quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Colcha de retalhos



Lembro de uma delas. Foi nas ensolaradas manhãs da meninice. Dias claros e algumas noites frias. Minha mãe retirou de uma velha sacola pedaços de tecidos de variadas cores, diferentes texturas e diversos tamanhos. A primeira coisa que me encantou foram as cores, depois a paciência de selecionar e recortar e, por último, costurar. Eles foram juntados em diferentes direções, uns seguiam a linha do horizonte como se procurassem novos caminhos, outros eram verticais como se vazassem o tempo, e alguns eram colocados na diagonal como se pudessem quebrar algum padrão. Não sei quanto tempo levou, mas, por fim, ficou pronta. Bela, colorida, extremamente macia e quente para o friozinho da noite.
E o tempo passou. Não sei para onde foi aquela colcha. Sei de outra, dessas que se costura na alma. As palavras são assim. Penso na paciência de Deus separando o tamanho de cada palavra, a forma de dá-la a cada um, os cortes necessários, a textura particular... Tem palavras que são macias, outras, que são ásperas, algumas são pontiagudas. Tem falas que são azuis por sua paz e profundidade, outras são acinzentadas porque contam da tristeza e da descrença, outras são esperançosas, alegres, e tem aquelas que são raivosas, impacientes e as que são mansas e curadoras. Porém, nenhuma é tão particular como aquela que vem de Deus, ela é intensa e alvissareira. É que essa palavra é investigadora e traz com ela um laço de humanidade e amor.
A relação da minha alma com a palavra de Deus é ainda como a tecedura daquela colcha de retalhos. O tempo que passou, de lá até aqui, foi tempo de escolher e costurar, pacientemente, cada pedaço no seu lugar. Surpreendi-me com o novo nascimento, fraturei-me na confissão, andei do vazio para a plenitude pelas linhas da adoração, contristei-me quando me achei nas margens da mediocridade, mas tinha um remendo para isso também, a beleza. Essa colcha é um pedaço pleno de Deus para compor cada pedaço danificado da alma de qualquer um. Ela é costurada pelo Espírito Santo, sem pressa, buscando a cor certa, encaixando cada fragmento no lugar vazio. Um trabalho de paciência e beleza que só ele, o costureiro das almas rotas, podia fazer.
E o melhor disso? O tempo passou e minha alma não está terminada. Ainda é uma colcha onde o costureiro continua colocando retalhos. São fragmentos de cura, de rendição, da imensurável graça... Retalhos de milagres pequenos e grandes, pedaços de paz e perdão, de espaços vazios sarados a cada dia, de buracos deixados para trás... Coisas que não se pode revelar. É assim, imenso assim. Nunca irá terminar essa gostosura de se costurar uma colcha.

Paz e que você tenha um feliz encontro com esse costureiro...

Eliel Eugênio de Morais

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