quinta-feira, 19 de maio de 2011

A PAINEIRA COR DE ROSA





Uma Parábola do Bolso e da alma




A situação parecia desastrosa. Pus-me a perguntar: por que as coisas têm que ser tão difíceis? Contas a pagar... Elas parecem se multiplicar. Refiro-me àqueles custos indispensáveis do ministério: aluguéis, sustento de obreiros, despesas de viagens, e aos arroubos da alma: irritações perdas e cansaço. Para que a palavra (a coisa que mais amo) possa chegar aos ouvidos de ovelhas errantes (a coisa que mais Deus deseja), é necessário mover uma grande estrutura. Em um domingo estava no púlpito da igreja, pronto a falar a um auditório limpo, inteligente, também pronto a ouvir. Assim, me vi a pensar em tudo o que foi necessário acontecer para que aquele momento pudesse ser usufruído.
Gosto de andar no fim do dia. Minha cidade oferece um por do sol incomparável. Nesse dia, enquanto o sol morria (beleza extrema), minha alma se corroia (preocupações irritantes, dessas que não foram ditas na hora da vocação). Saí a caminhar (uma terapia que funciona). Surpreso, vi que já era maio e as paineiras tomavam a cidade com uma beleza cor de rosas... Eu andava e perguntava: Deus, como pode haver tanta beleza em meio a tanta agrura? O mesmo Deus que provê o rústico outono com uma florada dessas não é poderoso e amoroso o suficiente para prover as pessoas e o dinheiro de que necessitamos?
Essa pergunta tem dois problemas e uma alegria só. O primeiro problema é por que quem pergunta assim é poeta. O poeta traveste a dor em beleza e sonha que do mesmo modo como Deus deu a paineira, dará dias rosados aos que o buscam. Isso pode ser só metade verdade, e o é por causa do segundo problema - a outra metade: quem pergunta assim tem que estar disposto à verdade, e ela é cruel. Deus proveu a paineira porque ela quis, porque assumiu o processo de dor ao dar suas folhas pelas flores. A beleza, portanto, brotou do esforço e da dor. Pessoas são assim. Se não houver a mesma entrega, seu outono será somente agruras. E a alegria, aquela que é só uma? É que o poeta não deixa de ter razão na sua metade. O mesmo Deus que proveu o rosa das paineiras, proverá o dinheiro e os sonhos. Isso merece crédito. A questão é que fará isso através de pessoas e processos, exatamente aquelas que se fizerem dignas de serem usadas como as pétalas cor de rosa.
Ah, só para lembrar, aquela palavra saiu do púlpito e achou guarida em alguma ovelha, errante ou segura, porque muitas pessoas pagaram a conta daquele negócio. Eu sei que depois do outono, virá o inverno... Serão outras agruras e outras contas, então, Deus proverá o mundo com o ipê, e eu outra vez vou sair a ver o por do sol, vou crer de novo. Quem é poderoso para prover o mundo de beleza tal, o será também para suprir minhas mazelas, sejam elas da alma ou do bolso.

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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