sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SOBRE UMA COISA QUE ME CANSA




Ainda não sou velho. Aliás, essa possibilidade me assusta. Porém, estou cansado. O que me cansa não são as horas de trabalho ou as longas semanas de estudo. O trabalho é bom e seu cansaço tem remédio. O estudo é uma doce condenação, uma preciosa fome dessa minha insistente alma incompleta. O meu cansaço vem do som e, para esse, ainda não encontrei paliativos.
Está em todos os cerimoniais, todas as reuniões de família, todos os encontros, sejam eles nos templos ou fora deles, sejam em reuniões religiosas, solenes, informais ou profanas. Ele sempre está lá. O barulho reina absoluto, é governante tirano. Parece-me que as pessoas não podem mais conversar, estar umas com as outras sem serem levadas pelo barulho excessivo. E o que mais fere é a qualidade dessa bulha. É uma apologia à bebedeira, à vulgarização do sexo, da grosseria e, me perdoem a parca palavra, à idiotice. É uma enxurrada de superficialidade e um insulto às nossas almas. Almas? É que no meio da zoeira que me cansa as vejo. Elas estão lá, cada vez mais como descritas há vinte séculos por Jesus de Nazaré: cansadas, aflitas, perdidas, como ovelhas que não tem pastor. Mas, quem vê? A zoeira não nos permite escutar o silêncio do outro. E os ouvidos se esquecem que não existe relação plena que não brote do silêncio e do tempo. Permitam-me uma vez mais. É no tempo e no silêncio que se escreve histórias, e é por isso que nunca se viu tanta gente junta e tantas almas solitárias. E elas teriam histórias para contar, porém, a bulha não se permite a isso. A alma necessita, mas a bulha dá o som, o movimento e, com elas, a relação artificial, aquela que jamais sobreviverá ao tempo. Então, cansada e aflita, a alma vai se alimentar de outra bulha. E mais outra. Depois outra... Até quando?
É isso que me cansa. Repito: isso ocorre dentro e fora dos templos. Acontece em nome das rodadas e dos louvores. Mas é necessário parar. Eu sei que há um encanto despercebido no que é duradouro. Pensemos numa história: um homem velho, profeta de grandes arroubos e feitos extraordinários. Um dia se achou cansado e temeroso. E o que fez? O que fazem as almas cansadas e temerosas? Escondeu-se numa caverna. Achava-se só e próximo da morte. As ameaças contra ele eram reais. Ele era como as pessoas de hoje. Mil e uma cavernas as pessoas criam para se esconder. Esses buracos têm diversos nomes: depressão, vícios, prostituições e zoeiras. Voltando ao velho profeta e seu esconderijo: Deus ordena que saia. Quero que o leitor preste atenção neste fato simples: três coisas grandes aconteceram. A primeira foi um vento miraculoso que rachou as montanhas e despedaçou as rochas. Que barulho espetacular, e Deus não estava nele! A segunda coisa foi um terremoto... E Deus não estava nele. A terceira foi o fogo... E Deus tão pouco estava nele. Simples assim. Deus conhecia a alma atribulada e o medo daquele velho homem. Só depois de todo o barulho aconteceu o silêncio e uma voz calma e suave. Aí estava Deus!
O que é mister esclarecer é o seguinte: em qual silêncio habitava Deus? É preciso entender que o silêncio era necessário ao profeta. O excesso de sons o confundia. Deus é senhor dos sons, dos terremotos, vendavais e fogos... Porém, a alma humana necessita para si mesma de silêncio e tempo. Foi por isso que Deus esperou tudo passar para encontrar o velho homem quando já não existia nenhuma bulha. Não se engane. Deus não é como a maioria de nós que se deixa levar pelos fogos, vendavais e terremotos. Ele conhece o silêncio intimo de cada um. É por isso que depois de toda a zoeira ele vem pela calada da noite com a mesma pergunta de vinte séculos atrás... “Esta noite pedirão a tua alma, e toda essa zoeira, para quem será”? Deus sempre se referirá ao silêncio de sua alma.

Então, a gente se fala pelos silêncios que nossa alma procura!


Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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