alguns e ele disse-me para nunca perder a doçura em meio à agrura, pois eu não seria mais eu se assim fosse. Esperteza e astúcia eram coisas estranhas à sábia comunhão do Espírito. Lembrei-me de uma palavra humana, aquela que veio do velho cristão a quem admiro, e o faço por seus escritos e serviço. Ele disse que não é preciso ser esperto ou ladino quando se tem razão. E tenho razão. Por isso, não quero uma coisa nem outra, quero apenas pensar e ter a doçura de escrever e pastorear. Por isso minhas palavras não são ácidas, apesar de indignadas e um pouco tristes.
Não sei como essas coisas acontecem, parece inconcebível o que vejo. Pessoas ladinas, ordinárias, com míseros conceitos sobre a ética e a política, pavoneiam-se e convencem outras, certamente menos ladinas e mais estúpidas, a trabalharem de sol a sol, a lutarem por algumas parcas recompensas e assim, pagarem para ver suas pavonices. São esses míseros seres que se agigantam em macro salários e mordomias, são parasitas da sociedade, sanguessugas do trabalho dos meros mortais... Como isso pode funcionar? Que hipnose social é essa? Assusta-me como suas pabulagens arrastam milhares de mantenedores dessa corja chamada ciranda política. Permitam-me perguntar de novo: como pode isso dar certo? E eu me estendo a perguntar: o que pensar quando indivíduos como Tririca, Roriz, Donadon e outros vampiros da ética e do bom senso surrupiam o povo numa sede insaciável de poder e parasitagem? Depois se enchem de pabulagem e o povo, que os escolheu, paga tudo e adora...
Sei que a doçura é uma súplica do Espírito Santo e eu o adoro. Não sou ladino e nem esperto, deixo-me ludibriar vezes sem fim, mas esperneio-me no meio desse charco de desrespeito. O político e seus partidos são uma instituição prostituída. Prostituíram sua essência e sua prática. O político se fez libertino, e o povo, pensa que é esperto. É a única instituição onde o empregado se torna maior e detentor de mais direitos e privilégios que o empregador, por isso, prostituta, pois vive da compra e da venda de si mesma. Indigno-me em ver o presidente se gabando (e sendo aplaudido) ao pavonear que recebeu uma dezena de multas por quebrar a lei. Ora, se ele a quebra por se achar ladino, o povo fará o mesmo pensando ser esperto. A coisa parece não ter fim. Lembro de um político que foi à minha casa pedir confiança na sua pessoa. Dei-lhe uma pergunta: qual a utilidade prática de um parlamentar para a população? Qual a utilidade de um vereador ou deputado? E a de um senador? O que justifica a sangria do povo para mantê-los? Quando foi que qualquer um desses sanguessugas justificou sua existência com algo que não fosse em beneficio próprio? É patético, eu sei. Mas é claro, existem felizes exceções... Dizem até que políticos com razão, que não precisam ser espertos ou ladinos, existem... E o pior, é que acredito nisso! Ainda não encontrei um sequer, mas acredito mesmo que existam.
Por fim, e aí vem a doçura, tenho um sonho singelo. Desejo conhecer uma pessoa pública que seja inteligente, descontamindada do visgo da esperteza e da libertinagem, e que compartilhe essas coisas. Uma pessoa que tenha gente nos olhos, doçura na alma e verdade nas mãos. É um sonho, trapaciável, eu sei, mas acredito ser possível. O que faria com ele? O convidaria a caminhar e falar de flores e jardins, afinal, não é essa a vocação primeva do político?
Paz e a gente se fala pelas doçuras que sobejam em nossas almas...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

UM MERGULHO ÀS AVESSAS


Há alguns dias estou mergulhado às avessas, entretido numa aventura à música do passado. Fui golpeado pela gentileza e pela lisura de algumas dessas canções. A coisa é simples e, como toda sabedoria nasce da simplicidade, encontrei-me levado de volta à vocação primeva da minha alma. E lá estava a cura para a dor de alma, a dor provocada pelo pecado, a esperança do olhar de Cristo, o templo, a rosa vermelha, os anjos... É que em tudo isso, nada é novo, apenas foi dito de modo diferente em tempos diferentes. O surpreendente é que esse mergulho revelou que a procura de lá é a mesma de cá: sou essencialmente aprendiz da oração e da adoração. Eu era assim e sou assim. Essa é minha vocação, as outras coisas são tarefas apena.
A música hoje mudou, como todas as coisas mudam. E se ela é viva como dizem, teria mesmo que mudar. Sou pastor e estou como a maioria das minhas ovelhas, atabalhoado com tantas ocupações, retalhado por tantos compromissos, cobranças, críticas mil... Ah, que tentação em ser só um profissional do púlpito, isso daria muitas respostas e eliminaria quase todas as críticas! Porém, eu quero dizer: Qual é nossa verdadeira vocação? Queria tomar pela mão cada uma das ovelhas desse curral e trazê-las a esse mergulho às avessas, levá-las lá, na adolescência de suas almas, e mostrar que os mesmos anseios daquele tempo são os de hoje. Quero isso, ainda que seja mais difícil e que tome mais tempo do que desejam. As pessoas estão despedaçadas porque desaprenderam a orar, as ovelhas se desgarram porque não compreendem o que é adorar. Despedaçar é verbo perigoso, porque lança as pessoas numa multiplicidade de afazeres e, por isso, se profissionalizam, esquecendo-se de sua vocação primeira. Isso é um jeito sorrateiro de prostituir a própria alma. Desgarrar, também é verbo de grande periculosidade, porque soa como auto- suficiente, forte, empreendedor... E o ser humano é, por vocação primeva, relacional, pobre... Por isso, enfermo e cego sem a adoração.
Assim, foi bom mergulhar no velho rio da música. Parei para escutar o que minha alma pedia desde tantos anos. Como é possível uma súplica ficar dentro de você por décadas, sem que a escute? Tudo muda. Pessoas mudam, ritmos, tecnologias e cantores, evoluem, profissões fazem profissionais. Porém, a súplica é a mesma desde sempre. Simples assim e complexo assim. Tudo ao nosso redor, incluindo nossas ocupações e profissionalismos, é bulha, nada mais. Nossa vocação primeva é orar... Que verbo abrangente! E adorar... Que verbo sublime! Sem isso, seremos mesmo pessoas às avessas, talvez até desgarradas, e algumas, certamente, despedaçadas.

Paz e a gente se encontra pelas músicas que ficaram no passado...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Missão - Informação






MISSÃO RENASCER
RONDÔNIA – BRASIL
UMA VISÃO DE AMOR




Biguá
Informativo de campo da Missão Renascer

No. 21 - Edição em Setembro - 2010
www.elielpoeta.blogspot.com

CONFERÊNCIA ANUAL
Aconteceu entre os dias 03 a 05 de Setembro-2010, sob o tema central: Adoração, Partilha e Missões. Foram dias de reflexão e crescimento. Palestraram os seguintes pastores: João Ribeiro, Magno Pires, Daniel Gallo e Janete Margarida. O ponto alto da conferência foi o desabafo missionário, com a Ester Regina, que apresentou a trajetória de sua família em quase vinte anos de Rondônia, os sonhos e percalços do ministério com a igreja, os ribeirinhos do Guaporé e os índios em Cacoal.
A conferência foi realizada na Igreja de Deus em Colorado do Oeste – RO e contou com a presença das igrejas do Cone Sul do estado. A Missão Renascer e a Igreja de Deus local agradecem a presença e o amor de todos.

Notícias de Campo

MINISTÉRIO - RIBEIRINHOS



Rio Paraguá – Afluente do Guaporé – Bolívia
A Missão prossegue com o alvo de estabelecer uma Igreja no povoado boliviano de Remanso. Ainda este ano mais uma equipe descerá o Rio num projeto de assistência
social e evangelização. Devagar estamos alcança
ndo o propósito de fundação da primeira Igreja de Deus ribeirinha no Vale do Guaporé.


ALÔ MISSÕES
RECADOS AO BRASIL
E AO MUNDO
ANASTÁSIS
Estamos trabalhando com método de hospital dia, atendo vários adolescentes em situação de risco. Os programas desenvolvidos ocorrem em horário contrário às aulas. Cursos de música, pintura, bordados, vôlei e outros, são os meios dos quais o Anastásis lança mão na procura de vidas. Temos estabelecido parcerias importantes com escolas, poder público, judiciário e igrejas. É o braço mais forte hoje da Missão em Rondônia. O elo com a igreja de Deus de Cerejeiras, que tem feito seu papel de corpo, tem sido fundamental no crescimento e desenvolvimento deste projeto.

VIVER - ANASTÁSIS
Um dia de ação pela vida do idoso

21 de setembro, dia da árvore e dia da ação para o corpo
e a alma. Aconteceu em Cerejeiras e contou com a
presença dos voluntários da Igreja de Deus. É o braço
da Missão em mais um projeto único de amor e partilha.

ASSEMBLÉIA ANUAL MISSÃO RENASCER

A Missão Renascer, através de seu presidente, PR. Eliel Eugênio de Morais, Realizou sua assembléia anual no dia 04 de Setembro de 2010, às 09:00 na Cidade de Colorado do Oeste – RO.

ASSIM FOI NOSSA PAUTA

1. Análise da possibilidade de reiniciarmos nossa atuação com o povo ribeirinho do Guaporé.
2. Análise e prestação de relatórios do Projeto Anastásis - Base ministerial da Missão em Cerejeiras.
3. Análise do rol de membros da Missão Renascer.
4. Análise da atuação da Missão em âmbito geral.
5. Análise das representações da Missão nas cidades onde seus obreiros são pastores da Igreja de Deus: Pimenteiras do Oeste, Cerejeiras, Colorado do Oeste, Vilhena, Cacoal e Jarú.
Contamos com a presença de praticamente todos os membros convocados, a Missão agradece o empenho de todos, na esperança de que esta assembléia seja o marco de um recomeço renascido!

CIDADE REFÚGIO – COLORADO DO OESTE
Começou e avança com a Escola de Artes, atendendo diversas pessoas, de várias faixas etárias, da comunidade e igreja. Funciona nas dependências da Igreja de Deus – Fonte geradora de mão de obra e recepção das pessoas atendidas pelo projeto.

PFM – PROJETO DE FÉRIAS PARA MISSÕES - 2011



Equipe de Férias no Rio Guaporé
Ocorrerá no mês de julho. Há ainda vagas abertas. Você doará seu tempo e receberá uma experiência única de campo. Solicitamos dentistas, enfermeiros e médicos que possam doar uma semana de seu trabalho num povoado ribeirinho boliviano.

FALE CONOSCO

Fones: (69) 3342-2834 – 9224016 – 9218-1103
missão.renascer@hotmail.com
elieleugenioemorais@hotmail.com


Você está sendo convidado a participar desse sonho e dessa realidade. Conheça mais sobre o programa da Missão Renascer e as possibilidades de você contribuir, participar e vir conhecer nossa terra.

VISITE: www.elielpoeta.blogsapot.com


CONTRIBUA

Contribuições para
Missão Renascer
Conta corrente 5553-0
Agência 1504-0
Bradesco

FAÇA ALGO VIVO POR MISSÕES!

Rua Pernambuco, 4191, Colorado do Oeste – RO – CEP: 78996-000 Fone (69) 92240116
Rua Florianópolis, 1265, Cerejeiras – RO – CEP: 78997-000 – Fones (69) 3342-2834 e 9218-1103


PR Eliel Eugênio de Morais
Presidente

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Circo de Tereza



A história é antiga, não sei precisar de quanto tempo. Conta-se que três amigos viajavam em um barco junto com outras pessoas. Ocorreu um naufrágio e todos morreram, exceção feita aos três amigos e uma mulher. Foram parar em uma ilha deserta, todos esperançosos, livres da morte, até com certo sentimento de aventura. Assim, os três homens e Tereza, o nome da mulher, aguardavam o seguro resgate. Detalhe: Tereza era dotada de uma feiúra exuberante. Tinha perna manca, olhos vesgos, cabelos espetados... E os três amigos riam e disputavam quem teria o infortúnio de cuidar dela. Porém o tempo passou e diz a história que muitos anos se foram e o resgate não veio. E Tereza foi ficando diferente. Um dia um dos amigos a olhou e não mais viu a exuberante feiúra. E se foram mais alguns dias, e outros mais... Houve até duelos na ilha, pois não havia por lá nenhuma mulher tão bela quanto Tereza. Os três homens se fizeram assim, súditos de uma única rainha.
Vi isso na semana passada. Fui ao circo, esperança de aventura. E minha alma doeu. O cheiro de mofo na lona suja, os palavrões dos palhaços, a pobreza das bancadas, o mau gosto e falta de técnica nas apresentações e, além disso, o semblante cansado daqueles que tentavam fazer aquilo se chamar circo. Porém, quando as poucas luzes se apagaram, houve aplausos e gritos do povo. Perguntei-me: por quê? Tereza era a resposta. A fome do povo por algum tipo de arte, por algo que lhes respondesse essa falta íntima de beleza, os levava a gritar e aplaudir algo tão baixo e elementar, mesmo que fosse manco, vesgo ou áspero. Não pude deixar de pensar na igreja e na adoração. É que o risco Tereza existe também na procura do sagrado. As pessoas convivem com tanta feiúra, escutam tanto que, de repente, algo coxo e míope, de vulgaridade extrema, lhes parece aceitável e, em alguns casos, até apetitoso. A vida de alguns “adoradores” tem sido como aquele circo ou como os três amigos náufragos. Não se iluda, mentiras e horrores, ás vezes se repete tanto, que parecem verdades e belezas.
E minha alma se comove com as palavras eternas das escrituras. Comovo-me e temo, pois sei que meu coração é propenso à vulgaridades e coisas elementares, mas não posso adorar com elas, pois não fazem parte da intimidade de Deus. Então, com temor e amor, esperneio-me no meio da multidão, de boca aberta para uma fome mais exuberante: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos”!
Paz para você e a gente se fala pelos naufrágios da vida!...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Pássaros feridos



Tenho pensado na pessoa de cada ser humano. Outra vez estive escutando a lenda do Assum Preto, que dizem ser fato, não lenda. Escutei, pensei e mais uma vez me achei sentindo mais do que compreendendo. É que isso é uma estranha figura de nós mesmos. Escutar sem refletir produz indignação apenas, porém, escutar com reflexão faz nascer o espanto. Como é possível uma pessoa desejar tanto a beleza a ponto de vazar os olhos de uma ave e trancafiá-la numa gaiola, só para melhor possuir o seu canto? E faz isso porque acredita que a beleza do canto se multiplica por causa da dor e da tristeza, e ele se acha dono disso. Então alguém diz: isso não é um canto, o algoz do pássaro está enganado, o que ele ouve é um uivo de lamento, de solidão e abandono. E eu sigo perguntando: como pode haver beleza nessas coisas?
Aí me encontro a pensar no espanto do humano de cada pessoa. O Assum Preto, no seu infeliz destino de enfeitar a vida de seu algoz, é mesmo uma figura de nós. E o seu carrasco, não é também a nossa figura? Nossa alma, no que diz respeito à beleza, é como um náufrago na desesperada procura por um porto seguro. Só que a maioria não vê isso e, como o caçador do Assum preto, fere, machuca, agride, trancafia na prisão do orgulho e da rejeição as coisas únicas que lhe poderiam apontar o caminho do farol seguro no meio do naufrágio. O inacreditável é que as pessoas fazem isso sem se dar conta de que a causa primeva de tudo é essa estranha e fascinante pobreza do belo que acomete a todos nós. E aí o algoz se torna vítima, ele de fato se engana, ninguém pode ferir assim sem se trancar. A fonte da beleza, razão da nossa riqueza ou pobreza, é celestial e humana. Celestial porque é inegociável, e humana porque estamos encharcados dela. Ela brota de verdades eternas, porém, mora numa casa bem conhecida e comum: o corpo e alma. É por isso que o carrasco se torna vítima quando a si mesmo se tranca nas emoções perdidas e na adoração vazia. Quando se perde a adoração, perde-se também a alma, e viver sem alma é estar como o Assum Preto, enjaulado, uivando, privado de si mesmo e distraindo os outros com suas carências e desespero.
É assustador que essas duas coisas, algoz e vítima, possam morar na mesma pessoa e que ambos são vítimas da mesma coisa. É constrangedor ver que essas mesmas pessoas se fazem assim por causa da beleza que não tem. Onde está Deus? O que fazem as pessoas com suas almas? Saber onde Deus está é menos complexo do que saber o porque das almas. Deus está na sua palavra. E os motivos dos homens? Uns se fazem fortes e caçadores e, logo depois, são pássaros feridos. Por quê? Ainda assim não se deram conta de que tudo foi por causa da carência da beleza. E eu repito, insisto e termino: é porque ainda não encontraram o significado de adoração e não compreenderam que perder a alma é perder tudo.

Paz e a gente se fala pelas belezas deixadas por aí!...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

Colcha de retalhos



Lembro de uma delas. Foi nas ensolaradas manhãs da meninice. Dias claros e algumas noites frias. Minha mãe retirou de uma velha sacola pedaços de tecidos de variadas cores, diferentes texturas e diversos tamanhos. A primeira coisa que me encantou foram as cores, depois a paciência de selecionar e recortar e, por último, costurar. Eles foram juntados em diferentes direções, uns seguiam a linha do horizonte como se procurassem novos caminhos, outros eram verticais como se vazassem o tempo, e alguns eram colocados na diagonal como se pudessem quebrar algum padrão. Não sei quanto tempo levou, mas, por fim, ficou pronta. Bela, colorida, extremamente macia e quente para o friozinho da noite.
E o tempo passou. Não sei para onde foi aquela colcha. Sei de outra, dessas que se costura na alma. As palavras são assim. Penso na paciência de Deus separando o tamanho de cada palavra, a forma de dá-la a cada um, os cortes necessários, a textura particular... Tem palavras que são macias, outras, que são ásperas, algumas são pontiagudas. Tem falas que são azuis por sua paz e profundidade, outras são acinzentadas porque contam da tristeza e da descrença, outras são esperançosas, alegres, e tem aquelas que são raivosas, impacientes e as que são mansas e curadoras. Porém, nenhuma é tão particular como aquela que vem de Deus, ela é intensa e alvissareira. É que essa palavra é investigadora e traz com ela um laço de humanidade e amor.
A relação da minha alma com a palavra de Deus é ainda como a tecedura daquela colcha de retalhos. O tempo que passou, de lá até aqui, foi tempo de escolher e costurar, pacientemente, cada pedaço no seu lugar. Surpreendi-me com o novo nascimento, fraturei-me na confissão, andei do vazio para a plenitude pelas linhas da adoração, contristei-me quando me achei nas margens da mediocridade, mas tinha um remendo para isso também, a beleza. Essa colcha é um pedaço pleno de Deus para compor cada pedaço danificado da alma de qualquer um. Ela é costurada pelo Espírito Santo, sem pressa, buscando a cor certa, encaixando cada fragmento no lugar vazio. Um trabalho de paciência e beleza que só ele, o costureiro das almas rotas, podia fazer.
E o melhor disso? O tempo passou e minha alma não está terminada. Ainda é uma colcha onde o costureiro continua colocando retalhos. São fragmentos de cura, de rendição, da imensurável graça... Retalhos de milagres pequenos e grandes, pedaços de paz e perdão, de espaços vazios sarados a cada dia, de buracos deixados para trás... Coisas que não se pode revelar. É assim, imenso assim. Nunca irá terminar essa gostosura de se costurar uma colcha.

Paz e que você tenha um feliz encontro com esse costureiro...

Eliel Eugênio de Morais

A chuva que não veio em agosto


Choveu em Colorado do Oeste. Depois de insistentes semanas de seca, martirizantes dias de fumaça e poeira, ela veio. Foi como uma cobiçada noiva bailando na noite de núpcias, quebrando um tempo de despedida. Que ironia mesclada de crueldade e gentileza, pois que ela chegou ao primeiro dia de setembro, como que a dizer que o desgosto é mesmo tempo de agosto. Cruel, porque, precisamente ele, o mais humano de todos os meses, não a teve uma vez sequer. E Gentil, porque nenhum outro tem as agruras e as belezas dele, sua fugacidade, figura plena de mim.
A chuva caiu no meio da tarde, como uma carícia, brevidade peculiar desse tempo. Corri com as crianças para o quintal, gritei como um bárbaro e festejei como um menino. Mas, me disseram que a primeira chuva é ácida e eu concordei... Bobagem, é que chuva no inverno é fria de tremer. Ah, o inverno, irmão gêmeo de agosto, tem poucas semanas de vida!... É para isso então que serve o mês de setembro: acabar com o inverno e começar a primavera. Isso é outra expressão da nossa figura. Tem coisas que sempre estão acabando e coisas que sempre estão começando.
Depois dos gritos e da água fria de tremer, peguei a estrada, uma viagem curta, de pouco menos de cem quilômetros. Ah, mas que tudo novo na velha estrada! Posso mencionar coisas corriqueiras e despercebidas como o cheiro no vento, a visão dos montes, agora sem a poeira e a irritante fumaça, a festa dos pássaros nas esperneantes flores do, ainda, inverno. Por fim, visto que tem infinitos afins, a boa paz que uma chuva diminuta provocou. Explico o termo: é que nossa terra é lugar de chuvas torrenciais e prolongadas, essa, porém, diminuta que foi, trouxe a leveza de umedecer a secura e aproximar o que era só ausência.
Pois é assim o retrato de nós. Acaba agosto, o mais fiel mostruário de nossas almas. Não é verdade que oscilamos entre a beleza e a mediocracia? A vida por vezes é cruel, ríspida, nos deixa à mercê do poder de outras pessoas, nos faz cativos dos sentimentos alheios ou próprios. Tudo, porém, é breve. A chuva de hoje me fez relembrar o que sempre cri e falei, que o Espírito Santo nos convida às coisas leves da alma. Aí talvez resida a plenitude do termo beleza. Agosto, como bom passante, deu-nos as duas coisas. Em um plano, a dureza irrefutável da secura e o ardume da fumaça; num segundo plano, o encanto das floradas dos mais variados ipês e a dança nupcial da brevidade. A qual deles sua alma deu atenção? Setembro chegou e a chuva caiu no seu primeiro dia... Um convite do Espírito Santo para que almas como as nossas se encantem por coisas mais plenas, até porque a chuva nas escrituras é figura de sua pessoa. Mas, que coisas são leves e plenas? Apenas aquelas que respondem à famélica busca do nosso espírito por paz e significado, por isso, simples e humanas coisas, como os beijos, reconciliações, toques e adoração. Essa última sim, certamente o termo que melhor define leveza, porque harmoniza o humano com o divino. Até porque o inverno ainda não acabou...
Paz para você e a gente se encontra pelas chuvaradas que ainda virão...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

CASA VELHA




Com os olhos fechados a vejo.
Não sei se quimera ou memória.
Sei que é bom não saber. Arte feita dentro da alma.
Uma casa velha, adobes descobertos, de caiadura branca,
Rota,
Amarela...
Tem janelas abertas,
Aberta, uma porta para a terra vermelha,
Estrada vermelha,
Poeira e lama, sol e chuva.
É vazia,
A pungente solidão da inutilidade.
Não há gritos, há flores vagabundas aqui e ali...
Presença!
Se essa casa é imagem ou memória é-me uma legítima incógnita.
Deixa sair pelas velhas janelas o vento do encanto do cerrado,
Colhendo os cheiros da mangaba, da pitanga e do araticum...
Indo por sua porta, a estrada vermelha,
Cantando as flores desejadas pelo Bem-te-vi,
Pássaro preto, Juriti,
João bobo...
Bobo na minha quimera!
Lembro da chuvarada no meio do sol, o precioso cheiro da terra,
A água escorrendo corpo afora...
Vejo quem busca essa casa. É deserta.
Noite morna do fogão de lenha,
Estrelas sem fim numa noite comum.
É a presença do eu menino. Lá estive quando menino?
Está na beira do estradão...
E ouço os gritos infantis, correndo,
Vem pela estrada,
Há uma menina sarando de osso quebrado, outros que riem...
Entram na casa,
O enorme araticum é abraçado,
Sentado no chão,
Chão batido, comilança!
Quimera!
Tudo é vazio e solidão,
Silêncio.
A casa está só. É fugaz.
Que solidão tem essa memória?
Uma casa velha, plantada na estrada,
Desfazendo-se num canto indigente do cerrado...
Quando lá me vejo,
Eu não sou,
É o que já fui, alma de menino,
Que ainda hoje,
Não sei se lá estive.




Eliel Eugênio de Morais

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A vida na ponta dos dedos


Agosto é o mês do desgosto, tempo do inverno, das queimadas e secura, tempo das flores roxas e do ipê amarelo. Se, para alguns, agosto surge como tempo de desgosto, para mim são dias de encanto e poesia. É que amo o inverno por ser o tempo que mais se parece com as pessoas. Oscila entre a sequidão e a beleza, como nossas almas e nossos corpos, e é breve, como tudo em nós.
Ela tinha treze anos e foi embora no segundo domingo de agosto, bela e macia, fugaz, como o amarelo que encontro em todo lugar. Que partida estúpida, que dor atroz! Porém há, como no contraste do meu querido inverno, uma pétala de sabedoria esvoaçando, machucando o coração dos adultos que não se perdoam e dos adolescentes que não acreditam que o fim pode vir para alguém tão jovem e, dessa maneira, estraçalhar a beleza. Nós, adultos, não podemos conviver com a colheita prematura, pois pensamos que nossa missão é proteger os que ainda crescem. Por outro lado, os adolescentes também se assombram com a possibilidade real do fim, e isso lhes parece cruel.
Então, sob os ventos que cantam as canções da extraordinária fragilidade humana, olhando para ela adormecida, duas flechas do tempo vazaram a minha consciência. Como bem diz a velha escritora, o tempo é uma sucessão ininterrupta de primaveras e verões, outonos e invernos... Ainda bem que o inverno sempre volta! Eu via no rosto, agora eternamente dorminhoco, as flechas desse ciclo que queima e refrigera ao mesmo tempo. De um lado, nós, os adultos, e a sensação impotente de amar. Eu via e pensava – O que se pode pensar diante da morte? E diante de alguém que se vai tão prematuramente? Uma coisa só: quanto perdemos com zangas e rabugices, quanto sopramos vento afora não dando tempo às palavras e beijos!... Sei que todos, numa mescla de medo e alívio, pensavam na própria carne e nos próprios filhos, todos pensavam que não suportariam um inverno tão cruel, uma separação tão abrupta. Não é egoísmo sentir isso, pode até ser sabedoria se enxergamos a questão do que estamos deixando o vento levar. A segunda flecha me falou dos adolescentes e a questão também foi o tempo. Os vi abraçados e partidos pela perda. É cruel ver pessoas jovens sofrerem uma perda relevante. Porém, outra vez aí pode nascer sabedoria. A possibilidade do “breve” deveria fazê-los enxergar que precisam esvaziar suas almas das coisas medíocres que os tem tomado. Não me refiro às conversas triviais, ao riso e aventuras, essas coisas podem ser mais úteis do que muitos querem ver, falo das zoeiras que os tem empanturrado de superficialidades naquilo que nenhuma pessoa pode ser rasa: amor, relacionamentos, arte e Deus. O corpo de treze anos, dormindo para sempre, foi um grito poderoso de sabedoria e dor... E muito amor ao tempo dos adolescentes que a viram. Bem que a escritura diz que a primavera da vida é fugaz!
Por fim, o inverno vai cumprindo seu curso e o mês de agosto está indo embora. Desgosto? Só isso? Não... Veja os ipês, ainda estão floridos... Assim é você e sou eu. Tudo indo sem parar e aí reside a sabedoria de compreender o que disse a menina, deitada e bela, enquanto ia embora sem poder regressar: “vocês, adultos e adolescentes, têm o que não mais tenho”. E Cecília disse que aos treze anos é que a gente sente a vida na ponta dos dedos...

Paz para você e que a gente saiba usar o tempo que ainda nos resta...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A PRETENSÃO DE SER GENTE





Colorado do Oeste nasceu em meio aos morros. A história nos remete a algumas décadas quando um acampamento se espremia numa clareira e foi germinando, fazendo nascer no meio da floresta, um povo. Foi como um parto em meio à moto serras e cacaios. A cidade brotou empurrando árvores de lei, dizem que aqui era o paraíso dos mognos, cedros e ipês. A colonização veio como uma fervura no meio das nascentes e igarapés, dos morros e riquezas, que duraram pouco, como sua exuberante flora.
Tenho pensado nisso, uma cidade que parece gente, um lugar acidentado, com casas belas para uns poucos abastados e taperas tristes para muitos. Andando, subindo e descendo, pois aqui nunca se está parado, ou se desce ou sobe, isso é agrura para uns e encanto para outros. E foi assim, entre um morro e outro (e muitos encantos), que percebi que essa terra tem cara de gente e forma de alma. É uma figura tão bela, tão veraz, que denuncia a gente que vive aqui e a que vive acolá.
Descer é fácil. Cristo disse que se parece com uma porta larga e muitos querem descer. É uma arapuca posta diante de homens e mulheres, tudo concorre a favor, a idéia, o desejo e o convite. São as coisas que nos levam ao apodrecimento de um pedaço, ou pedaços, que era para ser saudável e que se apresenta com o odor e o sabor de quem desce um morro. Descer parece fácil e, quanto mais se desce, mais fundo se vai, até chafurdar-se de vez no rancor, na dívida, depressão, vícios e tantas outras gangrenas ladeira abaixo.
Porém, subir é custoso. Cristo também disse que é como uma porteira estreita e poucos querem andar na contra mão da ladeira. Construir uma casa no morro é mais complexo, mais caro e mais demorado... Que figura para a alma! É assim, afinal enfrentar nosso caráter nu e permitir que a doçura do Espírito Santo o plasme, é como andar morro acima. É lento, duradouro, é contra a corrente dos que descem, porém, é manter-se vivo e saudável, é construir uma casa sem apodrecer os pedaços que realmente nos dão paz. E tem mais uma coisa: chegar lá em cima pode demorar mais do que chegar lá em baixo, mas lá, o vento corre livre e os cheiros são eternos, os igarapés ainda têm água limpa e o horizonte, diferente lá de baixo, é imenso e convidativo, como bem diz a escritura, “olhando para as coisas lá do alto... Prossigo para a soberana vocação” da minha alma.
Hoje, tem uma placa na entrada da cidade dizendo: “Bem vindos a Colorado do oeste”. Quem a fez, talvez não tenha percebido que essa cidade tem a pretensão de se parecer com gente, se não, acrescentaria uma recomendação valiosa: é melhor subir que descer.

Paz para você e a gente se encontra ladeiras acima de nossa terra...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pouso de Emergência


Hoje, pela manhã preguiçosamente ensolarada de agosto, fui cuidar do meu pequeno jardim e me deparei com uma cena muito tocante. Gostaria de compartilhar essa breve vivência com você.
Ao me aproximar para regar um alecrim em fase de crescimento encontrei uma abelha grande, linda, pousada na planta. Observando melhor, vi que ela carregava uma enorme bagagem de elementos extraídos da natureza e que estava tão pesada que a impedia de permanecer equilibrada. Não conseguia nem mesmo andar. A abelha estava irritada, debatendo-se, parecendo querer voar, mas não conseguia porque a carga era desproporcional em relação ao tamanho do seu corpo.
O habilidoso animalzinho provavelmente se desgarrara de seu grupo de trabalho, seu enxame, e estava ali preso ao resultado do seu próprio esforço. Queria voar, se juntar aos demais semelhantes, mas estava impedida. Estava presa.
Imediatamente me recordei de um texto do Evangelho de Mateus, no qual Jesus traz um profundo ensinamento: “vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso”
De fato, vivemos em um mundo tão acelerado pelas atividades, afazeres humanos inegavelmente importantes, mas que, não raras vezes, estão se tornando obstáculos para nossa felicidade, nossa serenidade, nossa paz interior e o convívio com as pessoas que amamos.
Diante desse chamado do Mestre a “todos os que estão cansados”, fico pensando que, como a abelha que encontrei pela manhã, provavelmente, você também pode estar se sentindo assim neste momento.
Voltando à minha inesperada amiga abelha: ao regar suavemente o alecrim, a água fez com que a bola de matéria prima para a fabricação de mel se desprendesse e ela pode voar rapidamente para o alto, certamente em direção ao seu destino.
Com essa vivência aprendi que é preciso buscar o equilíbrio entre o ser, o fazer e o ter. Nossa alma almeja o alto, o vôo livre no qual devemos carregar apenas o que for suficiente para a viagem e para contribuir com a grande obra coletiva da humanidade.
Como a água que, ao cair sobre a abelha, desprendeu seu fardo escravizante, que as palavras sagradas “aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”, caiam como gotas maravilhosas para hidratar sua alma, tão sequiosa de luz e absolutamente vocacionada para voar mais alto.
Mas, se as circunstâncias da vida ou a sua própria iniciativa o conduzirem a algum “pouso de emergência”, não se irrite e nem se debata, porque o Mestre disse: “encontrareis descanso para vossas almas, pois meu jugo é suave e meu fardo é leve”. E você poderá, feliz, retomar o seu vôo, nesta viagem de buscas e descobertas.

Aluísio Alves

sábado, 31 de julho de 2010

Sbre um ou mil dias...

Ganhei uma lembrança de um amigo pastor. Ela veio em forma de música. Ah, quanto tempo eu não a ouvia! E foi no escutar coisas antigas que pude reencontrar outras coisas que deveriam nunca ter sido deixadas de lado. É o caminho da canção dos filhos de Coré no Velho testamento. Desejo falar desse caminho em três pedaços.
O primeiro é o amor e a saudade, coisas de quase todo mundo, e que de lá, vêm numa alma que anela e de uma carne que clama. Que verdade letal é essa, a de admitir que a alma estivera vazia pela ausência da casa Deus e que seu corpo clamava pela ferida que essa solidão lhe causara. Direto assim, sem barganhas ou fissuras. A alma distante da casa suspira por sua falta de significado, e a carne, por sua vez, adoece longe de Deus, consumida na sua própria fugacidade.
O segundo pedaço no traçado dessa lembrança volta-se às duas figuras do texto. Figuras são coisas que os poetas encontram para falar de almas. A primeira delas é o pardal. Ele encontra casa junto dos altares de Deus, ele que, em outros lugares das escrituras, aparece como uma ave solitária no telhado de uma noite fria. Foi o modo como os filhos de Coré encontraram para descrever muitas pessoas. A figura é a da solidão, da inutilidade e do beco sem saída, só que no texto de lá, e na música de cá, esse pardal encontra um ninho junto dos átrios. Então, surge a segunda figura. É que existem outros tipos de pessoas, plenas, leves, como a andorinha, que também aparece em outros escritos, só que como linguagem de leveza e alegria. E ela também achou nos altares do templo um lugar para si e para seus filhotes. Que visão sublime nos dá essas duas figuras acerca da casa de Deus, lugar dos seus altares, refúgio para o aflito e expressão sublime dos leves e plenos, aconchego para um e segurança para o outro. É por isso que o texto começa com a expressão da saudade, porque estava distante, e do vazio, porque estava separado.
Então, fica só mais um pedaço. E ele vem da expressão de uma coisa infinita. Um dia nos átrios do Senhor vale mais que mil dias em qualquer outro lugar. Esse dizer de mil dias quer trazer a idéia de infinitude, visto que a coisa temporal é identidade nossa. É infinito para o tempo e o é também para a alma. Veja só, o escritor quer dizer que um dia do modo de Deus, sob o seu governo, vale mais que mil dias, mais que o infinito dos dias, a meu próprio modo. É que a experiência captura o tempo. Isso significa também uma coisa bem temporal: fazer essa troca da ideologia do meu governo para o governo de Deus, é batalha íntima para a vida inteira. E, para terminar, é isso o que faz a diferença entre o sabor de um ou de mil dias.
Assim, a música veio do passado e o tempo dela é tão presente... As coisas belas são assim, se parecem com as eternas. Quão amáveis são, Senhor, os teus tabernáculos!


Paz para você e a gente se fala pela gratidão das belas músicas e da palavra das escrituras...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 28 de julho de 2010

quarta-feira, 28 de julho de 2010

CONFERÊNCIA MISSIONÁRIA




5a Conferência Anual Renascer
3a Conferência Local
Igreja de Deus no Brasil



03 a 05 de Setembro - 2010
Colorado do Oeste - RO
MISSÕES, ADORAÇÃO E PARTILHA


A MISSÃO DA IGREJA

FOCO ESPECIAL: ÁFRICA E NORDESTE

Participe!












sobre Elvis e Lia - E um pouco de profecia


Nunca antes falei dessa mulher. Lia é seu nome. É mais fácil falar de Raquel, que era bela, amada, leve como uma gazela nas campinas da antiga Harã. Lia, não. Era a mais velha, vesga, deixada de lado, feita esposa de uma marido que queria mais a sua irmã do que a ela. Esse é panorama de uma pessoa, figura de tantas outras, mesmo que muitos milênios já tenham ido embora.
Mas, Lia tinha algo que a bela Raquel não tinha. Lembro que no livro do gênesis o grande patriarca chorou ao conhecer Raquel e que se irou por causa de Lia. Ainda assim, por alguma razão, Deus deu-lhe os filhos que Raquel não tinha. É preciso recosturar o texto para encontrar sua eficácia e segredos. Lia sofria de um amor defeituoso, sofria com seus olhos atravessados, sofria com a preferência do marido pela beleza da outra... Sofria... Porém, aí está o mistério: de seu ventre nasceram Judá e Levi, tribo dos sacerdotes que ministravam nos templos e a tribo dos Reis, os descendentes de Jesus Cristo.
Falei de Lia para lançar um pouco de luz sobre uma palavra afogueada: profecia. Profetizar verdadeiramente é dizer algo do futuro, próximo ou distante, uma coisa que acontecerá ou que já foi, sendo que esse dito vem da boca de Deus. O profeta do Velho testamento viu um vale de ossos secos e ouviu uma pergunta: “Podem viver esses ossos”? E a ordem: “Profetiza sobre eles”. Lia era um osso seco nesse vale. Sozinha, triste e desprezada, mas, de alguma forma efervescente e fatal, a profecia pairou sobre ela.
Quero digladiar com meu pensamento. A profecia, palavra letal de Deus, é investigadora e flamejante, desnuda a santidade, labuta com o amor, arranca os chafurdados no sono da superficialidade e do legalismo. Um cantor popular, talvez o maior deles, disse numa de suas músicas que gostava de estar na terra do algodão e que seus velhos tempos não seriam esquecidos. Ele mesmo canta: “Na terra onde nasci, em uma manhã gelada, olhe longe... Glória, aleluia, vencendo vem Jesus... Aquiete-se querida, não chore, você sabe que seu pai vai morrer... Minhas tristezas, Senhor, logo acabarão”... Ele sofria. São palavras de Elvis Presley. Dizem que ele, como a Lia de Harã, cantava essas músicas nos momentos de dor e que foram elas que o levaram de volta para casa. Até hoje não sei o que quiseram dizer com a expressão “de volta para casa”. Penso que pode ter sido só música, nada mais, ou, quem sabe, a força de uma palavra profética flamejante no meio do charco de podridão no qual vivia. Podia Elvis viver? Eis a pergunta ao profeta, afinal, não era ele um osso seco no vale? Uma coisa só a mais, é que ele também disse, como um osso no vale do deserto: “Sublime graça, fui achado, estava cego, mas agora vejo. Não diga onde posso ir sem ser para o Senhor”.
Por fim, Elvis e Lia, foram a mesma coisa. Ela, eu sei que a profecia adentrou sua intimidade, a arrancou de si mesma e, por isso, foi mãe de sacerdotes e reis. Ele, sei apenas da dor que deixou em palavras como as citadas aqui, não temos a história das escrituras a nos contar nada mais. Assim, se foram palavras verdadeiramente proféticas, nunca saberemos, só Deus terá para si esse segredo.

Paz para você e a gente se encontra pelas profecias dos filhos de Deus...


Eliel Eugênio de Morais
Pastor

Colorado do Oeste, 28 de julho de 2010.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

UMA DERROTA DE REQUENGAR CUSCO



Dizem que futebol é coisa para se gostar, não para filosofar. Eu vi o sonho na imaginação de muita gente. Andei pela cidade antes do fatídico encontro com os holandeses e andei depois. Quanta diferença! Nada poderia unir e fazer vibrar um povo daquela maneira, e depois, logo depois, silenciá-lo. Eu, que senti a paixão de perder, visto que paixão é contusão da alma, me pus a pensar no futebol, em coisas que sempre soube, mas que somente agora parei para dissecar. Então separei três pedaços e partilho o sabor deles assim.
O primeiro pedaço é a perda. Foi mesmo uma derrota de requengar cusco. Minha pequena derramou-se num choro comovido no instante mesmo do gol alaranjado da Holanda. Depois, à noite, quando andávamos pela rua, ela disse que foi a primeira vez que havia chorado por causa do futebol, e perguntou: “Isso vai se repetir”? Então, não é que o futebol tem algo sério a nos dizer com isso? Aprender a sentir as derrotas, até porque todos, sem exceção alguma, irão experimentá-la, porém, como dizia o locutor, “é só um jogo de futebol”. Mas tem a transliteração. A vida tem perdas mais sérias e reais. Pessoas se vão, fortunas se perdem, amores são partidos... E a alma é vítima de tudo isso. Lidar com a perda é mais pedagógico que usufruir a alegria de vencer. Ninguém vence sempre. Esse é o primeiro pedaço.
O segundo é irônico e é cruel. Pus-me a ver argentinos e brasileiros num duelo de quem faz maior a dor do outro. Lembrei-me da infância e dos fogões a lenha, tinha aqueles cães sarnentos no borraio do fogão, deitados na cinza e mordendo a ferida um do outro. Que figura cruel do ser humano. Muitos estão assim, fora do campo de futebol, como o argentino e o brasileiro, camuflando a própria dor, na esperança de que a dor do outro seja maior, e que isso, de alguma forma, amenize seus próprios flagelos. Que miséria, que tristeza! E pensar que isso se repete dia após dia, por meses, anos... Eu disse que esse pedaço era cruel, mas é real, porque tem gente comendo a dor alheia como se isso fosse paliativo para a sua.
Chegamos então ao terceiro pedaço. Talvez o futebol não seja mesmo coisa para filosofar, porém, é apaixonante e, onde tem paixão, a alma está envolvida. Penso no seguinte: vi as pessoas na rua em um sentimento ímpar de brasilidade, como nenhuma outra coisa podia produzir. Se isso é bom ou mal, não é a questão. A questão é pensar que coisas mais sérias não provocam o mesmo envolvimento e interesse. Perder a copa não altera nada no país, mas a perda de valores, dinheiro, escola e religiosidade, sim. Veja só, eu sei de pessoas que vestiram amarelo e choraram a dor da derrota porque são brasileiros, porém, descarregam os esgotos de suas casas nos igarapés da cidade e não sentem nada por isso, aliás, ainda falam de “patriotismo”. Há líderes políticos que surrupiam os cofres públicos, desviam dinheiro da saúde, há pessoas que dirigem na contra mão, furtam, subornam, fofocam, são irresponsáveis com a educação e com a religião, mas vestem a camisa amarela e choram a dor de uma partida de futebol. Quanta miséria, quanto engano e hipocrisia. Futebol é só uma paixão, não cidadania. Fico pensando se é verdade que isso não é mesmo uma coisa para se filosofar. Se pelo menos entendessem que se interessar pelo país está um pouco além das quatro linhas.
Ah... Só para terminar, é que eu fiquei mesmo perdido como cusco em procissão, depois do jogo. Que dor ingrata, que descompensação, mas foi só uma paixão cigana, nada mais. Nada contra o futebol, tudo contra a cegueira.

Paz para você e a gente se encontra pelos campos de camisa amarela...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 05 de Julho de 2010.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

SOBRE UM LUGAR BELO E TRISTE...


Sou pastor e isso é irrefutável e doloroso. Irrefutável porque fui persuadido pelo Espírito Santo, e, doloroso, porque este é o ofício de lidar com o lado misterioso de Deus e da alma humana. Vim a um lugar de extrema beleza. É belo pela exuberância de sua natureza, porém, temo estar aqui. Temo por causa da violência dos corações, visto que ela mora em mais de uma pessoa. E também um pouco de tristeza, confidencial, dessas íntimas e meio saborosas, e a atribuo às estrelas deste lugar.
Ontem à noite eu vi a beleza, ela bailava em multidões de estrelas que espalhavam sua luminosidade pelo campo, e tinha aquela brisa amena do fim de outono, misturando-se aos meus bons pensamentos. Ouvi os sons de uma festa, pessoas que musicavam e falavam, e por elas a tristeza começou a confidenciar. Lembro a voz de um locutor que berrava a plenos pulmões que aquilo era uma festa para Jesus. E veio uma chuva das super qualidades e dos super poderes de Deus. Ele era, de repente, o mais veloz, o mais estrondoso, o mais curador de toda mais doença, sem dúvida o mais do fogo, da água, dos ventos, das super bênçãos... A lista não tinha fim, e eu fiquei pensando em como tudo aquilo estava distante do mínimo que Deus mais quis. Estaria, porventura, com a razão os que acusam a religião de ser a escora dos que não tem razão? Ou estaria certa a minha íntima suspeita de que o cristianismo de muitos não passa de uma versão monoteísta dos mitos que explicavam o que a razão não podia? Não foi assim com o vento, com o fogo, os trovões, a morte e as paixões? Estaria certa a minha suspeita última acerca da tristeza de Deus em ser ovacionado daquela maneira como um super tudo para um super nada da intimidade da alma?
Então, explico, achando-me triste em meio a um belo lugar, mas que me inflige o medo. Deus é mesmo o Senhor de todas as coisas, porém, por nenhuma delas se deu ao homem. O que ele quer das pessoas é suas intimidades, o silencio de seus corações. Deus nunca quis ser o super tudo de ninguém, visto que isso nada transforma. Quis sim, uma relação íntima e profunda, sem os ruídos dos rituais ou as ovações dos pretensos adoradores, nunca foi seu propósito substuir na unicidade da idéia aquela multiplicidade de mitos, pois o que não deu respostas no passado, também não alimenta as almas de hoje, pois também, Deus continua misterioso e as paixões e fogaréus ainda são enigmas legítimos. O que antes pareceu loucura nos mitos, hoje, transliterado no monoteísmo, parece-me apenas ilusão e vazio.
Ah, e tem a questão da beleza e violência desta terra. Para a beleza tem a contemplação, e, para a violência, o cheiro. Refiro-me ao odor de que fala as escrituras, é o cheiro da alma e não o som dos festeiros dos que se identificam pelo nome de Cristo, que farão alguma diferença. É que a alma tem mais cheiro do que sons. Só uma coisa a mais, uma coisa para os locutores e para os festeiros: Deus quis muito mais ser conhecido pelos seus pensamentos e sentimentos, o que é intimidade, do que por seus poderes. Afinal, religião só é mesmo útil aquela que transforma a alma humana. Qualquer coisa menos que isso ou, além disso, é vazio.

Paz para você e a gente se fala pelas intimidades de Deus...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 19 junho 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

SOBRE UMA DE TRÊS PESSOAS


A terceira pessoa

“Agradável” é o que significa seu nome: Naamã. Um dos grandes líderes militares de sua época. Conquistou o amor e o respeito do rei da Síria, porém, apesar de toda a sua força e poder, sofria de uma doença temível e terrível: a lepra.
Ouviu algo promissor de uma pequena e solitária escrava e, surpreendentemente, acreditou nela. E o rei preparou sua viagem. Os reis, tanto de Israel quanto da síria, foram secundários nessa história, até porque um assustou o outro com esse negócio de cura, que era assunto para o profeta e seu Deus, não para reis.
E o que aconteceu no fim da viagem? É necessário lembrar que Naamã queria uma coisa só, mas precisava de duas. Queria a cura da lepra que deformava suas carnes, mas precisava também da cura da alma, visto que essa deformava seu espírito no orgulho e solidão. Mas ele não reconhecia essa segunda doença, e o que ocorreu entre ele e o profeta na terra daquela menina, demonstra isso.
Naamã não teve um encontro com honrarias como era seu desejo, e recebeu instruções de um mensageiro em vez dos rituais que esperava. E o recado que recebeu também era menor do que sua expectativa. Foi lhe dito para ir ao Rio Jordão e lá mergulhar por sete vezes. Isso o irritou e humilhou e, por isso, recusou-se a obedecer. O que isso revela? Que apesar de ser grande em seu oficio, tinha uma alma diminuta, acostumada a batalhas, porem vazia de significado. Naamã precisava da cura que ele mesmo não reconhecia. Mas, pergunto eu, como julgá-lo? É simples reconhecer que não se tem a alma educável? É fácil reconhecer-se vazio quando nos acostumamos a grandes batalhas? É fácil julgar Naamã, mas o que ele fez é tão semelhante aos dias atuais... Ele demonstrou todo o seu orgulho e falsas expectativas de como seria tratado e de como o profeta lhe serviria a cura. Por isso foi inflexível. Queria soluções rápidas, dessas que tentam fugir ao preço da distancia a ser percorrida para uma cura, principalmente a da alma. Além disso, queria tratamento especial por causa das soluções íntimas que tinha sobre si mesmo. Foi assim que se irritou, sentindo-se injustiçado e, por isso, rejeitou a nova solução. Era mesmo um caso para a segunda cura que ele não via
Porém, Naamã era um líder e, como tal, tinha a seu lado pessoas que podiam se pronunciar. E esses lhe deram um conselho valioso. Isso mostra o quanto a alma é curável. Naamã mudou seu pensamento e foi limpo da lepra e livre de alma. A história mostra isso. Voltou até o profeta e ofereceu-lhe presentes e uma súplica. Pediu que lhe dessem terra de Israel para ser levada até o templo do deus das tempestades em Damasco, era o testemunho permanente de que seu coração adoraria somente o Deus único. E fica o legado desse grande líder, uma coisa bem didática: quem permanece educável recebe bênçãos contínuas e outras inesperadas, pois o orgulho e a teimosia são inimigos ocultos e macios, porém destroem a beleza da alma.

Paz e a gente se encontra pelos conceitos inesperados de Deus...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 15 de junho de 2010.

SOBRE UMA DE TRÊS PESSOAS


A segunda pessoa

Uma menina sem nome. A própria formação do texto no livro dos Reis não a identifica. Diz somente que as tropas da Síria, sob o comando de seu mais ilustre general, vieram vitoriosos da batalha e trouxeram cativa uma menina da terra de Israel. Ela chegou, sem nome, sem parentela, sem companhia... E foi servir à mulher de Naamã.
E foi assim, servindo a uma pessoa estranha, numa terra estranha, uma cultura estranha e uma religião estranha... Seus captores adoravam um deus chamado de trovão, e que era também o deus do vento, da chuva e até das tempestades. É certo que seus pais haviam sido mortos pelas tropas do ilustre Naamã. Tudo assim, dramático, injusto e doloroso. Porém, é necessário refletir nas atitudes dessa menina frente aos acontecimentos que se seguem.
Era uma criança hebréia, provavelmente uma adolescente para os dias atuais. Era hebréia, e certamente fora ensinada que a mão de Deus estava sobre sua vida, como havia sido com José no Egito, com o Rei Davi, com Rute num país estranho e tantos outros. Esse é o primeiro confronto com a situação adversa dela. A segunda, foi que estava comprometida com um Deus de misericórdia, em contraste com a solidão, a raiva e a depressão que se esperava dela. A menina tinha uma relação fundamentada na misericórdia, coisa da intimidade, e isso construía a paz em sua alma. Por isso não se deixou amargar pelo ódio, não foi lesionada pelo ressentimento e nem adormeceu pela depressão. Foi isso que a fez ver duas coisas que só os limpos de coração podem enxergar: ela viu no líder do exército inimigo uma carne apodrecida pela lepra e uma alma perdida no meio dos deuses, dos ventos, das chuvas e das tempestades. Foi aí que ela falou da sua terra, do seu Deus e do seu profeta...
Essa é a segunda pessoa dessa trilogia, uma menina sem nome, que, pelo fato de não se deixar envenenar pela vingança, pelo ressentimento e por não dormir seus olhos na depressão, viu sua fala mover um general, dois reis e um profeta, a ponto de quase provocar um incidente internacional... Isso, porém, ocasionou um dos maiores episódios de cura e libertação da história bíblica.
Assim, sem nome, mas que acreditou numa coisa simples: Deus estava com ela, como foi com José no Egito, sua relação com Deus descansava na misericórdia, isso a livrou das fobias de sua alma e lançou sua história nos livros dos reis para as gerações vindouras. O que ela deixou? A capacidade de ser livre quando tinha tudo para ser triste, vingativa e depressiva.

Paz e a gente se encontra pelos anônimos enviados por Deus...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor

SOBRE UMA DE TRÊS PESSOAS


A Primeira Pessoa


O profeta Eliseu, o primeiro personagem de uma trilogia do segundo Livro dos Reis no Velho testamento. Seu nome significa “Deus é salvação” e seu trabalho aparece como aquele que aproximou homens e mulheres de Deus através da demonstração carinhosa do amor e da graça de yawé, o seu Deus. O maior desafio deste profeta foi servir a Deus e aos homens dentro da tênue linha da “severidade e da bondade” de Deus, basta ver seus encontros com a viúva de Sarepta, os filhos dos profetas entre outros.
Os estudiosos dizem que ele foi o maior realizador de milagres no VT, ficando atrás apenas de Moisés. Foi discípulo de Elias e se tornou maior que seu mentor. Porém, é no episodio com o chefe militar da Síria, Naamã, que Eliseu protagoniza um dos mais belos acontecimentos de cura de toda a história antiga. Mais do que contar o ocorrido, essa crônica visa levar o leitor a andar pelas mesmas linhas de caráter do procedimento do profeta. É esse o propósito. Pensemos então o seguinte:
A cura ocorreu de forma tão íntima que o general sírio, o doente curado, voltou e ofereceu presentes generosos ao profeta. Eliseu os recusa, mesmo sendo isso um costume de muitos de seus contemporâneos. Porém, um dos seus discípulos sai em procura do general e racionaliza sua cobiça, visto que lhe pareceu lícito obter vantagens pessoais na ministração do sagrado. Fez isso, ganhou presentes e, leproso, desapareceu da história. E o presente texto racionaliza também: não possuímos habilidades semelhantes às do discípulo do profeta? Refiro-me às coisas do engano e da trapaça, como se o sagrado e o humano fossem coisas a negociar. É por isso que necessitamos da teologia de Eliseu, aquela que nos faz perguntas complexas. Não é essa a proposta do evangelho? Não é ele uma palavra interrogativa dos nossos dias e das nossas almas?
Eliseu teve a ímpar capacidade de “desertar” as pessoas para a responsabilidade e a integridade. Digo eu: que ministério complexo, doloroso e prazeroso! O profeta não sucumbiu ante o brilho e o prestigio de seu ilustre visitante e, por isso mesmo, o serviu com as duas melhores e mais nobres dádivas: a cura da lepra, que é coisa terrena, mas que escraviza o sonho; e a cura da alma, que é coisa para a eternidade e que, por irônico que pareça, o forte general não via. E, no fim de tudo, o principal legado de Eliseu foi sua fidelidade no exercício do dom que recebeu.

Paz e a gente se fala pelas curas provida por Deus...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O inverno está chegando

Que seja bem vindo o tempo paradoxal do ipê, figura do ser humano e das surpresas que a beleza nos reserva!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

DEVOLUÇÃO DE UM TEMPO


O outono está indo embora. Suas tardes morosas de sol pálido estão dando lugar ao friozinho despretensioso das noites de inverno. É que as paineiras já exalam seu encanto de cores rosa e as flores roxas se multiplicam pelo campo. Sinal de que o inverno está chegando.
Parece que poucos dias se passaram desde que escrevi sobre o começo da primavera, é que o inverno morria e eu queria que ele ficasse um pouco mais, pois havia sido frio para ser longo, seco para ter alguma dor... Mas foi florido para ser amado, e belo para ser breve. Agora ele volta, é a devolução das floradas que somente acontecem no tempo dele, dias de noites com multidões de estrelas, com alguma paixão para fazer sangrar, um ipê roxo para falar de fugacidade, uma palavra para adorar...
Aí talvez esteja sua maior figura. Tenho o pensamento voltado para um texto do Velho testamento que translitera a idéia da devolução: “Quando o Senhor restaurou a nossa sorte, ficamos com quem sonha”. Nossa alma é assim. A restauração diz que já houve algo salutar antes e que por algum motivo se deteriorou. A volta do inverno expõe isso diante de nossos olhos. Penso nas coisas que mais amo, como por exemplo, a sangria do ipê roxo ou amarelo, a exuberância da paineira cor das rosas ou a simples florada da mangueira, isso são coisas devolvidas, vagarosamente, depois das torrenciais chuvas de verão. Figura de outras coisas, eu bem sei. Sei também que o outono é um aviso de que a mudança já começou. Porém, existe um alerta em meio a tudo isso: a brevidade, marca incontestável do ser humano. O inverno, que tanto quero, será breve. As demais estações seguirão seu curso.
Por aí reside a insondável sabedoria do Eterno. É um tempo de devoluções. Deus nos chama às coisas leves da alma e, se o inverno tem a florada como algo suave e feliz, o que será que é necessário à alma? O texto é breve, então fico numa só palavra: adoração! Então, a coisa leve do ser humano é render-se diante do que não terá fim, é beijar e comer a essência daquele que nos faz andar do vazio para a plenitude, é deixar-nos levar cativos por aquele que venceu nossas feiúras mais íntimas. Então, uma alma devolvida é aquela que achou a adoração por tudo o que Deus é e por tudo o que ela mesma não tem, é o que viu e sabe que falta a si mesma. Isso, por fim, é paz.
Fim de tudo. O outono agoniza, o inverno está às portas, o tempo que mais quero está sendo devolvido. Sei de sua fugacidade, porém amo sua eternidade. Mais que isso, compreendo sua parábola. O inverno é um convite às coisas plenas, não pelo frio que tem, mas pelas flores que ressuscita. E a alma? O que são suas coisas leves e aquelas que não são temporais? Talvez estejam escondidas naquilo que já foi salutar um dia e que hoje corre e espera pela palavra infinita do Velho Testamento: “Quando o Senhor restaurou”... Como foi com a paineira desfolhada por todo o outono e, agora, mostra a exuberância de uma florada cor das rosas.


Paz e a gente se fala pelos tempos devolvidos por Deus...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 11 de junho de 2010.