Agosto é o mês do desgosto, tempo do inverno, das queimadas e secura, tempo das flores roxas e do ipê amarelo. Se, para alguns, agosto surge como tempo de desgosto, para mim são dias de encanto e poesia. É que amo o inverno por ser o tempo que mais se parece com as pessoas. Oscila entre a sequidão e a beleza, como nossas almas e nossos corpos, e é breve, como tudo em nós.
Ela tinha treze anos e foi embora no segundo domingo de agosto, bela e macia, fugaz, como o amarelo que encontro em todo lugar. Que partida estúpida, que dor atroz! Porém há, como no contraste do meu querido inverno, uma pétala de sabedoria esvoaçando, machucando o coração dos adultos que não se perdoam e dos adolescentes que não acreditam que o fim pode vir para alguém tão jovem e, dessa maneira, estraçalhar a beleza. Nós, adultos, não podemos conviver com a colheita prematura, pois pensamos que nossa missão é proteger os que ainda crescem. Por outro lado, os adolescentes também se assombram com a possibilidade real do fim, e isso lhes parece cruel.
Então, sob os ventos que cantam as canções da extraordinária fragilidade humana, olhando para ela adormecida, duas flechas do tempo vazaram a minha consciência. Como bem diz a velha escritora, o tempo é uma sucessão ininterrupta de primaveras e verões, outonos e invernos... Ainda bem que o inverno sempre volta! Eu via no rosto, agora eternamente dorminhoco, as flechas desse ciclo que queima e refrigera ao mesmo tempo. De um lado, nós, os adultos, e a sensação impotente de amar. Eu via e pensava – O que se pode pensar diante da morte? E diante de alguém que se vai tão prematuramente? Uma coisa só: quanto perdemos com zangas e rabugices, quanto sopramos vento afora não dando tempo às palavras e beijos!... Sei que todos, numa mescla de medo e alívio, pensavam na própria carne e nos próprios filhos, todos pensavam que não suportariam um inverno tão cruel, uma separação tão abrupta. Não é egoísmo sentir isso, pode até ser sabedoria se enxergamos a questão do que estamos deixando o vento levar. A segunda flecha me falou dos adolescentes e a questão também foi o tempo. Os vi abraçados e partidos pela perda. É cruel ver pessoas jovens sofrerem uma perda relevante. Porém, outra vez aí pode nascer sabedoria. A possibilidade do “breve” deveria fazê-los enxergar que precisam esvaziar suas almas das coisas medíocres que os tem tomado. Não me refiro às conversas triviais, ao riso e aventuras, essas coisas podem ser mais úteis do que muitos querem ver, falo das zoeiras que os tem empanturrado de superficialidades naquilo que nenhuma pessoa pode ser rasa: amor, relacionamentos, arte e Deus. O corpo de treze anos, dormindo para sempre, foi um grito poderoso de sabedoria e dor... E muito amor ao tempo dos adolescentes que a viram. Bem que a escritura diz que a primavera da vida é fugaz!
Por fim, o inverno vai cumprindo seu curso e o mês de agosto está indo embora. Desgosto? Só isso? Não... Veja os ipês, ainda estão floridos... Assim é você e sou eu. Tudo indo sem parar e aí reside a sabedoria de compreender o que disse a menina, deitada e bela, enquanto ia embora sem poder regressar: “vocês, adultos e adolescentes, têm o que não mais tenho”. E Cecília disse que aos treze anos é que a gente sente a vida na ponta dos dedos...
Paz para você e que a gente saiba usar o tempo que ainda nos resta...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Ela tinha treze anos e foi embora no segundo domingo de agosto, bela e macia, fugaz, como o amarelo que encontro em todo lugar. Que partida estúpida, que dor atroz! Porém há, como no contraste do meu querido inverno, uma pétala de sabedoria esvoaçando, machucando o coração dos adultos que não se perdoam e dos adolescentes que não acreditam que o fim pode vir para alguém tão jovem e, dessa maneira, estraçalhar a beleza. Nós, adultos, não podemos conviver com a colheita prematura, pois pensamos que nossa missão é proteger os que ainda crescem. Por outro lado, os adolescentes também se assombram com a possibilidade real do fim, e isso lhes parece cruel.
Então, sob os ventos que cantam as canções da extraordinária fragilidade humana, olhando para ela adormecida, duas flechas do tempo vazaram a minha consciência. Como bem diz a velha escritora, o tempo é uma sucessão ininterrupta de primaveras e verões, outonos e invernos... Ainda bem que o inverno sempre volta! Eu via no rosto, agora eternamente dorminhoco, as flechas desse ciclo que queima e refrigera ao mesmo tempo. De um lado, nós, os adultos, e a sensação impotente de amar. Eu via e pensava – O que se pode pensar diante da morte? E diante de alguém que se vai tão prematuramente? Uma coisa só: quanto perdemos com zangas e rabugices, quanto sopramos vento afora não dando tempo às palavras e beijos!... Sei que todos, numa mescla de medo e alívio, pensavam na própria carne e nos próprios filhos, todos pensavam que não suportariam um inverno tão cruel, uma separação tão abrupta. Não é egoísmo sentir isso, pode até ser sabedoria se enxergamos a questão do que estamos deixando o vento levar. A segunda flecha me falou dos adolescentes e a questão também foi o tempo. Os vi abraçados e partidos pela perda. É cruel ver pessoas jovens sofrerem uma perda relevante. Porém, outra vez aí pode nascer sabedoria. A possibilidade do “breve” deveria fazê-los enxergar que precisam esvaziar suas almas das coisas medíocres que os tem tomado. Não me refiro às conversas triviais, ao riso e aventuras, essas coisas podem ser mais úteis do que muitos querem ver, falo das zoeiras que os tem empanturrado de superficialidades naquilo que nenhuma pessoa pode ser rasa: amor, relacionamentos, arte e Deus. O corpo de treze anos, dormindo para sempre, foi um grito poderoso de sabedoria e dor... E muito amor ao tempo dos adolescentes que a viram. Bem que a escritura diz que a primavera da vida é fugaz!
Por fim, o inverno vai cumprindo seu curso e o mês de agosto está indo embora. Desgosto? Só isso? Não... Veja os ipês, ainda estão floridos... Assim é você e sou eu. Tudo indo sem parar e aí reside a sabedoria de compreender o que disse a menina, deitada e bela, enquanto ia embora sem poder regressar: “vocês, adultos e adolescentes, têm o que não mais tenho”. E Cecília disse que aos treze anos é que a gente sente a vida na ponta dos dedos...
Paz para você e que a gente saiba usar o tempo que ainda nos resta...
Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Nine... Pensei na imagem de um ipê para falar de sua partida, mas essa nuvem indo embora na forma de amor, falou mais de você.Saudades e amor, sempre!
ResponderExcluirSeria simplesmente mais um lindo texto se nao fosse tudo tão real, a dor quando não é só dos outros tem outro valor, ver a dor tão de perto me faz refletir...Quanto tempo tenho perdido!!
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