segunda-feira, 22 de novembro de 2010

SOBRE ARGILA E CONSCIÊNCIA


Ele é um dos grandes do Velho Testamento. Porém, é conhecido como o profeta que chora. Uma coisa preciosa nos seus escritos é a capacidade de sugar grandes verdades através da observação de coisas simples. Fez isso em vários trechos do seu longo livro. O choro? Já dizem as frases nos cadernos adolescentes desde não sei que tempo: “Tem coisas que só se vêem com o coração”. Por isso o profeta chora sobre as verdades que comunica.
No texto em questão, Deus o chama à reflexão. Bem já dizia o velho filósofo: “Vida sem reflexão não é vida nenhuma”. Deus o convida a um passeio e ele segue até a casa do oleiro. É necessário capturar o seguinte: Deus disse que lá, no processo da reflexão, lhe daria ouvir as suas palavras. E elas vieram através do trabalho natural de um oleiro. Outra coisa necessária é que percebamos a abrangência das parábolas que Deus põe, dia a dia, diante de nós.
O profeta vê o oleiro trabalhar a argila, e o vaso que está sendo feito quebra-se em suas mãos. A palavra “quebrar” pode ser dissecada em seus sentidos primários e consumada assim: aquilo que se tornou moralmente corrompido ou mesmo fisicamente danificado. Aí está o segredo da parábola e, porventura, da lágrima do profeta. A voz de Deus veio na figura dos dedos que moldavam a argila, do vaso que se despedaça e da intenção do oleiro em tomar de novo a argila e recomeçar o processo, visando agora um novo vaso. O entendimento precisa ser claro. Aí está se falando das vertentes do ser humano. A história da argila refere-se a uma moral corrompida. O que é uma moral corrompida senão aquilo que foi passando de saudável a doente, lentamente, até parecer normal? As coisas pecaminosas das quais fala o profeta, destrutivas que são, agem assim, como uma argila que se quebra lentamente, repetindo-se até se fazer aceitável. Não é assim com o adultério? O suborno? A prostituição? Não é isso o que ocorre com a mentira e a cobiça? Tudo não é aparentemente normal? Aí dorme o algoz oculto que, quando menos se espera, quebra o pote na olaria... O mesmo que um coração assaltado e lançado numa prisão de treva e solidão. Não se engane, a paga disso tudo é a morte da alma, e essa morte começa muito antes do que muitos imaginam. Quantos mortos de alma cruzam por nossas casas, igrejas, e escolas todos os dias? São os que não mais podem amar livremente, rir, adorar e perceber as coisas leves do espírito... É o começo do nada diante do tudo que já começou a se perder, corpo e alma, danificados de uma vez só.
A pergunta de Deus ao profeta é um poderoso ressoar aos nossos ouvidos: “Não poderei eu fazer de vocês o que fez o oleiro com a argila”? Deus o levou lá para lhe perguntar isso. É a sublime atitude de Deus em tomar a argila estragada e dela fazer um pote novo. É a experiência dos dedos de Deus tocando na história de antes e continuando a tocar na que vem sendo escrita depois. Fazer um novo pote é uma via dinâmica. Não importa onde a argila esteja, se num processo de secura ou se já um vasilhame trincado... Deus convida a ambos para o passeio da reflexão, quem sabe de mãos dadas com o profeta que percebia suas intenções nas parábolas das coisas mais simples.

Paz para você e a gente se encontra nas olarias existentes por aí...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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