sábado, 11 de julho de 2009

SOBRE DOÇURAS E RIQUEZAS


Gosto de uma lembrança singular dos dias longos da meninice. Lembro da terra arada, sendo preparada para o plantio. Quando tudo, a meu ver, estava pronto para a semeadura, começou então o processo de esterruamento da terra. Um grande pedaço de madeira preso por cordas e com tração animal ia varrendo a terra, retirando todos os tocos, raízes e sujeiras que o arado não pôde arrancar.
Essa lembrança singular é hoje de ampla pedagogia. Estou debruçado sobre as imensuráveis palavras do rei, quando ele diz que os preceitos de Deus são mais desejáveis do que o ouro fino e são mais doces do que o mel, mais saborosos do que o gostoso gotejar dos favos. E é mesmo assim. O ouro é uma riqueza diferente dessa pela qual as pessoas têm derramado seus sonhos, suas lágrimas e sangue. É uma riqueza fina, abstrata, e é o que diferencia entre ser feliz ou ser amargurado, entre o livre e o rabugento. Essa palavra é doce, gotejante, perene em sua formosura. Porque nossas almas têm uma estranha vocação para a amargura e ao ranço, parece ser mais apetitosa à rudez do que à gentileza. O que essa palavra faz é devolver uma caminhada inversa, que destila doçura e paz no meio da amargura insana que às vezes nos rodeia. É uma palavra para mudar essa viciosa vocação das nossas almas. Eis o grande milagre dela: luzeiros no meio da escuridão.
Isso se parece com o terreno do plantio. E seria fácil assim, não fosse o esterruamento. É que a palavra do rei continua dizendo que por essa doçura e por essa riqueza, sua alma é admoestada, seus erros expostos como raízes secas, o orgulho como um adversário destemido. Que visão incomum tem o rei. Por causa da doçura e da riqueza, sua alma entra no difícil processo do esterruamento dela mesma. Os tocos e galhadas deixadas para trás não podiam impedir a semeadura.
A lembrança é boa e os dias não são mais tão longos. Sua parábola é, portanto, dorida. Minha alma, como a do rei, é aquela terra. Não posso resistir à doçura e a excelência da semeadura de Deus. É preciso esterruar. Algo grande, com grandeza, é posto sobre a terra do coração. O esterruamento continua sendo necessário. Ainda me lembro do cheiro da terra removida, ainda sei dos pedaços de coivara sendo tirados de lá. Eram pedaços ocultos, eram eles que trariam o vicioso círculo do ranço e da amargura. Agora, tirados da terra num processo lento e paciente e, logo depois, a semente com a chuva da semeadura.



Paz e a gente se encontra pelas terras da vida


Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 08 de julho de 2009

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