sábado, 11 de julho de 2009

SETEMBRO


O inverno está morrendo,
E eu viajei à procura dos fazedores de palavras.
Investiguei suas oficinas,
Fui às nascentes delas,
Até encontrei a gestação de algumas.
Fui à bigorna de outras...
Estive no campo daquelas que não são mais úteis,
Aquelas que, de tanto usadas,
Largadas foram...
Outras foram reformadas,
Outra cobertura de cor,
Outro dono,
Morando em outra boca,
Outra função...
E nem assim achei uma só que pudesse explicar.
Explicar o que foi ver a chuva fina de setembro no caminho!
É que havia um caminho,
Estreito,
Chão batido pelos pés dos que passavam,
Pelos pés do menino que não sabia.
O que não sabia?
Que estava assombrado com a beleza.
Então, que palavras,
Ou, que fazedores delas,
Podiam explicar o começo da beleza na chuva fina?
O marejar da poesia nos olhos abertos do menino?
Era só um caminho,
O cheiro de setembro na chuva fina da agonia do inverno.
Foi o cheiro...
O capim meloso, a marmelada, a paineira...
Os incontáveis pássaros a festejar.
Há palavras que podem contar um quadro?
É que o quadro, sem poder mostrar,
Tem o mistério que me fez ir à procura das palavras.
Como poderia eu saber que me surpreendia?
Que a beleza feria?
O quadro não mostrava.
Fui à moradia das palavras... E eu devia saber.
Nada se pode dizer do cheiro de setembro,
Da chuva fina na terra batida do caminho.
Estrada fina?
Talvez aí esteja a primeira palavra de lá,
Que é de cá.
Não há uma, uma só,
De cá, para contar o que foi lá.
Ela só foi possível porque veio, ela mesma,
De outros dias. Idos dias.
E ainda fala daqui.
É que o inverno está morrendo,
E a chuva fina de setembro cai, do quintal, cidade afora.





Setembro, fim do inverno de 2006.

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