sábado, 11 de julho de 2009

A MANGA



Tarde calma,
O sol morrendo pra lá da terra arada, cor de laranja...
Deve que o vento veio do infinito,
Mas para mim,
Veio da mangabeira,
Começou ali mesmo,
Passou sibilando pelo velho abacateiro,
Balançou as bananeiras, não tão velhas,
E atingiu a galhada da mangueira...
Três mangueiras sem idade!
Houve grande reboliço na folharada.
Corri ao vento,
Sem camisa, o ar bravo contra o rosto,
Olhava o fuaçá na galhada...
Era ela o primeiro tesouro que vi naquela terra, Na terra que cheguei, sem nada dela saber!
Então ouvi o som,
A vi despencar, enorme,
Amarela,
O baque surdo no chão...
Corri vibrante com o precioso achado.
Ao inclinar-me e quase tocá-la, senti mãos tocando-me, Empurrão de menino...
Tombo de menino...
O tesouro passou sob meus dedos e foi aninhar-se em outras mãos.
Choro poético,
Choro abundante!
O sol continuava laranja, devia ser verão,
O vento insistia nas carícias,
E lágrimas grossas...
Voltou a manga, partida,
Metade dela ao meu olfato e paladar.
Gosto adocicado e inigualável, cheiro de poesia perdida, Lágrimas misturadas com a cara amarela, Lambuzada.
A lágrima queria um poema,
A boca, o sabor!
Lágrima amarela correndo queixo afora...
Tentativas de consolo?
Como consolar um vazio na alma de menino?
Como curar a ferida sem causa?
Era cheiro então de poesia nascente,
De uma manga amarela, lambuzada na boca...
Dela brotava a percepção da poesia?
Não pude saber.
Não posso saber.
Tola que era, a manga nunca soube.
Então por que seu cheiro ainda é presente e seu sabor ainda fere?
A poesia sempre será um paradoxo de sabor e dor?
O que doeu naquele fim de tarde?
Um sol de laranja,
O vento que começou na mangabeira,
Lágrimas de não sei o que... Poesia germinando.
Se não é,
Então por que tão triste é lembrar aquele começo de terra arada?
Ah, e tem o sabor lambuzado de amarelo, O cheiro eterno dela madura!
E tem o fim de tarde num sol cor de laranja...


Inverno - 2004

Nenhum comentário:

Postar um comentário