sábado, 11 de julho de 2009

O INVERNO, QUEIMADAS E FLORES


O livro dos cânticos de amor de Salomão faz uma alusão ao começo da primavera. Lá, é o fim do inverno, o tempo de cantar as aves e de surgirem as flores na terra. E o meu pensamento faz a viagem contrária e translitera a fala de Salomão, buscando dela o inverno que morria, mas que é devido à terra de cá, visto que também é tempo de surgirem as flores por aqui...
Simples assim. É que o outono passou e o inverno chegou de mansinho para partilhar de seu curso, que é pequeno, como pequenas são todas as estações. Mas, é dele, o inverno, as mais belas noites do ano, o céu salpicado de milhões de estrelas, o frio íntimo que vem com essas mesmas estrelas e que fica até o nascer do sol no dia seguinte. É seco, com ventanias e muitas árvores desfolhadas... Parece contraditório o seu curso, mas este texto aponta mesmo é para a estação da alma, que acha no inverno uma figura de si.
É assim que chegam as flores. Paradoxalmente (coisa de alma), aqui em nossa terra, é, o inverno, o tempo das mais belas flores. Essas que nascem livres no campo e na mata fechada. Imensas árvores ou arbustos rasteiros são cobertos de cachos de cores e sensibilidade, como um convite à reflexão, quase uma agressão de beleza no meio da secura, uma súplica para que voltemos os nossos olhos e as nossas paixões às coisas menos exauridas da vida.
Essa palavra nos remete ao primeiro século da era cristã. Jesus olhou os lírios do campo da Palestina e suplicou aos discípulos que olhassem para lá. Era um convite a uma mudança de atitude naquilo que procuravam. Eles eram caçadores de milagres, de mudança política talvez, quem sabe até de crescimento, visto que alguns disputavam posição ao lado de Cristo. E a súplica de Jesus foi para que mudassem a direção de seus olhos. E é o que faz este texto. A florada do inverno é essa mesma súplica. Desvie a ideologia de seu olhar exausto, ressentido, desfigurado, como o campo nas queimadas de inverno, e olhe as floradas. Tem o ipê, as quaresmeiras, as sucupiras... Elas não teceram nenhum enfeite, não fabricaram cores, porém Deus as vestiu de glória e significados, deu-lhes um grito que ecoa pelos quatro ventos: esperança!
Lá, no começo do primeiro século, Jesus encerrou sua fala com lírios dizendo que o Pai conhece todas as carências de seu povo, por isso o convite à mudança de foco na caça de suas almas. Este texto, sem os lírios, encerra-se aqui, recorrendo às flores do inverno para suplicar que a direção que Jesus mostrou lá seja amada e procurada aqui. A alma humana pode mesmo ir na secura e na desfiguração das queimadas peculiares ao inverno, mas pode também sarar, mudar e libertar-se nessa mesma parábola de flores e encantos.

Paz e a gente se encontra pelas parábolas da vida



Colorado do Oeste, 01 de julho de 2009

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