sábado, 11 de julho de 2009

RIALINO


Menino também sofre do mal da implicância.
Pois que, Rialino,
O homem Rialino,
Certamente nunca soube da implicância que se passou naquele canto de cerrado.
Homem feio,
Dizem que desprovido dos elementos básicos da beleza:
Sem harmonia,
Pele escamada pelo sol,
E, por ironia do cerrado,
Olhos bondosos.
Pois que, Rialino,
Virou nome de galo.
Um galo adolescente,
Despenado,
Manchas vermelhas na pele tostada pelo sol.
E a implicância veio pela feiúra.
Primeiro, o nome: Rialino.
Nenhuma parábola transliteraria melhor a intenção do nome.
Depois, vieram as pedradas,
A intolerância...
Tudo por uma feiúra incontestável.
Pois, um dia,
O tempo passando,
O sol nascendo e se pondo na poesia efervescente do cerrado,
Foi que o Rialino viu-se galo.
Emplumado, colorido...
Apanhado pelo menino que, o por do sol não mudara tanto,
Pois que, o tempo passa mais depressa para os galos,
Foi que o menino viu os olhos doces do descompensado galo.
Mudança no por do sol, alma partida pelo remorso.
E o Rialino pôde, enfim, andar pelo terreiro,
Preferido,
Adorado...
Uma alma de menino buscando recompensar os dias da vil perseguição.
E, até hoje,
Tantas maturações após,
Não se pode saber se foram as idas e vindas do sol,
Ou se foram os olhos inocentes do galo,
Que mudaram o coração do menino.
Mas foi assim que Rialino se fez com o nome de galo.

Julho, inverno de 2007.

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