sábado, 11 de julho de 2009

SAUDADE


Desejo as palavras de uma poesia simples,
Contar que existe uma ilusão...
Nem é preciso recorrer ao talento minucioso das palavras.
A ilusão nasceu,
Há nuvens encantadas, mudando paradoxalmente, o azul...
São elas que lembram.
Então,
Deixo os olhos, defraudados, a fitá-las...
Chega-me o pensamento,
E assim, conheço a pungência da saudade,
Presença do que foi!
A recordação é complacente, humana,
Aceita o suborno dos olhos que lembra.
Desejo a poesia para falar que o medo é germe habilidoso.
Eu não queria a sedução do azul,
Por que é habilidoso para insinuar esperança,
Caprichoso suborno.
Ainda assim era belo... Eis a armadilha.
Um rosto atravessou o pensamento,
Desenhou,
Dançou,
Riu.
Por isso desejei a esperança,
Agarrei-me a ela,
Desmanchei-me no encanto do azul...
O cenário das armadilhas.
A poesia veio em palavras, como madrigais iniciantes,
E falaram de uma pessoa. Poesia é sempre assim.
Hoje vejo o cenário.
Ainda é azul,
E eu ainda conheço a existência irônica do medo.
Ele nunca se vai,
Mas é bebido pela esperança – Vitória da poesia?
Coisas inefáveis.
Quero a prisão encantada dos belos olhos,
Quero o suborno do rosto,
Do riso,
Deixar fluir o que era puro segredo.
A poesia deu-me o talento da esperança.
Por isso paro a escrever...
O texto vai se formando devagar,
No silêncio,
Buscando palavras sedutoras,
Compondo o pensamento do poeta.
Palavras são imagens.
Do quê?
Do cenário,
Do riso e dos olhos,
Da mudez da voz e da nudez da alma...
Formando o suborno,
Compondo a defraudação,
Criando,
Como o madrigal iniciante...
Expressando ao poeta a saudade de uma pessoa.



Chuvaradas de março, em 1985

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