quinta-feira, 30 de setembro de 2010

UM MERGULHO ÀS AVESSAS


Há alguns dias estou mergulhado às avessas, entretido numa aventura à música do passado. Fui golpeado pela gentileza e pela lisura de algumas dessas canções. A coisa é simples e, como toda sabedoria nasce da simplicidade, encontrei-me levado de volta à vocação primeva da minha alma. E lá estava a cura para a dor de alma, a dor provocada pelo pecado, a esperança do olhar de Cristo, o templo, a rosa vermelha, os anjos... É que em tudo isso, nada é novo, apenas foi dito de modo diferente em tempos diferentes. O surpreendente é que esse mergulho revelou que a procura de lá é a mesma de cá: sou essencialmente aprendiz da oração e da adoração. Eu era assim e sou assim. Essa é minha vocação, as outras coisas são tarefas apena.
A música hoje mudou, como todas as coisas mudam. E se ela é viva como dizem, teria mesmo que mudar. Sou pastor e estou como a maioria das minhas ovelhas, atabalhoado com tantas ocupações, retalhado por tantos compromissos, cobranças, críticas mil... Ah, que tentação em ser só um profissional do púlpito, isso daria muitas respostas e eliminaria quase todas as críticas! Porém, eu quero dizer: Qual é nossa verdadeira vocação? Queria tomar pela mão cada uma das ovelhas desse curral e trazê-las a esse mergulho às avessas, levá-las lá, na adolescência de suas almas, e mostrar que os mesmos anseios daquele tempo são os de hoje. Quero isso, ainda que seja mais difícil e que tome mais tempo do que desejam. As pessoas estão despedaçadas porque desaprenderam a orar, as ovelhas se desgarram porque não compreendem o que é adorar. Despedaçar é verbo perigoso, porque lança as pessoas numa multiplicidade de afazeres e, por isso, se profissionalizam, esquecendo-se de sua vocação primeira. Isso é um jeito sorrateiro de prostituir a própria alma. Desgarrar, também é verbo de grande periculosidade, porque soa como auto- suficiente, forte, empreendedor... E o ser humano é, por vocação primeva, relacional, pobre... Por isso, enfermo e cego sem a adoração.
Assim, foi bom mergulhar no velho rio da música. Parei para escutar o que minha alma pedia desde tantos anos. Como é possível uma súplica ficar dentro de você por décadas, sem que a escute? Tudo muda. Pessoas mudam, ritmos, tecnologias e cantores, evoluem, profissões fazem profissionais. Porém, a súplica é a mesma desde sempre. Simples assim e complexo assim. Tudo ao nosso redor, incluindo nossas ocupações e profissionalismos, é bulha, nada mais. Nossa vocação primeva é orar... Que verbo abrangente! E adorar... Que verbo sublime! Sem isso, seremos mesmo pessoas às avessas, talvez até desgarradas, e algumas, certamente, despedaçadas.

Paz e a gente se encontra pelas músicas que ficaram no passado...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

Um comentário:

  1. Estive escutando Denise (Feliz serás), Saulo (Cristo e eu) Entrei no templo (Ozéias de Paula),Rosa vermelha(Eula), Um povo santo (Mara)e outras de uma adolescência feliz numa igreja feliz. Saudades de todos, daquele tempo e do Pr Francisco Aleixo. O tempo que foi... Foi também generoso, a saudade é prova disso!

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