quarta-feira, 12 de agosto de 2009

FIGURAS


Algumas coisas, com aparência de pequenas, se tornam amplas pelo poder que têm de continuar ferindo, no mesmo lugar, por dias ou anos. Não me refiro a uma ferida nociva, mas àquela saudável, de pura beleza, que produz uma chaga salutar, que apaga antigos e recentes pecados, descontentamentos e rabugices. São palavras que dão movimentos a uma dança que acontece dentro da alma.
Uma dessas figuras vem de encontro à realidade brutal da escuridão, que às vezes não sei se é minha, se dos que estão à minha volta ou se pertence às espigas maduras de terras longínquas. É a tatuagem de uma noite de trevas e nela há um farol. E o farol aponta direções. Essa primeira figura trata das intimidades das almas que se acham perturbadas e amedrontadas no meio da escuridão. E tem outra figura, e essa revira os nossos relacionamentos, tanto os humanos quanto aqueles que nos conduzem à adoração, visto que são inseparáveis. É como se existisse um rio de águas turvas a nos separar. E eu sou a ponte. É o serviço da reconciliação. Às vezes sou ponte, outras, estou sobre ela sendo reconciliado com Deus e com aqueles a quem, de um modo ou de outro, feri. Um terceiro momento lembra um deserto. Este é um lugar de gente só e perdida. Talvez, a solidão e o sentimento de desmerecimento, sejam a dores mais presentes nos corações hodiernos. E essa figura diz que sou como o abrigo no deserto. Repito: não sei se acolho mais do que eu mesmo preciso ser acolhido. O abrigo é uma necessidade para qualquer pessoa que atravessa o deserto. E ele é feito de pessoas para abrigar outras pessoas que estão perdidas e solitárias no caminho. E vem a última figura desse texto, a que diz que sou uma flecha. Flechas são pessoas ou o que brota delas, bem sei. Essa, do texto, é aquela que acerta o alvo. Permita-me dizer outra vez: não sei quando é que minha palavra é uma flecha ou quando minha alma é o alvo certo para a palavra de outro. Por isso, admito essas figuras no que faço e no que fazem comigo.
Parecem coisas pequenas, as figuras, porém são amplas. E continuam dilatando. Afinal, quem nunca se achou temeroso no meio da noite? Quem não se viu partido de alguém ou por alguém, separados num rio turbulento? Quem ainda não se achou num deserto, mordido pela solidão e perdido? E eu ainda tenho o paradoxo de ser um farol que dá direção, a ponte que reconcilia, um abrigo no deserto, uma flecha certeira... E ainda assim, ser eu mesmo a caça de tudo isso. Às vezes, perdido, de repente só, desafeto, desabrigado. Sou um e sou o outro. E você, qual dessas figuras tem a tatuagem de sua alma?

Paz e a gente se fala pelas figuras da alma...

Eliel Eugênio de Morais
Pastor

Colorado do Oeste, 12 de Agosto de 2009.

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