sábado, 11 de julho de 2009

SOBRE FORÇA E ESPERTEZA


“Muita gente é forte demais para ser usada por um Deus forte. Ou muito ladina. Mas, não é preciso ser ladino quando se tem razão. Nem forte”.
Irmão André
São palavras memoráveis do fundador de um grande projeto: a mundialmente conhecida “Missão Portas Abertas”, que trabalha nas regiões onde o cristianismo sofre restrições políticas e religiosas. É uma fala que abre o ponto de maior contradição humana: orgulho e amor. Talvez essa seja a porta humana mais difícil de se quebrar. Dentro dessa perspectiva podemos tomar o episódio de Jesus e Zaqueu no Novo testamento. Dentre tantas coisas, pensemos o seguinte.
Zaqueu era ladino. Característica de gente intelectualmente fina, astuta, manhosa. É o espertalhão que não mede trapaças intelectuais para levar vantagens. Seu crime não é exposto, é costurado nas brechas das leis ou dos acordos nunca assinados. Assim era Zaqueu. O problema é que essas vantagens lançam as almas num poço de falta de significados. O ladino perde a capacidade de confiar e de viver uma intimidade real de paz e paixão. Perde-se na bulha e se escorrega por confianças forjadas e paixões artificiais. Quando passa a bulha, a solidão é insuportável, por isso vive escravo de uma necessidade de estar sempre rodeado de sons e gente, ainda que saibam, todos eles, que todos são ladinos e, por isso mesmo, também vazios.
Isso ocorria com Zaqueu. Enriqueceu-se com a esperteza de driblar as regras e a moral dos outros. Era ladino. Porém, um dia, ouviu algo que mudou sua trajetória. Esse homem desfrutava de má reputação, era acusado de surrupiar a coisa pública, de viver em berço de ouro por causa da sua capacidade de deslizar-se, como bem diz o rondoniense, como um “bagre ensaboado”, e assim, usufruir das relações que mantinha com os poderosos. Foi assim... Até o dia em que se achou vazio e perdido e permitiu-se às palavras de Jesus. Ao fazer isso encontrou uma outra fonte de vida. Entendeu a loucura de sua esperteza e a inutilidade dos seus dribles. Recebeu Jesus em sua casa com gostosura. Aliás, uma gostosura que até então lhe era desconhecida. E devolveu o que roubou, prova incontestável que o “bagre” não era tão ensaboado assim. Devolveu e ganhou o que antes não conhecia: plenitude!
Por fim... Não é mesmo necessário ser ladino para encontrar-se a si mesmo e a paz. Ah, paz... Onde ela está? Nem é preciso ser forte. É que essas coisas andam por outras estradas e se parecem com a luz. A luz não vem do braço, nem a plenitude das artimanhas. São coisas peculiares à palavra de Deus. Fora dela, todo ladino morrerá na sua mediocridade e todo forte perecerá na solidão do seu próprio braço quando suas bulhas passarem.


Paz e a gente se fala!
Eliel Eugênio de Morais
Pastor
Colorado do Oeste, 06 de novembro de 2008.

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