terça-feira, 4 de outubro de 2011

A História de um Cinto



A história vem de um livro datado de mais de cinco séculos antes de Cristo. É o livro do profeta Jeremias no Velho Testamento, conhecido pelos abundantes recursos de linguagem da poesia e da prosa hebraica do mundo antigo. Neste episódio, o profeta conta a história de um cinto.
Antes, porém, é preciso entender a simbologia do conto em questão: aliança e serviço. Algo semelhante com o que Jesus diria, séculos depois, sobre o “servo útil e fiel” em contraste com o “inútil” que quebrou o compromisso. É preciso também dilatar a palavra “aliança” e “compromisso”, que pode significar, simplesmente, se ater às palavras proferidas num acordo ou proceder de acordo com o combinado.
É nesse contexto que Deus fala ao profeta sobre a cidade de Jerusalém e lhe diz para sair e comprar um cinto novo, depois deveria levá-lo à beira do Rio Eufrates e escondê-lo nas fendas de uma rocha. Depois de muitos dias, a história não especifica quantos, Jeremias é instruído a voltar e retirar de lá o cinto. Porém ele estava roto e inútil e ele conta isso para Deus. Quanta figura e quanta moral há nesse conto!
A figura é vertical e este é um dos motivos do choro de Jeremias diante da sua Jerusalém. O tempo passou, muitos dias, e o cinto tornou-se podre e sem utilidade. Há que se compreender duas coisas. A primeira, é que o profeta toma o cinto e se apresenta com ele na cidade. Quem viu? Quem se ateve a compreender? A segunda é a explicação desse procedimento dada pelo próprio Deus. Ele disse que assim como o cinto está ligado aos lombos do homem, assim ele se liga a toda a casa do seu povo e com a cidade de Jerusalém. Quis o Senhor que eles fossem seu povo, que tivessem um nome, um louvor e uma glória... Porém, os dias foram tantos que fizeram à aliança daquelas pessoas o que o barro do Eufrates fez com o tecido do cinto: compromisso quebrado e vidas inúteis.
A parábola é viva hoje. Os dias são tantos e as lutas parecem tão tenebrosas que se travestem em argila. É necessário parar e refletir no que está apodrecendo o compromisso e a utilidade de nossa vida e, principalmente, de nossa espiritualidade. Posso citar alguns carunchos irrefutáveis: pecados, surdez, insensibilidade (destes Jerusalém foi acusada). Acrescento alguns apodrecimentos particulares do nosso tempo: fissuras de alma por causa do dinheiro e falta das fissuras necessárias ao amor, tempo de má qualidade, depressão e tantos outros... Os dias vêm, um após o outro, disfarçados de areia, e levam para nunca mais o que poderia ter sido pleno.
O profeta termina essa história com um clamor: “Escutai, e inclinai os vossos ouvidos, não vos ensoberbeçais, pois o Senhor falou”. É outra coisa bem parecida com a mencionada palavra de Jesus Cristo, “servo inútil e infiel”, que não se ateve ao compromisso de suas palavras. Afinal, espiritualidade ou religiosidade, só é mesmo útil se tem o procedimento vivo de mudança de alma. Acrescento só mais uma coisa: a história do cinto de Jeremias é uma figura para nos fazer temer e refletir, compromisso quebrado produz vida inútil.
Paz para você e a gente se encontra pelas figuras das Escrituras sagradas...


Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste - RO

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