segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Profeta e a Noiva


A fala do profeta é um convite a participar da nova aliança enquanto é tempo. Usa a linguagem do mercador, fala de um produto escasso e essencial: a água. O convite é para todos e é gratuito. Fala da água, que é essencial à vida, mas também fala do leite e do vinho, que são as delicias e alegrias do viver. Deus pressupõe que tem sempre alguém com sede ou com fome. Ao sedento, tem um convite: “Vinde às águas”. Ao faminto, o mesmo convite: “Vinde e comei, sem preço e sem dinheiro, vinho e leite”. Sem dinheiro e sem preço, ao contrario do que muitos pensam, significa algo tão caro que não havia possibilidade de ser pago. Por isso, “vinde e bebei... Vinde e comei”! É uma palavra que alcança o significado de todas as pessoas de todos os tempos e de todos os lugares. Essa crônica se abre e se rende a dois desses significados. O primeiro nos remete à evidencia brutal dos que caminham sedentos e famintos sem discernir quem são e como estão. Por isso são pessoas que não compreendem seu real estado e criam atalhos para sobreviver. É por isso que se encharcam de adultérios, aprofundam-se na solidão, despedaçam-se na depressão, esmurram pontas de facas nos sentimentos corrosivos de culpa e ciúmes e, por fim, perdem-se nas infinitas disputas insanas. Mas tem o segundo significado e esse também é uma evidencia incontestável. Incontestável e sublime, daqueles que se enxergaram assim, por isso são pessoas gratas por tudo o que Deus representa para elas. É o tudo diante do nada, o novo diante do que passou, a pobreza que se acha na riqueza, a escuridão que cede à luz... Não tem fim o modo de se explicar isso. Pessoas que compreendem quem são não precisam de bulha para viver. São adoradoras, acharam-se livres, são conhecedoras e amantes (menos danificados) da escritura sagrada. Por isso só, fizeram-se discípulos à cada dia, passo por passo, tempo por tempo... A gratidão vive e embeleza o coração daqueles que se acharam assim. Tudo se consuma na esplendorosa visão do apocalipse: uma noiva enfeitada para o casamento! O tempo da descoberta do profeta até a descrição dessa noiva é de aproximadamente oito séculos. Que importa? O tempo não é mesmo cronológico para a beleza, ao contrario, contribui com ela. Então, a fala do profeta aconchega-se na visão da noiva. Ela é a pessoa descoberta lá, aquela de todas as eras e de todos os lugares. Sabe o que isso significa? As pessoas de todos os tempos verbais: Eu, tu e ele. Somos a noiva. De seus olhos foram enxugadas todas as lágrimas, não haverá mais morte, não mais haverá pranto ou lágrimas, nem dor, porque as coisas do primeiro tempo já passaram. É claro que ela é a figura de todo aquele que se achou sedento e bebeu, viu-se faminto e fartou-se. Esse é o casamento triunfal dela, e é isso o que opera a insondável troca de uma pessoa indigente para um degustador, de um ressequido para um bebedor. A noiva termina assim, figura de mim e das outras pessoas verbais. “Escreve, pois verdadeiras e fiéis são essas palavras”.


Eliel Eugênio de Morais

Pastor

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