sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SOBRE UMA MÚSICA DE PROCISSÃO




O texto se refere a uma música feita para as procissões ao templo e deveria ser cantada na subida dos degraus da entrada. Há quanto tempo foi isso? Aproximadamente vinte e cinco séculos. Quanto tempo? Sorte nossa que a beleza e a verdade não se esvaem com a nossa cronologia. Sua medida de tempo não é a mesma da nossa vida fugaz.
E o compositor, que já se perdeu na ávida cronologia, disse que elevou seus olhos para as montanhas e perguntou: “de onde me virá o socorro”? Eu olho para mim mesmo, tantos séculos após e indo embora na mesma avidez do tempo, e me pergunto: socorrer-me de que? E a resposta se parece com um predador dançando no meu bolso vazio. Compreendo que essa resposta aponta em três direções. A primeira são os outros. Estou envolvido com outras pessoas. E elas também perguntam de onde lhes virá o socorro. É a fascinante, incontestável e machucadora teia dos relacionamentos. São eles que irão nos derrubar ou nos levantar. A segunda direção é dolorosa, mas pode ser também libertadora. Refiro-me à palavra pecado. Que palavra! É que ela é uma enfermidade daquilo que é legitimo, e muitos de nós estamos presos nessa doença pensando que ela é legitima. O problema é que ela, trapaceira que é, tem, independente de seus múltiplos sabores, um salário infalível: a morte da alma. Peado é aquilo que adoeceu uma coisa que era legitima. Veja isso. A cobiça é a doença do ter, o ciúme a putrefação do amor, a prostituição, seja ela física ou abstrata, é a fratura da integridade, o adultério é a corrosão da fidelidade, e tantas outras coisas... Não importa o que diga a sociedade ou as filosofias e ismos pós modernos, a enfermidade do legitimo não é mera escolha, é doença de alma e conduz à morte das coisas plenas: alegria, amor, adoração, convivência humana. A última direção que aponta a pergunta é para mim mesmo. Eu sou incuravelmente imperfeito e incompleto. E são esses pedaços de imperfeição que fazem da pessoa humana alguém tão impar e carente do socorro. E de onde ele virá? Quem me ajudará nas relações penosas, quem me poderá fazer sábio e puro diante da consistente e insistente arapuca do pecado? Quem me poderá conduzir diante dos reais pedaços imperfeitos de mim mesmo?
Aí vem o cântico da procissão nos degraus do templo. O meu socorro vem do senhor! Será possível um Deus que se interessa por essas coisas tão humanas? Pois o cântico ainda acrescenta: não deixará vacilar o teu pé, não serás molestado com o sol do dia e nem com a fadiga de alma na solidão da noite. É uma procura. Custosa, eu sei. Mas venturosa. Navega por onde é mais custoso ao ser humano: alma e corpo. Porém, se quer o que é legitimo, se quer uma alma saudável e um corpo livre, de onde virá o auxilio?
Pense nisso e busque na palavra o caminho que é mais venturoso. O texto é o salmo 121.

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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