segunda-feira, 22 de novembro de 2010

SOBRE DOENÇA E GRAÇA



Tenho um amigo que está doente. Doença grave e dolorosa. Esse amigo é ainda jovem e, desde que o conheci na nossa frutífera adolescência, tem sido fiel e apaixonado pelo reino, por missões e seus missionários. Conto isso para lançar um pouco de luz, acender um farol, por menor que seja, na imensidão obscura da graça de Deus. Ela é, ao mesmo tempo, a dádiva imensurável, cristalina, das mil e uma dádivas, mas também, o poço tenebroso das mais de cem confusões das nossas míseras consciências.
Jamais pude me defrontar com uma idéia tão generosa e tão perigosa quanto a graça, pois é ela quem descortina o imerecimento. Toda a plenitude de beleza, santificação e dons são dados aos mais imerecidos corações... E muitos são curados, renascidos, transportados do medíocre charco de pecados para a sublime porta da nova criatura. Isso é indescritível, indiscutível e belo. O perigo está do outro lado, o de se pensar que os menos chafurdados são mais merecedores. Fica o seguinte: se ninguém pôde merecê-la quando estava preso no charco do lodo, ninguém também a merece por ser um filho fiel, que sempre amou a casa e as palavras do pai.
Quem é merecedor do que? Sei que Deus não nos trata nessa ideologia. Se não, o meu amigo não estaria doente e, caso adoecesse, seria curado. Por outro lado, onde estaria o futuro de todos nós, pecadores por excelência? Aí está o paradoxo. Se a alma miserável não merecia o esplendor cristalino do amor, mas o ganhou porque a Deus aprouve dar, a cura também é tratada nessa perspectiva. Ninguém é mais merecedor dela do que o amigo em questão, mas essa não é a via de Deus. Esse conceito, que é o mais poderoso instrumento de alcance e restauração das escrituras, parece-nos, por vezes, surpreendente e doloroso. É uma estrada de duas mãos. Por um lado vai a generosidade em dar o que não foi pedido e, por outro lado, não dar o que, aos nossos olhos, seria merecido. Não sei onde estaríamos, nem para onde iríamos, se Deus nos desse tudo o que merecêssemos. Pensar assim enquanto a doença destrói e dói, parece cruel, mas é fato que Deus não nos trata pela lei do merecimento, até mesmo por uma questão de preservação das nossas parcas almas.
O doente dessa crônica está tranqüilo. A razão é uma só: fé. Sabe da graça e ama independentemente de qualquer coisa. A cura? Se aprouver a Deus, ele o amará por isso. Se não lhe aprouver, não será menos amado. Todas as coisas – todas mesmo – concorrem para o bem daqueles que são adoradores. É, talvez, o conceito mais poderoso para a cura da contusão de muitas almas e para a maturação dos muitos imaturos. Por isso, possivelmente, o conceito menos compreendido pelos que clamam pelo nome de Deus. Mas é a única esperança para quem se acha perdido e a única segurança para os que sofrem e não se acham merecedores, e não o são, mas que já andam pelo outro lado da porteira.

Paz para você e a gente se encontra pelos conceitos da graça...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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