sábado, 11 de julho de 2009

DÉBORA


Eu vinha pela estrada,
Era mês de junho...
A sequidão do inverno já se fazia sentir no campo do cerrado.
Então vi a surpresa,
O susto da beleza em cachos amarelos,
Surpreendendo os olhos de quem ia...
Um ipê florindo,
Abrindo janelas,
Assustando...
Antes de agosto?
Então lembrei outra sequidão!...
Era um ipê ou era você?
Continuo esse caminho,
E até hoje não sei se o encanto estava nos meus olhos ou nos teus...
Nos teus olhos?
É que os meus não têm essa cor infinita do mar
Quando se encontra com a areia,
Num canto qualquer de praia...
Em um desses cantos que os olhos quase não mais alcançam,
Não sei se azuis ou cinzas,
Não sei se cores ou enigmas de sustos e beleza,
Surpresas,
Suaves e macias...
Como compreender um ipê amarelando o cerrado no começo da sequidão de junho?
É o mesmo que interpretar a cor do mar perdendo-se num canto de praia,
Ao longe...
Como uma música!
É talvez como o poeta disse,
O amor anda pelas trilhas das músicas indecifráveis,
De dádivas de um Deus capaz de dá-las como se dão os grandes milagres...
De dor,
Susto,
E amor...
São teus olhos que vieram com a cor do mar,
Teu hálito...
Ah, que hálito!
Como a cascata amarela do prematuro ipê,
Tua maciez como a música que parece nunca chegar...
Porque sempre estará chegando,
Entrando por minhas janelas abertas,
Confidenciando,
Revelando sempre o calor de uma melodia que nunca termina de chegar.
Você chegará sempre,
Sempre será o ipê encantando meu cansado coração,
Será sempre os olhos
Mais misteriosos que já amei,
Como o fim do mar num canto de praia...
Será sempre uma música chegando,
Como uma porta aberta,
Um corpo entrando,
E aninhando-se no sono doce dos meus braços,
Teu cheiro e paz: Débora!



Julho de 2002

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