sábado, 11 de julho de 2009

ENTRE A FERIDA E O IPÊ

Outra vez me achei procurando falas antigas. É que as palavras têm o dom de esconder significados nos repartimentos ocultos da alma. Um desses repartimentos é a adoração. Poucas vezes me deparei com uma palavra tão contundente, ela se parece com aquela de que fala Jesus ao referir-se ao homem negociador de pérolas. Esse homem encontrou algo tão significativo que foi, vendeu tudo o que tinha, trocou uma imensurável quantidade de coisas por uma só que lhe deu plenitude. Encontrou uma coisa diante da qual sua alma se dobraria para o resto de seus dias.
O que as palavras podem dizer? E o que elas não podem dizer? Por vezes contam do ipê, porque podem descrever o amarelo amaciando de beleza o chão cansado. Aí, aprofundam e contam da lágrima do poeta extasiado, ferido pelo encanto... E por que não contam a razão da ferida? É possível às palavras não saberem o que ocorreu entre o amarelo e alma? É possível que exista aí uma ausência que encanta, que fere, mas que também enche de plenitude, visto que a palavra nasce da ausência? Isso é algo para pensar e compreender, pois aí pode estar um dos grandes portões para se achar a Deus e amar o Espírito Santo. É mesmo como o negociante de pérolas, que achou uma coisa, algo que lhe faltava, e que valeu por todas as outras coisas. O singular que sobrepuja a multiplicidade. É daí que as palavras transbordam.
Talvez, a crônica e a poesia reconheçam que elas nunca serão suficientes para dizer o que ocorreu entre o pão e o vinho, se nem da alma do poeta diante do amarelo elas puderam... Por que minha alma o ama? É que existe uma distancia inefável (muda?) entre o templo, os ritos do culto, os gestos... É a minha alma procurando silenciosamente não se enganar porque ela sabe o que deseja: a pérola de grande valor. O que as palavras podem dizer do que ocorreu na minha alma? Foi amor? É mais que isso, porque não é só conceito, é a pobreza de quem achou sua riqueza. Lembre-se, a palavra se faz daquilo que lhe falta, por isso o poeta sagrado diz que de boas palavras transbordavam sua alma.
Então, caminhante é o meu sentido, sempre... Perdido na ausência, porém, achado na presença. Aqui, peço permissão à literatura para dizer que não é necessário tirar as dobraduras do texto. É que o mistério desse achado é por demais doce e prazeroso. Não deve mesmo ser explicado, as palavras já se renderam a isso. Achei o que está entre o ipê e a ferida, o que se esconde entre o templo e adoração, o que está dançando, movendo-se de vida e beleza entre o pão e o vinho... É minha alma parada, admirada, pobre... E, caminhante, mendiga se faz. E eu? Eu, poeta, achado na presença dele, quebrado, mas não fraturado, de alma inclinada, servo e nada mais.



Colorado do Oeste, 15 de Abril de 2009.

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