sábado, 11 de julho de 2009

O RIO DO TEMPO E OS SEGREDOS DO REI



“Quem pode deter o rio da aurora?... Todo o vento foi caindo entre dedos de luz e olhos de sonho”!
São palavras de Pablo Neruda. Elas dão-me duas coisas: pensamento e re-sentimento. Um sentimento bom de degustar algo saboroso ao paladar e que vai se repetindo, repetindo, re-sentindo. Também faz pensar, e pensar é espinho inquietante.
Algo parecido achei nas palavras, também insondáveis, do poeta e Rei Davi. Ele também parecia estar de frente com o rio da aurora... Quem pode detê-lo? É o tempo que vai como a correnteza de um rio, levando tudo o que pensamos eternizar. É claro que o que realmente é eterno, isso o tempo não leva. Mas tenho me posto à margem do rio da aurora e bem que gostaria de detê-lo. A possibilidade da velhice me assusta, a evolutiva caminhada para o fim me faz apegar à ilusão de que os dias ainda serão muitos. Sei que é só ilusão. Neruda viu isso e deu-se a um poema de amor. O Rei Davi também viu a mesma coisa e lembrou de todas as suas provações e fez juras ao todo poderoso.
Então vem o segundo aspecto. Para Neruda todo o vento foi caindo entre dedos de luz e olhos de sonho. Aí está algo que faz tremer o deserto da alma humana. Neruda parece haver encontrado algo que podia ir além da aurora do tempo, afinal, nada pode deter a luz e o sonho. São coisas da alma. Aí saímos do campo da filosofia ou da indagação, e vamos teologizar, que é andar pelos caminhos das relações entre Deus e a alma de todos nós. É essa expressão do íntimo que faz brotar algo eterno. As coisas entre Deus e você não estão à mercê do tempo. O Rei Davi encontrou esse segredo e disse que não entraria mais na tenda onde morava, não subiria ao leito de seu repouso, não daria sono aos seus olhos... Até que encontrasse um lugar para a morada do Deus altíssimo. E onde é essa morada senão a própria alma? Deus mesmo disse que não habita em construções feitas por mãos humanas. O Rei viu e sentiu o que poderia, enfim, suplantar o rio da aurora.
Isso tem acontecido com muitos. Pode até não parecer, mas tem. O tempo está passando para todos e todos nós sucumbimos ao seu curso e suas reivindicações. Porem, alguns tem achado o que vai além, e por isso são plenos, doces, confiantes. Fica uma última pergunta: O que temos para colocar na margem do rio e negociar pela nossa paz e eternidade? Uma última fala: O futuro? Não se preocupe, Davi mostrou o segredo, o caminho é Cristo.


Colorado do Oeste, 16 de Outubro de 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário