sábado, 11 de julho de 2009

SOBRE QUEIJOS E FOME

Sou professor e estou triste. Tenho ouvido os mestres da educação e, por causa de suas falas, começo a encontrar razões para a minha tristeza. Não me refiro às coisas técnicas da educação, como salários, condições de trabalho, cursos de formação, etc... E etc... Essas coisas não são adversários para o habilidoso coração sonhador. Minha descrença é por algo ainda mais sério: o motivo para ensinar.
Outro dia estava num evento de formatura de uma faculdade de letras. Uma professora homenageou a turma citando Rubem Alves e Adélia Prado. Eu mesmo já havia mencionado Paulo Freire, Cecília Meireles, Passet e até Neruda. Que mistura incrível: poesia e escola! Pois é. Na fala da professora, a Adélia Prado não queria o queijo. Queria fome. Rubem Alves vem dizer que o segredo da escola é produzir fome no aluno. O resto ele buscará por conta própria. Ele diz que o professor é um pastor da alegria. Paulo Freire, em sua insondável pedagogia da autonomia, disse também que somos inacabados.
Tudo isso são verdades plenas. Plenas de uma alegria que faz sangrar. Ouço-os, leio-os... Eles estão certos. E a minha tristeza é justamente por concordar com a Adélia e por saber que deveria ser um pastor da alegria. É doído fazer parte de uma verdade que parece cada vez mais inútil. Como é traumático admitir isso! Por quê? É que a sala de aula não se interessa pelo queijo e não quer a fome, nem mesmo respeita o que não conhece, porque se acha farta de tantas outras guloseimas, mesmo que sejam guloseimas inúteis e vulgares. E nelas se acham completos. Evoco o conceito de amor desses mesmos educadores. É que o amor é pobre. Só ama aquele que é pobre do outro. Então, feliz é o estudante que é pobre do saber, que se vê mendigo, ignorante, faminto diante de uma mesa posta. Aí não tem professor e nem aluno, somos todos iguais, incompletos e caçadores. Minha dor é por compreender isso e ver a sala de aula empanturrada. O que fazer com o queijo e com a fome quando as pessoas não querem nem um, nem o outro? Os conceitos desses educadores, que são também meus conceitos, são verdadeiros e belos. Mas, como dá-los a quem não os quer? A maioria esmagadora dos alunos não o quer. Querem sim, a bulha, querem repetir, copiar, querem o genérico, o medíocre, tudo o que não faz pensar e maturar, caminham pela via contraria da autonomia. É como tentar dizer ao alcoólatra que a bebida é amigo ingrato, infiel, conseqüente. Estão apaixonados por uma vulgaridade asquerosa. Como é difícil desapaixonar alguém.
Mas, a tristeza produz esperança... Por fim, o mesmo educador diz que é preciso se entristecer ou des – confiar de algumas coisas, pois daí surge a chance de se encontrar novos rumos. Não sei qual é o novo rumo da escola e isso também faz doer. Ah!... Tem alguns mendigos famintos pelos pátios das nossas escolas. Talvez o rumo novo seja deles. Que Deus os abençoe por serem essas gotas esperneantes no meio desse mar de letargia. Sejam eles professores ou alunos, pois, estudantes, somos todos nós.


Colorado do Oeste, 17 de Dezembro de 2008.

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