sábado, 11 de julho de 2009

SOBRE CORUJAS E PESSOAS

O tempo se vai. Lembro dos dias de menino na beira do Rio dos Bois lá pelo interior de Goiás. É lá, pelo campo do cerrado, que vivia a coruja e ela sempre me intrigou. Ave solitária, dizem que seus olhos pouco vêem, que ela é muito mais sensitiva do que visual. Talvez por isso seja usada como um símbolo de gente sabida, de gente que pedagogia. Ela gosta das noites, é predadora e é solitária.
Hoje, tantos dias depois me vêm a palavra de Deus e fala que a alma de muitas pessoas se parece com a coruja. O poeta do salmo bíblico se compara a ela. É a palavra de uma pessoa aflita; porém, deve ter sido de um aflito feliz. É que ele derramou seu lamento diante de Deus. Ele fala: “Ah, Deus, escuta a minha oração, permita que meu clamor chegue diante de ti, não se esconda de mim no dia da minha angustia, inclina para mim os teus ouvidos, escuta-me depressa por que os meus dias desvanecem como a fumaça, o meu coração está ferido como a erva seca na terra... Sou semelhante à coruja do deserto, como uma coruja entre as ruínas”.
E foi mesmo a palavra de um aflito feliz. Veja só, é que o tempo se vai mesmo como a fumaça... Lá se foram os dias das corujas do cerrado de Goiás. Porém, a minha alma ficou e, essa sim, avançou, cresceu, maturou. O mesmo ocorre com o poeta bíblico. E o tempo, com todas as suas fadigas, trouxe-lhe a necessidade de orar... (aí está uma das grandes dádivas do tempo) pedir que Deus se inclinasse para prestar atenção na sua história, depressa. Ele teve a percepção da coruja, de que sua vida ia-se tão depressa como a fumaça no vento, que a alegria se desfazia tão veloz como a erva seca na terra. Sábia percepção, feliz foi este aflito que ao olhar para a solidão da coruja, viu-se a si mesmo e pôde interpretar sua própria trajetória. Aí encontrou a oração!
E você? Duvida que Deus parou para prestar atenção às suas palavras? Então, como o poeta do salmo, tenha pressa. Mas lembre-se, pressa de chegar diante de Deus, mas não tenha pressa para sair, até por que a demora diante de Deus é uma das grandes venturas da oração. Talvez seja por isso que a coruja é tão sensitiva e tão pouco visual. É preciso perceber mais do que se vê.
Colorado do Oeste, 20 de Agosto de 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário