sábado, 11 de julho de 2009

SOBRE CERRAS E ÁRVORES


SOBRE CERRAS E ÁRVORES

Eram duas. Imensas, não sei por quanto tempo estavam lá. Já as conheci enormes. Muitas vezes andei debaixo de suas sombras na hora do morrer do dia. Também me deliciei com seus frutos. Mas, na visão de alguém, estavam no lugar errado. Não importava quanta sombra ou frutos, quantas crianças vieram ou ainda viriam, furtivamente ou abertamente, brincar ou comer, usufruir... Elas estavam no lugar errado. Uma cerca era a ordem do dia. O excesso de sombra poderia enferrujar o metal da cerca. Então, a cerra fez o seu trabalho. Não se envergonhou do que era diante delas e, sem nenhum respeito, nem mesmo ao tempo delas, em minutos, lançou seus destroços ao chão.
O que é dorido nisso? A beleza! A incapacidade de se permitir machucar pela beleza. Como as pessoas podem se colocar diante de algo belo e não perceberem? A história dessas duas árvores, excessivamente sombreadas, bem que é uma figura de outros aspectos que também não são percebidos. Há, escondida na alma da gente, uma cerra que não suporta a sombra e decepa a copa da árvore que não é compreendida, deixando o coração exposto ao causticante sol e à uma paisagem desprovida de encanto. Por exemplo, o pai que pensa poder trocar o contato físico com o filho em nome do dever dando-lhe uma internet mais veloz ou o game de última geração. É como ir até as minhas vizinhas árvores e não ter olhos para a beleza e acreditar que o coração irá se alimentar de cercas. O tema se amplia aí. Quanta coisa temos ingerido das enxurradas de livros de auto-estima, a maioria embasada por uma ideologia hedonista norte americana completamente despida da realidade brasileira, e que, em nome disso, passamos a cerra em conceitos tão relevantes e verdadeiramente terapêuticos, coisas como a doçura da palavra de Deus. Só para citar: perdão, mudança, adoração... E tantos outros!
É que não ver essas coisas é como ter no coração um porta cerra. A beleza, que é viver em amor, não dando ás coisas e aos acontecimentos maior valor que às pessoas, parece, de repente, ser coisa de gente vencida. Aí, retiramos a cerra e cortamos elos, perdemos relações, achamos a solidão de uma vida pragmática. E vem o sol escaldante e as fadigas do seu calor e parecem, surpreendemente, à cegueira do coração cerrador, ser melhor que a sombra. A nossa alma, já dizia o velho profeta, é trapaceira e parece mesmo gostar de se permitir a esses enganos. Porém, a beleza está diante de nós!


Paz e a gente se fala nas sombras restantes!

Eliel Eugênio de Morais
Pastor



Colorado do Oeste, 06 de novembro de 2008.

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