sábado, 11 de julho de 2009

SOBRE MEDIOCRIDADE E PLENITUDE

O feio tem o seu lugar. O principal deles é realçar o belo. O medíocre também. Existe para evidenciar o pleno. Veja a figura do mês de agosto: a poeira e a secura realçam o esplendor da florada do ipê. Assim, o tolo se ofusca para exaltar o sábio, o mau gosto para mostrar como a arte é imensurável e sensível.
Mas... O que é o feio e o medíocre? É tudo o que, em contraste com a plenitude, pode ser mensurado. É tudo o que se repete, incontavelmente, sem poder se transfigurar ou mudar. É tudo o que não exige reflexão, que não nos convida a uma estrada, que não transforma nada dentro da gente porque é estático, nocivo, contamina a liberdade e o sonho, tudo o que, por fim, semeia desconfiança e, sem pudor, escraviza. Mas continua, sempre, indo, devagar...
Seria poético se essa fala permanecesse na figura do ipê. Mas ela tem nomes mais complexos: homem e mulher! De um lado está o medíocre com tudo o que é nocivo, tudo o que contamina a liberdade. Do outro, o que é pleno, livre... E entre eles uma estrada que reivindica ser percorrida, desbravada, procurada.
Não se engane. Tudo o que é feio existe para realçar o vazio que a ausência do belo deixou. O adultério, por exemplo, existe para evidenciar a perda de um amor pleno, o rancor para mostrar a escuridão que a plenitude do perdão não dado causou. E aí vêm coisas sem fim da alma: solidão, depressão, não merecimento e outras. Todas elas são medíocres porque se repetem, dia após dia, noite após noite... Essas coisas não podem se transfigurar porque é a forma diminuta do ser humano. Por isso escravizam e depois abrem uma janela e ficam lá, zombeteiramente, acenando para a plenitude roubada, pisando na alma para mantê-la lá, sempre mais, numa vida vazia e medíocre...
Então, é possível transpor a missão do feio? É possível transfigurar? É que a feiúra tem um tempo que não deveria ultrapassar. Se não, escraviza. Assim, se a mediocridade é real, o que será então da plenitude? Pense, essas coisas ocorrem dentro da gente. Onde está a plenitude para a solidão? O que é o pleno em contraste com o adultério? E o ressentimento? E a semeadura da desconfiança? Nunca, em toda a minha busca pela poesia ou pela filosofia, encontrei palavras tão plenas como essas: “O meu Espírito vos guiará a toda a verdade”. Aí está uma estrada plena. E Ele é mesmo assim... Não pode ser medido, é irrepetivel, transfigura a dor em beleza, exige sempre reflexão, convida a uma estrada de maturação e mudança, é livre, semeia confiança e conduz sempre à autonomia. Mas é preciso lembrar, isso se refere às coisas da alma e não meramente da divagação intelectual. É mudança e é reflexão. Ele espera, quem quer?




Colorado do Oeste, 07 de Janeiro de 2009.

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