quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sobre porteiras

O poeta falou dela. Disse que é como estar diante de uma velha porteira. É que a porteira velha, numa estrada antiga, traz a idéia de quem tem sempre alguém para chegar ou alguém para partir. A solidão é ausênsia de relações significativas porque foram embora e ficou o vazio de esperar.
Solidão não é o mesmo que ficar sozinho. Ficar só é namorar a própria alma. Pessoas plenas amam esse tipo de "solidão" porque têm para si confidências de si mesmo. Há que incluir aí a adoração. Todo adorador ama estar só. A solidão anda por um caminho diferente. É sentir-se só mesmo em meio à bulha. É de se ressaltar que a maioria dos solitários anda por entre as gentes, são fartos de vozes, de "tapinhas nas costas", negociações. Estão nas famílias, nas empresas, nos templos, nos amores...
Estar só é uma dádiva. Só pode amar alguém quem conseguiu adentrar os silêncios desse alguém. Nunca se conhece uma pessoa na bulha. é mister navegar por seu silêncio. Deus é assim. Uma coisa é a sonoridade dos nossos cultos, outra bem diferente é o silêncio do Espírito Santo que investiga e se permite investigar por aquele que, profundamente, o queria conhecer.
A solidão é diferente. É dor. É ser consumido pela ausênsia de significados para alguém. Ninguém pode viver assim. A solidão devora o significado que se tem de si mesmo e é porteira aberta á depressão. O poeta disse que ela é amiga das horas. O tempo é longo para quem é solitário, porém, é curto para quem é pleno.
Muita coisa se tem inventado para driblar a solidão: baladas, prostituição, gritos... Bulhas sem fim. Só que ela é jogadora habilidosa e não se deixa driblar ou subornar. Passado tudo, porque todas a bulhas são efêmeras, ela fica, vem dormir na sua cama, está presente na mesa do café, quebra seus óculos, é insistente como visgo, nunca tira férias!
O que fazer com ela? Como tudo o que trafega pela alma, não há resposta fácil. É coisa complexa e paradoxal. Lembra da porteira? É a mais bela figura da solidão. É preciso compreendê-la, deixá-la aberta e lembrar que por ela se vão coisas e, também por ela, chegam outras coisas. Há duas dessas coisas a se considerar. A primeira é que solidão é coisa de gente. E, como tal, se cura com gente. Por isso a porteira se abre a uma estrada longa e antiga: o ser humano, com seus toques e cheiros, mesmo com toda a sua complexidade, é o caminho. A outra coisa é Deus. A solidão é coisa da alma. Por isso o Espírito Santo em sua intimidade pode, como ninguém, adentrar o silêncio obscuro da alma e nela imprimir calor e amor. Como diz o poeta, uma orquídea de fogo e lágrimas pode abrir a porteira da cura da solidão. Essas coisas são antigas como as elhas porteiras. Elas estão lá para mostrar o caminho do bálsamo a quem está doridamente, só!

4 comentários:

  1. Perfeito esse texto!

    primeiro seguidor aki, e ja ansioso por novas postagens... abraço!

    ResponderExcluir
  2. Oi meu pastor querido e poeta favorito...amei a ideia do blog... estou ansiosa por outros textos... bjoooo

    ResponderExcluir