quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A PRETENSÃO DE SER GENTE





Colorado do Oeste nasceu em meio aos morros. A história nos remete a algumas décadas quando um acampamento se espremia numa clareira e foi germinando, fazendo nascer no meio da floresta, um povo. Foi como um parto em meio à moto serras e cacaios. A cidade brotou empurrando árvores de lei, dizem que aqui era o paraíso dos mognos, cedros e ipês. A colonização veio como uma fervura no meio das nascentes e igarapés, dos morros e riquezas, que duraram pouco, como sua exuberante flora.
Tenho pensado nisso, uma cidade que parece gente, um lugar acidentado, com casas belas para uns poucos abastados e taperas tristes para muitos. Andando, subindo e descendo, pois aqui nunca se está parado, ou se desce ou sobe, isso é agrura para uns e encanto para outros. E foi assim, entre um morro e outro (e muitos encantos), que percebi que essa terra tem cara de gente e forma de alma. É uma figura tão bela, tão veraz, que denuncia a gente que vive aqui e a que vive acolá.
Descer é fácil. Cristo disse que se parece com uma porta larga e muitos querem descer. É uma arapuca posta diante de homens e mulheres, tudo concorre a favor, a idéia, o desejo e o convite. São as coisas que nos levam ao apodrecimento de um pedaço, ou pedaços, que era para ser saudável e que se apresenta com o odor e o sabor de quem desce um morro. Descer parece fácil e, quanto mais se desce, mais fundo se vai, até chafurdar-se de vez no rancor, na dívida, depressão, vícios e tantas outras gangrenas ladeira abaixo.
Porém, subir é custoso. Cristo também disse que é como uma porteira estreita e poucos querem andar na contra mão da ladeira. Construir uma casa no morro é mais complexo, mais caro e mais demorado... Que figura para a alma! É assim, afinal enfrentar nosso caráter nu e permitir que a doçura do Espírito Santo o plasme, é como andar morro acima. É lento, duradouro, é contra a corrente dos que descem, porém, é manter-se vivo e saudável, é construir uma casa sem apodrecer os pedaços que realmente nos dão paz. E tem mais uma coisa: chegar lá em cima pode demorar mais do que chegar lá em baixo, mas lá, o vento corre livre e os cheiros são eternos, os igarapés ainda têm água limpa e o horizonte, diferente lá de baixo, é imenso e convidativo, como bem diz a escritura, “olhando para as coisas lá do alto... Prossigo para a soberana vocação” da minha alma.
Hoje, tem uma placa na entrada da cidade dizendo: “Bem vindos a Colorado do oeste”. Quem a fez, talvez não tenha percebido que essa cidade tem a pretensão de se parecer com gente, se não, acrescentaria uma recomendação valiosa: é melhor subir que descer.

Paz para você e a gente se encontra ladeiras acima de nossa terra...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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