sábado, 11 de julho de 2009

PARÁBOLA DOS GIRASSÓIS

Foi no fim de uma tarde de domingo. Eu regressava de uma viagem cansativa à nossa recém criada igreja indígena. Muitos problemas e chateações. Eu vinha cansado, irritado, mesmo desanimado. Foi quando a estrada se abriu a uma plantação de girassóis. Foi um impacto de beleza e cheiros. As crianças gritaram no banco traseiro do carro e eu parei. Abrimos as portas e eu andei para dentro daquele mar, que não sabia se amarelo ou laranja. As crianças corriam e festejavam. Eu fiquei parado, comendo devagar os cheiros que vinham dos girassóis, quantas borboletas e abelhas, quanta beleza passageira, dançava ali.
Foi quando o Espírito Santo sussurrou em meus ouvidos: “E você só tem tido olhos para o que é difícil, só tem escutado o que é feridor, só tem dado tempo para as coisas ruins”... Aquele lugar e aqueles girassóis eram uma parábola do que Deus tinha a me dizer. E falou ainda mais: “Não vê que é assim o ministério que lhe dei? Por que escolher viver e falar do cansaço, da raiva e dos problemas, por mais reais que sejam, se tenho lhe dado uma outra perspectiva, a da beleza, a esperança e o amor?” Chorei suavemente diante daquelas flores. Minha esposa sorriu e as crianças colheram algumas e vieram festejando seus troféus pelo resto da viagem.
Uma das coisas imprescindíveis que Deus nos deu naquele jardim dos girassóis foi a chance de demorar-se na presença dele e saber que a vida e a relação com ele e com os que amamos é uma via de duas mãos. Por isso a grande importância de não colocarmos os pés na via contraria, fazendo assim o percurso inverso e batalhando contra si mesmo por coisas inúteis e velharias que já foram superadas.
É um a questão de amor em primeiro lugar. Cecília Meireles disse que gostaria de recuperar os dias lentos do tempo. Deus quer recuperar isso em nós, principalmente no que se refere à oração. A viagem dos girassóis é uma figura disso. Passei por lá poucos meses depois, e o tempo deles já se foi. Seu campo virou plantação de soja. O tempo vai, e como nos enganamos com as plantações exteriores, aquelas que nos fazem pensar que somos ricos, visionários e até... Felizes, ou como eu naquela viagem, achando que era cansativo demais, custoso demais... Coisas de príncipe que, de repente, começa viver de saparias. Mas teve o beijo da princesa, que é um ato de amor. Os girassóis foram o beijo de amor para me acordar. Então, o fim é, como e o que significa demorar-se na presença de Deus? É uma reconstrução interna. O que é não ir pela contramão da vida humana e de Deus? O que é não batalhar contra si mesmo em coisas inúteis e quinquilharias que já deviam ter sido superadas? Auto-estima? É mais que isso, anda para a relação com Deus, namora a sabedoria e plasma-se na adoração. Essas coisas estão na categoria peculiar dos filhos de Deus e dos príncipes de sua grandeza.

Colorado do Oeste, 30 de Outubro de 2008.

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