sábado, 11 de julho de 2009

PERFUME PRECIOSO

Em foco uma mulher. Maria é seu nome. O texto refere-se a um encontro muito peculiar: uma quebradura de caráter que envolvia toda a estrutura daquela mulher. É que ela teve outros encontros com Jesus. E, cada um deles traçou, na sua personalidade, um sulco profundo.
O primeiro momento dela com Jesus foi quando se encantou por suas palavras. Já dizia o poeta Pablo Neruda que a palavra é armadilha poderosa. Deus, no Velho Testamento, diz que armou uma arapuca para capturar o ser humano. Uma arapuca feita de cordas humanas e laços de amor. A mais poderosa dessas arapucas, é, sem dúvida, a palavra. Maria experimentou isso. Ouviu a palavra de Cristo e isso foi dentro dela como uma corrente de água viva, abrindo-lhe o prisma da beleza e da novidade de vida. E é isso o que a palavra de Cristo é hoje. É uma armadilha humana, pronta a capturar a alma cansada, aflita, procurante. É ela capaz de abrir uma porta ao novo e ao viver pleno.
O segundo momento dessa mulher com Jesus é dramático. Ela o encontra em meio á dor de uma perda pela morte. E não esconde sua dor. Deixa fluir de seu coração a dúvida e a tristeza. Fala sem rodeios do que rondava a intimidade de sua alma: dor e dúvida. Mas, encantadoramente, permite-se à cura pela presença e pela voz daquele a quem tanto amava. Aí está uma grande lição no que diz respeito a uma vida plena. Confissão e permissão. Confissão da dúvida e da tristeza. E permissão, que é abertura à presença e voz de Deus. Uma cura exuberante causada pela arapuca que Deus, há muito estabelecera, aquela feita de cordas humanas e laços de amor, amarradas pelo calor da sua voz e presença. O livro dos Salmos fala que essa voz é como o calor do sol, vai de uma extremidade dos céus à outra e nada escapa a seu calor. Nem mesmo suas dúvidas mais íntimas ou suas tristezas mais atrozes ou aquelas mais disfarçadas.
E chega o momento do perfume. O terceiro encontro dessa Maria com Jesus. É um encontro de cheiros. Gratidão encharcava sua alma. Havia uma festa com muitas pessoas presentes, e, entre eles, Jesus. Maria entra no recinto e quebra um vaso pleno de um perfume precioso e valioso e todo o ambiente é afetado por aquela fragrância imensurável. Alguns criticam, farisaicamente, por causa do valor monetário do que continha aquele frasco. E Jesus fala da essência daquele gesto. É que gratidão e adoração andam de mãos dadas. É que adorar e beijar percorre a mesma trilha da plenitude, são gêmeas e significa aceitação, quebradura. Adorar é quebrar-se, aceitar, como quem beija, o perfume que flui do outro. É por isso que Jesus fala que o coração quebrado diante dele é como um perfume precioso, inigualável, visto que percorreu o caminho da arapuca da palavra, da exuberância da confissão e da permissão. Lembre-se, quebrar-se diante de Deus tem, depois de tudo isso, um cheiro precioso.

Colorado do Oeste, Julho/08.

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