sexta-feira, 11 de junho de 2010

DEVOLUÇÃO DE UM TEMPO


O outono está indo embora. Suas tardes morosas de sol pálido estão dando lugar ao friozinho despretensioso das noites de inverno. É que as paineiras já exalam seu encanto de cores rosa e as flores roxas se multiplicam pelo campo. Sinal de que o inverno está chegando.
Parece que poucos dias se passaram desde que escrevi sobre o começo da primavera, é que o inverno morria e eu queria que ele ficasse um pouco mais, pois havia sido frio para ser longo, seco para ter alguma dor... Mas foi florido para ser amado, e belo para ser breve. Agora ele volta, é a devolução das floradas que somente acontecem no tempo dele, dias de noites com multidões de estrelas, com alguma paixão para fazer sangrar, um ipê roxo para falar de fugacidade, uma palavra para adorar...
Aí talvez esteja sua maior figura. Tenho o pensamento voltado para um texto do Velho testamento que translitera a idéia da devolução: “Quando o Senhor restaurou a nossa sorte, ficamos com quem sonha”. Nossa alma é assim. A restauração diz que já houve algo salutar antes e que por algum motivo se deteriorou. A volta do inverno expõe isso diante de nossos olhos. Penso nas coisas que mais amo, como por exemplo, a sangria do ipê roxo ou amarelo, a exuberância da paineira cor das rosas ou a simples florada da mangueira, isso são coisas devolvidas, vagarosamente, depois das torrenciais chuvas de verão. Figura de outras coisas, eu bem sei. Sei também que o outono é um aviso de que a mudança já começou. Porém, existe um alerta em meio a tudo isso: a brevidade, marca incontestável do ser humano. O inverno, que tanto quero, será breve. As demais estações seguirão seu curso.
Por aí reside a insondável sabedoria do Eterno. É um tempo de devoluções. Deus nos chama às coisas leves da alma e, se o inverno tem a florada como algo suave e feliz, o que será que é necessário à alma? O texto é breve, então fico numa só palavra: adoração! Então, a coisa leve do ser humano é render-se diante do que não terá fim, é beijar e comer a essência daquele que nos faz andar do vazio para a plenitude, é deixar-nos levar cativos por aquele que venceu nossas feiúras mais íntimas. Então, uma alma devolvida é aquela que achou a adoração por tudo o que Deus é e por tudo o que ela mesma não tem, é o que viu e sabe que falta a si mesma. Isso, por fim, é paz.
Fim de tudo. O outono agoniza, o inverno está às portas, o tempo que mais quero está sendo devolvido. Sei de sua fugacidade, porém amo sua eternidade. Mais que isso, compreendo sua parábola. O inverno é um convite às coisas plenas, não pelo frio que tem, mas pelas flores que ressuscita. E a alma? O que são suas coisas leves e aquelas que não são temporais? Talvez estejam escondidas naquilo que já foi salutar um dia e que hoje corre e espera pela palavra infinita do Velho Testamento: “Quando o Senhor restaurou”... Como foi com a paineira desfolhada por todo o outono e, agora, mostra a exuberância de uma florada cor das rosas.


Paz e a gente se fala pelos tempos devolvidos por Deus...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 11 de junho de 2010.

Um comentário:

  1. Aii que lindo... acho que to precisando ver essa beleza toda... mais Deus é quem me guia e cuida de mim... bjo e olha la meu blog de vez em quando tá...

    ResponderExcluir