sábado, 11 de julho de 2009

SOBRE TEMPLOS E AQUARELAS


Templos sempre me fascinaram. Lembro de uma catedral em Goiás. Bons dias aqueles quando Deus desenhava uma vida diferente em minha alma. Eu ia àquele templo imenso, silencioso, lugar perfeito para pensar e aplicar o coração nos desenhos que Deus fazia. Hoje, tantos anos e senso crítico depois, me pergunto por que aquele ambiente tão convidativo, era tão vazio. Por que será que, lá dentro, eu era a única pessoa que ainda não tinha cabelos brancos?
É que o templo esqueceu a aquarela. Construímos templos e nos esquecemos das cores da alma. Vamos aos templos, mas vamos apressados demais, ocupados demais... Tudo em demasia. E o templo que era para ser apenas um meio de colorir pessoas e descobrir o que realmente Deus quer e o que de fato importa para o ser humano, transformou-se num fim em si. Ir ao templo deveria ser como levar uma tela branca ao pintor. Quanto tempo ele levará para desenhar? Qual critério usará na distribuição das cores? O templo não deveria nunca nos engessar e nós nunca deveríamos engessar o artista dessa aquarela.
A pressa e o desespero pós moderno nos tem feito dizer ao pintor o que queremos. E essa fala tem sido enfadonha e inerte. Jesus questiona isso ao perguntar: “Louco, o que tens reservado para quem será”? Essa fala é inerte por que o templo não engessa a Deus, não faz dele um gerente que administra desejos. Ele é o pintor das nossas almas e conhece a cor que falta em cada pedaço, em cada intimidade descolorada, cada recanto corrompido pelo tempo e pela dor. Ao entrar no templo deveríamos nos lembrar de que ainda somos gente, que ainda buscamos uma completude, que somos caçadores de significados relevantes, e que não somos feitos de loucuras, de superficialidades e rotulagens mil. Jesus pergunta para onde irá nos levar toda essa loucura...
O templo é então uma aquarela. Quem sabe um lugar de desfazer loucuras ou uma oficina de quebrar gessos... Essa mesma engessadura torpe, oriunda de uma ideologia enganadora, que nos faz acreditar que somos escravos da pressa, da ocupação, da preocupação... E os cantos da tela continuam descoloridos, sozinhos, à mercê do tempo.
E o tempo passou. A lembrança daquela catedral ainda me faz bem. Quero que o templo de hoje seja assim, um lugar para demorar, conhecer desenhos, manusear cores. E a alma de hoje? Quero que seja como aquela, só procurante, adoradora, aprendiz, nada mais.



Paz e a gente se encontra nas palavras da vida!

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

Colorado do Oeste, 23 de Abril de 2009.

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