sábado, 11 de julho de 2009

A MULHER DE SAMARIA

Devia ser perto do meio dia. Sol escaldante da palestina. E poeira. E solidão na alma de uma mulher! Jesus está sozinho à beira de um poço. A hora não é propicia para se vir buscar água. As mulheres faziam isso na virada da tarde, quando o sol já perdia a agonia do seu calor e o vento soprava uma brisa amena. Elas vinham em turmas, alegres, falantes, uma aparente liberdade e normalidade.
É que havia uma outra mulher. Menos comum, menos livre, menos falante. Não queria ou não podia misturar-se às outras. Era uma adultera. Já fora casada cinco vezes e vivia agora com um homem que não era seu marido. Uma pecadora, talvez até contaminadora do seu povo. Por isso, vinha só, ao sol escaldante do meio dia. Castigo merecido para uma pecadora tão exuberante...
Exuberante mesmo era a alma dessa mulher. Chegou ao poço e encontrou um judeu, também só, sentado, calmo. Ele pede água. Ela se espanta, como só as grandes almas se espantam com o novo. Então, diz a realidade. Ela é mulher samaritana e ele é homem judeu. Como pode pedir-lhe água se judeus e samaritanos são inimigos? E o são, justamente, por causa da religião. Cada povo se acha mais dono da adoração do que o outro. E Jesus, era dono do que? Da imensa sede e da extraordinária fome de paz e adoração que tinha aquela mulher. Por isso fala que se ela soubesse quem é que lhe pedia água, seria ela que lhe pediria e Ele lhe daria da fonte da água da vida. Essa fonte seria em sua alma como uma corrente que jorra para a vida toda.
Que palavras são essas a uma mulher vazia, pecadora? Uma mulher que o sol escaldante do meio dia e a poeira e silêncio do lugar, bem que era uma figura de sua alma. E ela se rende a essas palavras, e diz: dá-me dessa água para que eu não tenha mais sede. Que sábia súplica! E Jesus lhe diz ainda que os verdadeiros adoradores são os que procuram a Deus em espírito e em verdade. E Deus está à caça deles. A mulher se vai e a paisagem daquele encontro nunca mais seria uma figura de sua alma. Toda a solidão e dor, frutos indiscutíveis dos seus grandes erros, tratados agora com humanidade e paixão, ficam para trás. A história irá testemunhar a grande transformação que as palavras e o amor revolucionário de Cristo fez na vida daquela mulher. Jesus disse depois aos discípulos que fazer isso era a comida que ele tinha para comer. E ele segue, caçando vidas exuberantes de fome e sede e plenas do espanto para como o novo. Você é um deles?

Colorado do Oeste, julho de 2008.

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