sábado, 11 de julho de 2009

SOBRE UMA MANHÃ DE CHUVA

Escutei uma fala. Uma amiga me escreveu sugerindo que eu fizesse um texto sobre uma manhã de chuva. E ela mesma apresentou essa chuva. Ela caia no quintal de sua casa, calma, como respingos da voz de Deus falando-lhe de comunhão. Pensei na velha canção do Paulo Cezar: ...”E bem cedinho, de manhã, saber que as misericórdias do Senhor se renovaram”...
É isso. Os dias são maus. Quase todas as famílias sofrem de alguma fratura, quase todas as pessoas estão atarefadas, quase todos os sonhos estão endividados, quase todos os amores, partidos... Sofremos do mal da implicância, da desconfiança, da letargia interna, da preguiça de sonhar, de aprender... E a minha amiga pede que eu escreva uma crônica contando de uma manhã de chuva calma e contar das coisas suaves... Ela disse que ouvia o gungunar de sua pequena filha enquanto escrevia.
Hoje é quarta feira, é de manhã, e chove em Colorado do Oeste. Estou chegando de uma semana de férias... “E as lembranças não terão preço”. É verdade que está quase todo mundo atarefado, é verdade ainda que talvez eu tenha que desistir de um curso que muito quero, só por causa de finanças, é verdade que... São tantas verdades cruéis. Porém, saiba que é verdade também, que hoje se faz uma manhã de chuva e eu vim ao templo ouvindo uma canção menos antiga que a do Paulo Cezar: “Lembra, te tomei em meus braços, te aceitei como estavas...” O amor não está partido. Amo intimamente ao meu Deus, minha família, amigos. O Espírito Santo, como a chuva fina, tem levado de mim e de tantos outros, o mal da implicância, lançou para lá da nascente das águas, a desconfiança, a reclamação atroz, o mau humor. Aprendi a confiar, acordei para as coisas da alma. Quebrou-se a letargia do sonho e do aprendizado, fiz-me discípulo da verdade plena e exuberante do relacionamento com Deus e com o ser humano. A chuva dessa manhã é como o relacionamento. É que ele está acima dos dogmas, das regras e de tudo aquilo que, institucionalmente ou ideologicamente, pensamos ser importante.
Minha amiga tem razão. O coração precisa das coisas simples. Escutar a voz de Deus numa manhã de chuva, escrever uma carta, ouvir o som da fala de uma criança que ainda não sabe pronunciar palavra alguma, lembrar uma canção, tirar alguns dias de férias. Os dias estão aí, rotulados, e irão passar de qualquer maneira, envelheceremos de um ou de outro modo. Então, escute o pedido de uma amiga distante: “fale da suavidade da chuva, da voz de Deus dentro do coração, de coisas suaves e simples, de amores inteiros, de quanta beleza pode haver em um só dia”. É, e acrescento só uma coisa: isso realmente faz toda a diferença.



Colorado do Oeste, 25 de Fevereiro de 2009.

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