quarta-feira, 8 de julho de 2009

sobre jardins e flores

Tenho certa desconfiança por jardins. De alguns, tenho até dó. Eles me parecem desconfortáveis, ajuntados à força, podados, comportados. Todo jardim fechado é assim, de uma beleza plasmada, digna de dó. Se o cronista Rubem Alves está certo ao dizer que o jardim é o retrato da alma de quem o planta, então minha suspeita é mesmo de provocar dor. Os jardins fechados exprimem uma beleza submissa, dependentes dos jatos de água não naturais, adubos fabricados, suas raízes não são autônomas, mas direcionadas. São flores para se ver, não para tocar, não se pode andar entre elas. E são assim porque são a figura das almas que as puseram ali...

Porém, as flores silvestres me encantam. Estão por toda a parte, crescem livres pelo campo ou até num canto qualquer de um muro abandonado. São livres e levam beleza para onde menos se espera. O inverno, tempo de frio e umidade para quase todas as partes do mundo, aqui, no Brasil central, é, especialmente, o tempo da secura e os dias em que essas flores livres enchem os olhos de sonho, de paixão e de esperança. Colorem o campo no tempo menos propício a elas. Elas têm diversos nomes, múltiplas faces, são amarelas, roxas, rosas, alaranjadas, brancas e lilases, uma grande aquarela sem fim. Confio nessas flores. São autônomas, não temem o sol ou a sequidão, não são comportadas, ao contrário, são agrestes, por isso desfrutam de certa soberania e não têm vergonha de enfeitar um lugar desvalido, como por exemplo, um canto qualquer de muro...

Essas também são retratos de almas. Talvez, o retrato por excelência delas. Ninguém nasce para ser jardim fechado, criado para competir, ser podado daqui e dali, ajeitado, domesticado, bebedor de uma irrigação artificial. Ninguém foi feito para essa perfeição externa, porém aprisionada. Deus fez nossa alma para amar a liberdade dentro dela mesma, isso é autonomia. Sem isso ela será um germe esperneante, vivendo das migalhas de uma rebeldia saudável que a todos plasma. Talvez, como a flor silvestre, a alma não seja mesmo tão comportada, tão arrumada, mas, como diz a escritura sagrada “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”. É essa plena verdade que nos faz trilhar o caminho de uma planta agreste, porém, livre. A alma foi dada para ser visitada, para suportar o calor e a secura, para se deslumbrar com a chuvarada no fim do tempo da seca, para ser vizinha dos espinheiros, dos arbustos sem beleza e gostar da brisa no fim da tarde nos cantos de muro esquecidos na solidão das cidades...

Confio na autonomia das flores silvestres. Confio na robustez da liberdade que brota de Cristo. É mesmo assim. Nele, somos flores do campo. Não é perfeito como o jardim fechado, mas é livre e tem a grata experiência de desfrutar, a cada dia, a inigualável gostosura de lidar com cada pedaço de seus defeitos.

Paz e a gente se encontra pelas flores da vida
Eliel Eugênio de Morais
Pastor

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