quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Circo de Tereza



A história é antiga, não sei precisar de quanto tempo. Conta-se que três amigos viajavam em um barco junto com outras pessoas. Ocorreu um naufrágio e todos morreram, exceção feita aos três amigos e uma mulher. Foram parar em uma ilha deserta, todos esperançosos, livres da morte, até com certo sentimento de aventura. Assim, os três homens e Tereza, o nome da mulher, aguardavam o seguro resgate. Detalhe: Tereza era dotada de uma feiúra exuberante. Tinha perna manca, olhos vesgos, cabelos espetados... E os três amigos riam e disputavam quem teria o infortúnio de cuidar dela. Porém o tempo passou e diz a história que muitos anos se foram e o resgate não veio. E Tereza foi ficando diferente. Um dia um dos amigos a olhou e não mais viu a exuberante feiúra. E se foram mais alguns dias, e outros mais... Houve até duelos na ilha, pois não havia por lá nenhuma mulher tão bela quanto Tereza. Os três homens se fizeram assim, súditos de uma única rainha.
Vi isso na semana passada. Fui ao circo, esperança de aventura. E minha alma doeu. O cheiro de mofo na lona suja, os palavrões dos palhaços, a pobreza das bancadas, o mau gosto e falta de técnica nas apresentações e, além disso, o semblante cansado daqueles que tentavam fazer aquilo se chamar circo. Porém, quando as poucas luzes se apagaram, houve aplausos e gritos do povo. Perguntei-me: por quê? Tereza era a resposta. A fome do povo por algum tipo de arte, por algo que lhes respondesse essa falta íntima de beleza, os levava a gritar e aplaudir algo tão baixo e elementar, mesmo que fosse manco, vesgo ou áspero. Não pude deixar de pensar na igreja e na adoração. É que o risco Tereza existe também na procura do sagrado. As pessoas convivem com tanta feiúra, escutam tanto que, de repente, algo coxo e míope, de vulgaridade extrema, lhes parece aceitável e, em alguns casos, até apetitoso. A vida de alguns “adoradores” tem sido como aquele circo ou como os três amigos náufragos. Não se iluda, mentiras e horrores, ás vezes se repete tanto, que parecem verdades e belezas.
E minha alma se comove com as palavras eternas das escrituras. Comovo-me e temo, pois sei que meu coração é propenso à vulgaridades e coisas elementares, mas não posso adorar com elas, pois não fazem parte da intimidade de Deus. Então, com temor e amor, esperneio-me no meio da multidão, de boca aberta para uma fome mais exuberante: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos”!
Paz para você e a gente se fala pelos naufrágios da vida!...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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