quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A chuva que não veio em agosto


Choveu em Colorado do Oeste. Depois de insistentes semanas de seca, martirizantes dias de fumaça e poeira, ela veio. Foi como uma cobiçada noiva bailando na noite de núpcias, quebrando um tempo de despedida. Que ironia mesclada de crueldade e gentileza, pois que ela chegou ao primeiro dia de setembro, como que a dizer que o desgosto é mesmo tempo de agosto. Cruel, porque, precisamente ele, o mais humano de todos os meses, não a teve uma vez sequer. E Gentil, porque nenhum outro tem as agruras e as belezas dele, sua fugacidade, figura plena de mim.
A chuva caiu no meio da tarde, como uma carícia, brevidade peculiar desse tempo. Corri com as crianças para o quintal, gritei como um bárbaro e festejei como um menino. Mas, me disseram que a primeira chuva é ácida e eu concordei... Bobagem, é que chuva no inverno é fria de tremer. Ah, o inverno, irmão gêmeo de agosto, tem poucas semanas de vida!... É para isso então que serve o mês de setembro: acabar com o inverno e começar a primavera. Isso é outra expressão da nossa figura. Tem coisas que sempre estão acabando e coisas que sempre estão começando.
Depois dos gritos e da água fria de tremer, peguei a estrada, uma viagem curta, de pouco menos de cem quilômetros. Ah, mas que tudo novo na velha estrada! Posso mencionar coisas corriqueiras e despercebidas como o cheiro no vento, a visão dos montes, agora sem a poeira e a irritante fumaça, a festa dos pássaros nas esperneantes flores do, ainda, inverno. Por fim, visto que tem infinitos afins, a boa paz que uma chuva diminuta provocou. Explico o termo: é que nossa terra é lugar de chuvas torrenciais e prolongadas, essa, porém, diminuta que foi, trouxe a leveza de umedecer a secura e aproximar o que era só ausência.
Pois é assim o retrato de nós. Acaba agosto, o mais fiel mostruário de nossas almas. Não é verdade que oscilamos entre a beleza e a mediocracia? A vida por vezes é cruel, ríspida, nos deixa à mercê do poder de outras pessoas, nos faz cativos dos sentimentos alheios ou próprios. Tudo, porém, é breve. A chuva de hoje me fez relembrar o que sempre cri e falei, que o Espírito Santo nos convida às coisas leves da alma. Aí talvez resida a plenitude do termo beleza. Agosto, como bom passante, deu-nos as duas coisas. Em um plano, a dureza irrefutável da secura e o ardume da fumaça; num segundo plano, o encanto das floradas dos mais variados ipês e a dança nupcial da brevidade. A qual deles sua alma deu atenção? Setembro chegou e a chuva caiu no seu primeiro dia... Um convite do Espírito Santo para que almas como as nossas se encantem por coisas mais plenas, até porque a chuva nas escrituras é figura de sua pessoa. Mas, que coisas são leves e plenas? Apenas aquelas que respondem à famélica busca do nosso espírito por paz e significado, por isso, simples e humanas coisas, como os beijos, reconciliações, toques e adoração. Essa última sim, certamente o termo que melhor define leveza, porque harmoniza o humano com o divino. Até porque o inverno ainda não acabou...
Paz para você e a gente se encontra pelas chuvaradas que ainda virão...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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