terça-feira, 13 de dezembro de 2011






Filosofia de cabeça para baixo
Uma perspectiva do tempo...



Eu olhava o mundo de cabeça de para baixo. Ele me parecia imenso visto daquela maneira, o tempo se insinuava longo, o futuro distante, dias imensuráveis, o fim deles, inimaginável. Eu era um menino com a cabeça enfiada por entre as pernas vendo o mundo às avessas e cogitando uma adultice inatingível.
Lá se vão quatro décadas desde aquela filosofia de menino de cabeça para baixo. O problema é que a adultice não estava tão distante assim, o tempo é coisa mais fugaz do que jamais imaginei. Cá estou, do lado de cá da quimera, adulto e com todas as fadigas que pude arrastar de lá para cá. É preciso que se pense seriamente no tempo para poder usufruir as coisas menos sérias que ele tem... Suas melhores coisas. A vida é bela porque é breve (que contradição!) e é perigosa porque é temporal. O fim faz a vida ser assustadora, mas também é ele, esse fim iminente, que a faz surpreendentemente preciosa. Cada minuto pode ser o último, cada beijo, cada cor, cada página de um livro... Tudo pode ser derradeiro, ou, quem sabe, repetir-se por décadas... Não saber é a questão. Fui às escrituras, conselheira maior, a fim de compreender tal coisa.
Nas palavras do escritor sagrado encontrei a fugacidade e a beleza – Conceito primevo de sabedoria. Dizem que os anjos nos invejam porque a perspectiva do fim faz cada instante ser único e, acrescento por conta das minhas próprias dores, irrepetível. Vêm as escrituras, filosofia do Deus eterno, e diz que antes que os montes nascessem ou que a terra se formasse Deus é de eternidade a eternidade... Conceito para os teólogos digladiarem. E eu, o que sou? Pó que o vento leva, como o dia de ontem que se foi ou como os mistérios da noite. A palavra que me define não para aí, é poética para embelezar e triste para me fazer um pouco menos tolo... É isso o que a brevidade, por fim, deveria nos dizer. Sou como um sono, como a relva que floresce na madrugada e à tarde, murcha e seca... Acabam-se os meus dias como um breve pensamento, tudo rápido como um vôo... E o fim? “Ensina-me a contar os meus dias para que alcance um coração sábio”. É preciso lembrar, esse é o conceito do Deus eterno e não o do menino de cabeça para baixo.
Assim é, eu olhava o mundo às avessas e talvez isso seja mais sábio do que vê-lo agora, adulto e de cabeça direita. A diferença? Valores e a praticidade, já que vivemos num mundo pragmático, de vivenciar cada minuto como se as coisas não tivessem fim. O que realmente valeu a pena nessas quatro décadas? Amar pessoas, conhecer a Deus, fazer as coisas aparentemente menos úteis. As melhores lembranças moram aí. O resto é efêmero. “Louco, esta noite pedirão a tua alma”...


Paz e a gente se fala pelo tempo que ainda nos resta...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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