quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Pássaros feridos



Tenho pensado na pessoa de cada ser humano. Outra vez estive escutando a lenda do Assum Preto, que dizem ser fato, não lenda. Escutei, pensei e mais uma vez me achei sentindo mais do que compreendendo. É que isso é uma estranha figura de nós mesmos. Escutar sem refletir produz indignação apenas, porém, escutar com reflexão faz nascer o espanto. Como é possível uma pessoa desejar tanto a beleza a ponto de vazar os olhos de uma ave e trancafiá-la numa gaiola, só para melhor possuir o seu canto? E faz isso porque acredita que a beleza do canto se multiplica por causa da dor e da tristeza, e ele se acha dono disso. Então alguém diz: isso não é um canto, o algoz do pássaro está enganado, o que ele ouve é um uivo de lamento, de solidão e abandono. E eu sigo perguntando: como pode haver beleza nessas coisas?
Aí me encontro a pensar no espanto do humano de cada pessoa. O Assum Preto, no seu infeliz destino de enfeitar a vida de seu algoz, é mesmo uma figura de nós. E o seu carrasco, não é também a nossa figura? Nossa alma, no que diz respeito à beleza, é como um náufrago na desesperada procura por um porto seguro. Só que a maioria não vê isso e, como o caçador do Assum preto, fere, machuca, agride, trancafia na prisão do orgulho e da rejeição as coisas únicas que lhe poderiam apontar o caminho do farol seguro no meio do naufrágio. O inacreditável é que as pessoas fazem isso sem se dar conta de que a causa primeva de tudo é essa estranha e fascinante pobreza do belo que acomete a todos nós. E aí o algoz se torna vítima, ele de fato se engana, ninguém pode ferir assim sem se trancar. A fonte da beleza, razão da nossa riqueza ou pobreza, é celestial e humana. Celestial porque é inegociável, e humana porque estamos encharcados dela. Ela brota de verdades eternas, porém, mora numa casa bem conhecida e comum: o corpo e alma. É por isso que o carrasco se torna vítima quando a si mesmo se tranca nas emoções perdidas e na adoração vazia. Quando se perde a adoração, perde-se também a alma, e viver sem alma é estar como o Assum Preto, enjaulado, uivando, privado de si mesmo e distraindo os outros com suas carências e desespero.
É assustador que essas duas coisas, algoz e vítima, possam morar na mesma pessoa e que ambos são vítimas da mesma coisa. É constrangedor ver que essas mesmas pessoas se fazem assim por causa da beleza que não tem. Onde está Deus? O que fazem as pessoas com suas almas? Saber onde Deus está é menos complexo do que saber o porque das almas. Deus está na sua palavra. E os motivos dos homens? Uns se fazem fortes e caçadores e, logo depois, são pássaros feridos. Por quê? Ainda assim não se deram conta de que tudo foi por causa da carência da beleza. E eu repito, insisto e termino: é porque ainda não encontraram o significado de adoração e não compreenderam que perder a alma é perder tudo.

Paz e a gente se fala pelas belezas deixadas por aí!...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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