quarta-feira, 8 de julho de 2009

CURICA




É nome de galo. Não do predileto.
Ah, molecada!...
Pedradas no poleiro,
Torcida nas brigas com o preferido.
Curica sempre perdia...
Sofria mesmo do mal da implicância.
Coisas da molecada...
O tempo tudo leva... Até a molecagem?
Pois é!
A terra seria deixada. Tudo era despedida.
Cavalo, porcos, galos...
Bom homem o Curica comprou. Vingança de moleques.
Que alívio. O Curica ia-se embora...
Molecada reunida, última viagem do galo mal querido.
Ajeitados,
Estilingues no pescoço,
Riso na cara,
Curica debaixo do braço...
Fim de tarde,
O sol bonito no campo, o cheiro do araticunzinho,
Guabiroba,
Mamacadela...
Espera impaciente para livrar-se do galo.
Então ele aprontou a ultima das suas...
Na espera, escapou,
Correria pelo cerrado.
O sol pálido,
Verde suave nas sombras do Pau Terra...
O Curica para e a poesia brota de sua garganta.
Seu canto rouco de tristeza cortante.
Molecada parada...
Silencio,
Amarras nas gargantas mudas!
O galo se deixa apanhar, suave,
Conhecedor de seu destino.
O som do seu canto espalhando-se lentamente,
Doendo,
Roubando a implicância de tantos dias...
Molecada calada,
Acariciando o dorso do galo, cada um por vez,
Olhos apertados,
Despedida sem palavras de almas vazadas pela poesia de um canto,
De um galo amado pela primeira vez,
Triste pela primeira vez... Na última vez que o Curica cantou.

Eliel Eugênio de Morais
Inverno de 2004

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