terça-feira, 24 de maio de 2011

O ÍCONE E A PROFESSORA


Uma palavra sobre a educação




A vi num desses insípidos (insanos) programas de auditório. É professora, e chamou minha atenção pelo fato de seu nome
não ser o de nenhum desses ícones da educação. Alguns desses pensadores são corretos e dizem coisas relevantes, mas ela, de quem olvido o nome, é gente de sala de aula, lidando nesse conturbado processo pós-moderno. Pós o que? Ah!... O tempo cronológico é sim a fratura descontrolada da modernidade, porém, o trato com o magistério parece chafurdado numa era de dinossauros. Então, é assim, de um lado a velocidade hodierna, do outro, a cronologia perdida na leitura que fazem os técnicos em educação, exatamente como se existisse um tempo paralelo e a escola estivesse presa num gigantesco parque de dinossauros, até por que a idéia que a rege parece vir de lá: força e brutalidade.
Por ironia, foi a fratura, parque de dinossauros da inteligência, que a mostrou. Eu a vi e a ouvi. Uma professora comum que falou aos deputados e secretário de educação do Rio Grande do Norte e aos fraturados do Brasil inteiro. Sua voz foi de uma simplicidade absurda, por isso, sábia. Como bem disse um desses ícones (que dizem a coisa certa), alguém pode algemar, trancafiar e até amordaçar um ser humano, mas nunca poderá impedi-lo de espernear, pois sua mente estará sempre povoada de idéias e sonhos, e a idéia e o sonho levam além das algemas. A professorinha (diminutivo por seu tamanho, mas aumentativo por sua coragem coerente), é uma esperneadora. O ícone e ela têm razão. Amordaçaram a sala de aula, puseram o braço do professor na algema e caçaram suas idéias até trancafiá-las. Isso fizeram através das armas da ideologia, do concurso público, da má condição da escola, da exaustiva carga horária, do direito prostituído do aluno, da corrupção dos sindicatos, dos desvios de verbas da merenda, dos recursos ínfimos, da explícita prostituição salarial e intelectual dos que legislam... E tantas outras armas, todas apontadas e disparadas contra o professor e a mais inconsciente de suas vítimas: o aluno (qual o futuro desse país?).
Por isso, vi a esperança na professora pequena (grande foi o raio de seu esperneamento). Ela tem razão: nem eu, nem você... Somos salvadores da pátria. Nenhum professor, vítima de toda essa carga de amordaçamento, pode, com um giz e um quadro negro, ser o salvador da sociedade. Ninguém com curso superior e sei lá mais quanto tempo de especialização, pode trabalhar tanto e ser reconhecido por tão pouco, ganhar o que ganha (dinheiro e consideração) e preparar o país para o futuro. O aluno, alvo final, não pode ser o depositário de um produto tão putrefato.
Assim, a escola é um parque de dinossauros, seccionada do tempo, aprisionada ali, seja por burras (desculpem a palavra ofensiva) idéias ou por ser o gargalo dos gananciosos prostitutos e prostitutas (desculpem o eufemismo) da ideologia. Porém, a professora de pequena estatura e de jovem cronologia, me fez ter esperança. Eu sei... Salvar o mundo é coisa para Jesus Cristo, mas é possível sonhar, pois a esses foram dadas as idéias e elas podem transpor as cadeias. No mínimo, aos menos crédulos ou aos mais cansados, é preciso espernear.

Eliel Eugênio de Morais
Pastor




ps.: O nome dela, lembrado em tempo (tomara que assim seja, é AMANDA GURGEL).

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A PAINEIRA COR DE ROSA





Uma Parábola do Bolso e da alma




A situação parecia desastrosa. Pus-me a perguntar: por que as coisas têm que ser tão difíceis? Contas a pagar... Elas parecem se multiplicar. Refiro-me àqueles custos indispensáveis do ministério: aluguéis, sustento de obreiros, despesas de viagens, e aos arroubos da alma: irritações perdas e cansaço. Para que a palavra (a coisa que mais amo) possa chegar aos ouvidos de ovelhas errantes (a coisa que mais Deus deseja), é necessário mover uma grande estrutura. Em um domingo estava no púlpito da igreja, pronto a falar a um auditório limpo, inteligente, também pronto a ouvir. Assim, me vi a pensar em tudo o que foi necessário acontecer para que aquele momento pudesse ser usufruído.
Gosto de andar no fim do dia. Minha cidade oferece um por do sol incomparável. Nesse dia, enquanto o sol morria (beleza extrema), minha alma se corroia (preocupações irritantes, dessas que não foram ditas na hora da vocação). Saí a caminhar (uma terapia que funciona). Surpreso, vi que já era maio e as paineiras tomavam a cidade com uma beleza cor de rosas... Eu andava e perguntava: Deus, como pode haver tanta beleza em meio a tanta agrura? O mesmo Deus que provê o rústico outono com uma florada dessas não é poderoso e amoroso o suficiente para prover as pessoas e o dinheiro de que necessitamos?
Essa pergunta tem dois problemas e uma alegria só. O primeiro problema é por que quem pergunta assim é poeta. O poeta traveste a dor em beleza e sonha que do mesmo modo como Deus deu a paineira, dará dias rosados aos que o buscam. Isso pode ser só metade verdade, e o é por causa do segundo problema - a outra metade: quem pergunta assim tem que estar disposto à verdade, e ela é cruel. Deus proveu a paineira porque ela quis, porque assumiu o processo de dor ao dar suas folhas pelas flores. A beleza, portanto, brotou do esforço e da dor. Pessoas são assim. Se não houver a mesma entrega, seu outono será somente agruras. E a alegria, aquela que é só uma? É que o poeta não deixa de ter razão na sua metade. O mesmo Deus que proveu o rosa das paineiras, proverá o dinheiro e os sonhos. Isso merece crédito. A questão é que fará isso através de pessoas e processos, exatamente aquelas que se fizerem dignas de serem usadas como as pétalas cor de rosa.
Ah, só para lembrar, aquela palavra saiu do púlpito e achou guarida em alguma ovelha, errante ou segura, porque muitas pessoas pagaram a conta daquele negócio. Eu sei que depois do outono, virá o inverno... Serão outras agruras e outras contas, então, Deus proverá o mundo com o ipê, e eu outra vez vou sair a ver o por do sol, vou crer de novo. Quem é poderoso para prover o mundo de beleza tal, o será também para suprir minhas mazelas, sejam elas da alma ou do bolso.

Eliel Eugênio de Morais
Pastor