sábado, 11 de julho de 2009

A MULHER ADÚLTERA

Uma mulher é levada diante de Jesus Cristo. Culpada e, pior, apanhada em culpa. Qual é sua culpa? A de ser consumida por um desejo do próprio corpo. Aquilo que os estudiosos da religião chamariam de desejo da própria carne. Isso não deveria nos impressionar, visto que o “desejo” tem consumido a carne de muitos de nós. Como assim? É que, como no caso daquela mulher, muitos têm sido apanhados na arapuca do próprio desejo. É que, também é uma verdade contundente: falar das coisas de Deus ou de uma pretensa vida com Deus, sem levar em conta as coisas do corpo e do desejo, é puro farisaísmo, ou, no mínimo, discursar uma religião efêmera, hipócrita e, por isso mesmo, vazia.
Deus visa o ser humano como um todo. Em nenhum momento na bíblia vemos Jesus referindo-se às pessoas sem levar em consideração sua história de vida. É por isso que o caminho que Jesus aponta chama-se de “caminho estreito”. É porque envolve o ser humano com todas as suas complexas e fantásticas expressões humanas. Veja o caso daquela mulher. Repete-se: culpada e apanhada em culpa. Jesus não entra na palavra de condenação dos religiosos daquele dia, mas dá à mulher uma palavra capaz de dilacerar seu passado, seu presente e seu futuro: “Vá e não peques mais”. Aí está a grande diferença de Cristo para os religiosos de plantão. Ele falava a uma pessoa acostumada à prática do adultério, uma mulher que tinha no corpo as marcas dos seus delírios físicos, emocionais e espirituais. Não lhe seria simples levantar-se dali e “nunca mais pecar”. Jesus lhe apontava um novo estilo de vida. Mais pleno, mais simples, mais feliz, menos escuro e solitário. Sua palavra levava em consideração o desejo e a trajetória de um corpo adúltero, porém, vazio, perdido. E propunha mudança real. Por isso o caminho é estreito. Porque perfaz a trilha do desejo, da solidão e todas as fraturas emocionais e espirituais que o pecado produz, daquele que tem culpa e que foi apanhado nela.
“Vá e não peques mais” é uma porta que se abre ao novo. É uma proposta e uma nova atitude. É claro que para aquela mulher não seria fácil levantar-se dali e nunca mais adulterar. Mas ela sabia, a partir daquele momento, que adulterar não era sua única possibilidade de vida. É isso o que Cristo diz aos religiosos de hoje e a você que ouve esta reflexão. Mas lembre-se, isso inclui tudo. Uma nova perspectiva de encarar a vida. Sem os traumas emocionais e as fraturas espirituais que a culpa produz. Ah, e tem a questão do corpo, dos sentimentos. A palavra de Cristo inclui tudo isso. Por isso a porta é estreita. É que Deus sabe que não é fácil levantar-se e mudar. Por isso também o evangelho é apresentado como um caminho a percorrer. Reflita nessas coisas.

Colorado do Oeste, Julho/08

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